sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Mudanças e Permanências para 2016...




Que os caminhos venham ao teu encontro.

Que o vento sempre sopre às tuas costas e que a chuva caia suavemente sobre os campos que estás a cultivar.

Que Deus te sustente suavemente na palma de sua mão.
Que você possa viver todo o tempo que quiseres e que sempre consigas viver com plenitude e dignidade na tua jornada.

Que você saiba virar a página daquelas situações e momentos que te entristeceram, mas que nunca te falte clareza para identificar e perceber as situações e momentos que te alegraram ao longo da tua existência.

Que você tenha o necessário discernimento para identificar os amigos que se revelaram falsos. Porém, jamais te esqueças daqueles que permaneceram contigo nos momentos onde mais necessitavas.

Que você tenha a capacidade para deixar de lado os problemas que já passaram, mas que não te falte a clareza para agradecer a todas as bênçãos que a cada dia recebes.

Que o dia mais triste do teu futuro não seja o pior dia mais feliz do teu passado.

Que o teto nunca caia sobre ti e que os amigos verdadeiros nunca necessitem partir.

Que sempre tenhas palavras cálidas em um anoitecer frio, uma lua cheia em uma noite escura, caminhos que se abram à tua porta.

Que você seja capaz de viver tanto quanto sonhar... Com um ano a mais para te arrepender ou te reconciliar com alguém que tenha te magoado ou que você tenha ferido ou machucado. 

Que o Senhor te guarde em sua mão e te acolha com carinho.

Que teus vizinhos saibam te respeitar.

Que os problemas te abandonem, os anjos te protejam e o céu te acolha na sua infinita imensidão.

Que as bênçãos te acompanhem todos os dias da tua existência.

Que o teu coração esteja leve e livre para seguir o sonho de um mundo melhor... Mais justo, fraterno, cheio de valores e verdades que o tempo não apaga.

Que a bondade te acompanhe e que a cada dia, a cada noite, você tenha muros contra os ventos que soprarem. Um teto para te servir de abrigo das chuvas. Um sorriso capaz de animar e consolar.

Que os teus dias sejam plenos de realizações e alegrias ao lado daqueles que te são especiais e que amas.

Que o teu coração se preencha com todos os sonhos de paz, amor e justiça que tanto desejas.

Que você seja capaz de ver os filhos dos teus filhos.

Que o infortúnio seja breve e te faça rico de lições e ensinamentos para que possas ser uma pessoa mais justa e verdadeira.

Que você não conheça nada além da felicidade neste ano vindouro.

Que Deus te conceda muitos anos de vida.

Que você saiba caminhar pelas veredas da justiça, do entendimento, do amor e da paz, a cada dia, a cada hora e a cada minuto para SEMPRE, neste novo ano de 2016.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

HUMANIDADE DESUMANA

Vivemos um tempo de extraordinário desenvolvimento das ciências e das tecnologias. É possível vislumbrar a fragmentação do conhecimento em incontáveis direções. Os benefícios advindos da pesquisa e dos experimentos são analisados, em grande medida, como sendo um indicativo para a força motriz do progresso. Por outro lado, esta realidade também acaba aniquilando as diretrizes culturais que permitem a coexistência, a comunicação e a solidariedade.

Ocorre uma separação dos seres humanos em grupos culturais condicionados pela linguagem, por determinados códigos de conduta e pela noção de um conhecimento particular. Ao que parece, a ciência e a tecnologia não tem conseguido desempenhar um papel unificador em torno da noção de cultura.

Cada indivíduo que, em algum momento de sua vida, já tenha se deparado com a leitura inebriante de clássicos como, por exemplo, Shakespeare, Vitor Hugo, Dostoiévski, Goethe ou Fernando Pessoa, é capaz de assimilar com maior desenvoltura que as pessoas sentem-se comprometidas solidariamente quando capazes de exercitar a essência da partilha, independentemente de sua posição social, situação financeira, religião ou período histórico.

Nada nos protege melhor da estupidez do preconceito, do racismo, da xenofobia, do sectarismo religioso ou do anacronismo político, do que esta verdade recorrente na grande literatura: todos são iguais. As diferenças étnicas, sociais, politicas, religiosas e culturais constituem-se como sendo a maior riqueza do legado humano e, estimá-las como manifestação da multiforme criatividade humana, continua sendo o maior desafio da contemporaneidade.

Receio que ainda seja preciso aprender o que somos e como somos em nossa humanidade, com nossas ações, sonhos e adversidades. Tanto no espaço público como na privacidade de nossas consciências. A ciência não pode perder-se em si mesma. O conhecimento gerar insensatez. A tecnologia sufocar a busca pela equidade. É preciso preservar uma visão integradora e fraterna neste mundo tão machucado pela mentira, pelo “faz de conta”, pela incapacidade das pessoas exercitarem a bondade e a gratidão.

É inadmissível que uma sociedade tão perspicaz em evocar suas prerrogativas jurídicas quando algum de seus direitos patrimoniais é questionado, possa valer-se de mecanismos reacionários para subverter os valores que ela própria instituiu. Uma sociedade que, todos os dias, hierarquiza os seres humanos valendo-se, sobretudo, de indicadores econômicos, religiosos e culturais.

Esta realidade é bastante conhecida. Europeus, na idade média, não tiveram problemas em equiparar os indígenas a animais, dizimando-os. Qualificaram também os africanos como bárbaros ou primitivos, escravizando-os. Na tentativa de legitimar toda a sorte de segregação às mulheres, diversos concílios discutiram se elas teriam ou não uma alma.

Para algumas religiões, aqueles que professam a sua fé são filhos, os demais, meras criaturas de Deus. Ora, se não são filhos de Deus, se não possuem filiação e proteção divinas, caso recusem a fé, são hostilizados e tidos como inferiores. Por vezes esta inferioridade é tamanha que as suas existências ofendem os “sagrados corações religiosos”, que reagem com torturas, perseguições, aniquilações. Basta lembrar o período das cruzadas, a inquisição, o nazismo com o extermínio de judeus, o fundamentalismo triunfalista da Al Qaeda ou do Estado Islâmico.

É a desumanização que consolida o genocídio, tanto no passado como no presente. É fácil perceber as incongruências históricas no desrespeito aos direitos fundamentais para uma convivência pacífica e harmoniosa. No entanto, é lamentável e absurdo não enxergar as mazelas e os dilemas do nosso tempo.

Hoje, a passividade com que vemos a segregação dos negros, a discriminação dos pobres, o desprezo aos imigrantes, a demonização dos infratores, a subjugação das mulheres, a estigmatização dos homossexuais, o desrespeito às comunidades indígenas e a perseguição às religiões de matriz africana, condena-nos a todos.

Aquele que se conforma com a injustiça sempre será, na minha modesta opinião, tão ou até mais injusto do que aquele que a pratica. Somos coautores da miséria moral em um tempo onde e comoção é subjugada pelo pragmatismo, pela racionalidade exacerbada, pela indiferença em nome de uma suposta “paz de espirito”.

Parafraseando Francisco Azevedo, somos “criadores de nós mesmos, inventamos e reinventamos sem trégua, diariamente. A cada experiência, boa ou má, nasce outro eu de nossa própria autoria. Por instinto e vocação, todos nos concebemos, nos rascunhamos, nos passamos a limpo e nos apresentamos em público na versão que julgamos menos falha ou mais convincente”.

Tropeçamos na hipocrisia de uma civilização que consolida todos os dias uma religiosidade difusa e um fanatismo sádico. Uma política não inclusiva e um capitalismo obscuro a quem não pretende ostentar as discrepâncias de uma sociedade acostumada com os subterfúgios avessos à coletividade. Somos a consciência que renegamos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

“Novas” Igrejas e “Novos” Pastores


Se, de um lado, as mudanças decorrentes do processo de secularização geraram uma crise nas instituições religiosas tradicionais e, por conseguinte, em seus líderes, de outro lado, essa crise foi agravada devido às mudanças ocorridas no campo religioso brasileiro. Tais mudanças estão relacionadas com o aparecimento dos novos movimentos religiosos, que entraram numa acirrada concorrência com as instituições tradicionais pela produção e distribuição de bens simbólicos. Entre os novos movimentos religiosos, estão as Igrejas neopentecostais, que, surgidas nos últimos tempos do século XX, são o “principal fator de desestabilização do campo religioso protestante no Brasil”.

À frente desses grupos estão líderes portadores de um novo perfil pastoral.

Entre eles é possível encontrar o animador de auditório, o pastor-cantor, o especialista em estratégias de marketing e de comunicação social, o tele-pastor, o pregador que cura, exorciza e pede dinheiro, sem qualquer pudor. A ação ágil desse novo tipo de pastor se torna um desafio para os pastores protestantes tradicionais, que percebem que as fronteiras, as demandas e até o treinamento recebido no Seminário para o exercício de sua profissão, estão em turbulência, se movem e rapidamente se tornam inoperantes.

Nessas Igrejas, quase sempre, há duas categorias de pastores: os nomeados e os consagrados. Os nomeados são pastores auxiliares, os quais, como o próprio nome indica, auxiliam os pastores mais experientes nas atividades. Para que um pastor nomeado se torne consagrado, é necessário que ele seja casado e se revele um bom arrecadador de dízimos e ofertas, já que essa aptidão, para a liderança, é um sinal inequívoco de que seu ministério está ‘abençoado’ por Deus.

O trabalho de um pastor consagrado dentro da igreja consiste em acompanhar os fiéis, celebrar os cultos e realizar todas as atividades de um templo.  Coordenar a equipe de pastores auxiliares e obreiros. Além disso, ele deve atuar no palco-altar como ator, pregar, curar, atender pessoas no local de culto, estar à disposição do setor de publicidade da Igreja, liderar o público durante o culto, distribuir os sacramentos, contar as ofertas, elaborar mapas de freqüência, relatórios financeiros, assim como outras tarefas orientadas pelo ‘pastor regional’ ou bispo.

É importante lembrar que nestas Igrejas ocorrem de quatro a cinco cultos diários, o que implica dizer que os pastores têm um ritmo alucinante de trabalho. Porém, há uma atividade que os pastores quase não realizam: assistir às famílias enlutadas. Uma explicação é a de que estas novas denominações religiosas encarnam o comportamento típico da sociedade urbana e industrial, na qual ocorreu um esvaziamento da morte.
Quanto à formação teológica os pastores praticamente não a possuem, por uma razão muito simples e prática: Além do dinheiro e do tempo “desperdiçados” durante os estudos teológicos, essa formação poderia provocar a diminuição do zelo e do fervor, distanciando-os das necessidades imediatas dos fiéis.

É no dia a dia que o pastor assimila, não somente um universo simbólico, mas sobre tudo as melhores técnicas de como trabalhar em público. Recebe, portanto, um preparo prático no próprio palco das celebrações. É ali, junto a outro pastor e, sob a sua orientação, que ele aprende coisas essenciais como dar um bom conselho, realizar milagres e fazer exorcismos.

O culto assemelha-se a um teatro de arena, no qual o pastor é o ator principal, que tem o seu desempenho avaliado com base na sua produtividade. É isso que distingue o pastor de sucesso. Assim, quanto mais arrecadar, mais milagres realizar, mais fiéis adentrarem no seu templo, mais ele terá condições de ser promovido na hierarquia eclesiástica. Portanto, seu desempenho na área financeira será determinante para que ele obtenha uma série de vantagens, como, por exemplo, acesso a programas de rádio, aparições na TV e, principalmente, nomeação para templos maiores, com salários maiores.

O uso da mídia, principalmente a TV, é fator determinante para o sucesso de uma instituição religiosa. O pastor tradicional fica limitado ao trabalho em sua comunidade local, quando muito nos arredores da igreja. O pastor ligado as “novas” Igrejas tem na mídia a principal forma de expandir as suas fronteiras religiosas.

O fiel torna-se um peregrino ou turista religioso, tornando o tradicional acompanhamento pastoral uma missão quase impossível. O pastor de outrora, tão dependente do antigo modelo, fica perplexo diante da instabilidade dos fiéis, principalmente dos jovens, que buscam em igrejas com música gospel ou no rock evangélico uma forma de socialização no contexto de uma cultura moderna.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O Exercício do Poder e o Valor do Caráter

Lembro-me bem da afirmação de um professor em sala de aula nos tempos de faculdade: ‘Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder e dinheiro’. Célebre constatação para a nossa sociedade, tão carente de valores e verdades. Onde a justiça é jogada no lixo. A honestidade interpretada como se fosse bobagem. O caráter como algo retrógrado.

Já faz tempo que tenho percebido a postura e as atitudes de algumas pessoas quando recebem a oportunidade de exercer qualquer tipo de poder. Mais do que o caráter, entendo que se pode conhecer a identidade de cada indivíduo, verdadeiramente, observando a forma como ele lida com o poder que lhe é confiado. Não é raro perceber a pessoa se mostrando insensata, mesquinha, mentirosa e até cruel quando assume um papel de relevância em alguma instituição.

Receio que os mais competentes e generosos sejam aqueles que sabem o quanto o poder é efêmero e transitório. Por isso, preocupam-se com os demais e buscam alcançar sabedoria e o discernimento para a sua jornada. Exercitam a humildade. Entendem os valores da coletividade. São pessoas leais, justas e honestas. Não se deixam ofuscar pelo brilho que o poder ou o dinheiro é capaz de trazer. Primam pelo bem comum.

Por outro lado, pessoas medíocres, e que infelizmente, tem se multiplicado com certa fartura, apegam-se ao poder, ao status, ao dinheiro como se estes fossem eternos. São pessoas que não hesitam em tripudiar com os mais humildes. Mostram uma coisa e fazem bem outra. Não conseguem exercitar a coerência. Jamais serão exemplos a serem seguidos.

Quem não teve a possibilidade de conviver com determinadas pessoas bastante afinadas com esta descrição nas empresas, órgãos públicos, escolas, igrejas? Numa hora mostrando-se pacíficas, alegres e até bondosas e, em dado momento, se transformando em tiranas e inflexíveis? O poder subindo à cabeça e invadindo a alma. Todas as frustrações e os complexos de inferioridade acumulados por não ter méritos para um protagonismo de primeiro plano, de repente, irrompem sob a forma da prepotência, da arbitrariedade, dos maus tratos.

É muito revoltante observar gente que pregou a socialização do poder, as direções coletivas, a construção de consensos pela via das discussões democráticas, que estufava o peito criticando a violência verbal, a ofensa, de repente, vê o poder cair no seu colo e  revela falta de caráter e de princípios. Renega tudo o que defendia. Vive o encanto de se tornar déspota.

Tem ainda aquelas pessoas que quando alcançam o poder, a austeridade material ou a fama, botam pra fora o que de pior carregavam consigo. Tornam-se monstros. Passam a acreditar que o poder é uma espécie de salvo conduto para fazer aquilo que for conveniente, a torto e a direito, contra tudo e contra todos. Não conseguem conviver com pessoas que lhes possam fazer alguma sombra. Tem complexo de inferioridade. Acreditam que os outros não lhes reconhecem os méritos. Não pensam duas vezes quando podem prejudicar o semelhante para garantir um determinado status quo.

Interessante que os indivíduos que possuem uma visão instrumental do poder, acabam se desesperando quando confrontados com pessoas que o alcançaram através do esforço, da dedicação, do carisma, da legitimidade moral, da capacidade intelectual. Não conseguem aceitar que sejam pessoas que não se dobram diante de ameaças, diante dos decretos, das arbitrariedades.

A visão instrumental do poder não permite conviver com as diferenças. Qualquer divergência vai logo se desdobrando em rupturas. Surgem os decretos, as punições, as exigências. Não existe preocupação com a coesão e a liberdade. São pessoas medíocres, mas com uma ânsia incontida para ter a última palavra. Sendo inseguros, precisam de adulação, de elogios. Por isso, escolhem aqueles que possam cercá-los e colocá-los em algum lugar de destaque ou evidência.

Não sabem argumentar, não conseguem justificar as decisões absurdas que vão tomando. Vivem numa redoma junto dos que dependem deles. Fogem da discussão, da confrontação, dos argumentos. Tentam reduzir tudo a supostas normas, estatutos, ameaças. São medíocres idiotizados por algum ativismo esdrúxulo. Não agem com transparência, pois vivem escondendo suas intenções.

Pensam que dominam tudo. Vivem num mundo vazio e são engolidos pela sua mediocridade. Todos os dias pulam no abismo. Vivem na mentira. Não sabem o valor da partilha, do amor, da solidariedade.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Mundo em Crise


Observamos atônitos aos múltiplos exemplos que diariamente são veiculados na mídia e que nos remetem a situações de violência, sobretudo pela dependência às drogas e pela falta de valores e limites em nossas famílias e no âmbito das instituições educacionais.

Ainda que o assunto mais comentado do momento seja a crise financeira global, é imprescindível avaliar como as crianças, os adolescentes e os jovens, tem exercitado a sua rebeldia em relação aos adultos, professores e colegas.

A contestação é intrínseca à personalidade juvenil. No entanto, a resolução dos problemas com chutes, socos e pontapés, sinaliza que o fundamento do amor, do carinho, da atenção e do exemplo dos pais não tem prosperado. Aos educadores resta o desafio de juntar os cacos. Pouco valorizados e emocionalmente fragilizados, são os heróis de uma causa que a cada dia congrega menos adeptos.

Para serem respeitados e reconhecidos na sua autoridade, será preciso que os pais e educadores mudem as regras do jogo. Junto com o afeto, a responsabilidade e a coerência. Ao lado do diálogo, o carinho e a segurança.

Enquanto observamos a derrocada de muitas convicções familiares, temos na outra ponta, o deprimente e absurdo espetáculo dos escândalos públicos. E, infelizmente, com o sentimento de impunidade que acaba por referendar a agressividade e a alienação constantes.

Podemos continuar ignorando esta trágica realidade ou vislumbrar ações que permitam criar uma nova consciência. A responsabilidade solidária com o próximo é premissa cidadã, mas também compromisso universal.
                                                                            

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

RELIGIÃO E POLÍTICA


Em diferentes sociedades e culturas, ao longo dos tempos, a religião tem deixado marcas. E não se trata apenas de uma religião específica. De modo geral, diferentes religiões marcam diversas áreas e dimensões da vida humana, muito além do estritamente espiritual. Exemplos disso são formas de cultivo da terra, a forma arquitetônica de prédios ou mesmo no exercício do poder político.


Evidentemente, nos séculos mais recentes, buscou-se certa superação da influência da religião sobre a vida humana. Com o advento da ciência e do uso proeminente da razão, compreensões religiosas passaram a ser vistas com menosprezo.


Inúmeros cientistas, por mais que criticassem expressões religiosas, reconheceram a sua influência na vida social. Hoje, sabe-se que determinada forma de expressão religiosa pode servir tanto para manter um povo pacificamente oprimido quanto para fomentar transformações profundas numa sociedade. Isso evidencia que, apesar de tudo, o fenômeno religioso não ficou sem valia e nem tende a desaparecer. Pelo contrário, manifesta-se com bastante vigor, mesmo em sociedades que se proclamam cientificamente mais avançadas. Sua influência em processos eleitorais não pode ser desconsiderada.


Em nosso País, apesar de haver uma apregoada liberdade de fé, de religião, de igreja, de escolha, de consciência, em momentos eleitorais, diferentes grupos políticos buscam “arrebanhar” os votos de grupos religiosos – mesmo que a afinidade inexista. Por outro lado, também ocorrem corporativismos religiosos, ou mesmo eclesiais, buscando eleger representantes de seu segmento.

Fato é que em nossa sociedade instituições religiosas históricas ainda mantém uma auréola ética de defesa da vida. Inconsequente é alguém professar uma fé ética e votas em alguém aético. O resultado dessa relação entre religião e eleições tem deixado marcas arquitetônicas nefastas em todas as dimensões sociais.


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Educação para a Vida


Na compreensão do sociólogo Émile Durkheim, o que nos permite viver em sociedade é o fato de estarmos intimamente ligados a um paradoxo onde somos iguais e diferentes ao mesmo tempo. O fator preponderante para sermos desta forma é a educação. Esta se concretiza enquanto processo social.

Cabe salientar, portanto, que a construção do ser social corresponde a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento – que acabarão balizando a conduta do indivíduo num grupo. O ser humano, mais do que formador da sociedade, é um produto dela. Esta teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo.

Acredito que os conteúdos da educação são independentes das vontades individuais. São as normas e os valores desenvolvidos por uma sociedade ou grupo social em determinados momentos históricos, que adquirem certa generalidade e, com isso, uma natureza própria. Neste sentido, a criança só poderá conhecer aquilo que lhe compete através de seus pais e professores. É preciso que estes sejam para ela a personificação do dever, do imperativo que terão que assimilar. Assim, é preciso que a autoridade moral seja a qualidade fundamental do educador. Esta autoridade não é violenta, mas se alicerça num sentido moral profissional. 

Ser livre não consiste em fazer aquilo que se tem vontade, mas em se ser dono de si próprio, em saber agir segundo a razão e cumprir com os seus deveres. Significa aprender a agir como a sociedade moralmente espera. Ao socializar-se, o indivíduo aprende a ser membro da sociedade e também a ocupar o seu devido lugar dentro da mesma. Desta forma estará preservando a sociedade. 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Cooperação Entre as Religiões do Mundo


Todas as crenças religiosas, apesar de suas diferenças filosóficas, têm um objetivo semelhante: enfatizar o aperfeiçoamento do ser humano, o amor, o respeito pelos outros e a necessidade de partilhar o sofrimento alheio. Dentro dessa perspectiva a maioria das religiões acaba tendo o mesmo ponto de vista e o mesmo propósito.

Embora em todas as religiões haja uma ênfase na compaixão e no amor, do ponto de vista teológico, existem diferenças dogmáticas e metodológicas. Tais questões não deixam de ser muito interessantes. Os ensinamentos filosóficos não são o fim, a meta, mas sim, a fonte de onde tiramos as ideias e buscamos algum auxílio para nossos semelhantes.

Seria inútil abordar aqui diferenças filosóficas ou entrar em discussões e críticas. Se o fizermos, surgirão inúmeros argumentos e o resultado será apenas a irritação, sem que surja nada de produtivo. Melhor é olhar para o propósito das filosofias como um todo e verificar o que partilhamos, ou seja, a ênfase no amor, na compaixão e no respeito por uma força superior.

Em nenhuma religião existe a crença de que o progresso material é suficiente para a humanidade. Ao contrário, é comum reconhecer a existência de forças superiores e que vale a pena colocar-se a serviço da sociedade. Para que isso aconteça, é muito importante compreendermos uns aos outros.

No passado, por causa de inúmeros fatores, houve discórdia entre grupos religiosos. Se observarmos profundamente os valores de uma religião, podemos facilmente transcender essas infelizes ocorrências, pois há muitas áreas em comum para se alcançar plena harmonia. Devemos sobre tudo, ajudar, respeitar e compreender uns aos outros. O propósito da sociedade deverá ser o aperfeiçoamento compassivo dos seres humanos.

Neste mundo plural, com tantas tradições religiosas, é de inestimável valor o cultivo do respeito baseado no diálogo. É trágico e inadmissível que a própria religião possa se tornar um motivo para a criação de discórdias. Uma religião que assume esta premissa acabará sendo uma religião sem valor para a humanidade e o que é pior, prejudicial à convivência pacífica e fraterna.

Precisamos das diferentes tradições religiosas a fim de desenvolver tanto a paz interior quanto a paz entre os povos do mundo. É fundamental toda a sociedade humana acolher a realidade de muitos caminhos e muitas verdades, para uma pessoa pode ser melhor seguir um caminho e uma verdade que lhe inspire e auxilie a encontrar o seu lugar como protagonista de um mundo mais justo, mais fraterno e solidário.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Teologia da Prosperidade


Já faz tempo que tenho percebido a forma ardilosa e interesseira que muitos pregadores utilizam para manipular seus fiéis com propostas que se fundamentam em uma doutrina absolutamente desqualificada e inconseqüente.
Com promessas de cura e libertação para todas as situações da vida, estes pseudopastores não leem o Evangelho a partir da humildade, do serviço e do amor. Preferem muito mais referendar os princípios de uma sociedade globalizada e excludente. Uma sociedade onde poucos conseguem alcançar o sucesso. Uma realidade onde se julga a fé das pessoas pelos bens materiais que o indivíduo conseguiu amealhar.
Não me conformo com a Palavra de Deus sendo utilizada de forma tão leviana e mesquinha. Estou farto desta tal teologia da prosperidade. Cansei de ouvir pregadores inescrupulosos dizendo que precisamos decretar a nossa vitória e visualizar a nossa bênção material. Cansei de ouvir pregadores gritando para Deus e exigindo seus caprichos. Cansei de ouvir pregadores dizendo que “salário mínimo” não é coisa de crente abençoado verdadeiramente por Deus.
Pense e compare se esta teologia não está por aí defendendo que os cristãos deveriam morar em mansões, exibir carros de luxo e nunca ficarem doentes. Observe se esta teologia não está valorizando mais as coisas terrenas do que aquelas que são do céu. Perceba se esta teologia não está fazendo barganha com Deus, onde você contribui e Ele devolve com juros, correção monetária e muitos dividendos.
Honestamente, creio que esta teologia ama mais o dinheiro que o próximo. É consumista, utilitária e acaba tratando Deus como se fosse o Papai Noel.
Estou cansado desta teologia da ganância, cujo principal objetivo é fazer com que as pessoas atinjam a independência financeira. Cansei dessa teologia desconectada da vida cotidiana com seus altos e baixos e que argumenta que Jesus nunca foi pobre. Cansei desta retórica que tem criado uma geração de decepcionados nas igrejas, por que supostamente, não tem alcançado fé suficiente para encontrar as “bênçãos”.
Se você, estimado leitor ou leitora, também se cansou, não da prosperidade - que é dádiva de Deus - mas desta teologia que faz dela o principal alicerce da vida cristã, então proteste comigo.
Lembre-se, a teologia da prosperidade é diabolicamente perversa e mentirosa, porque induz os filhos e filhas de Deus a buscar a riqueza, por concluir que esta seja mais importante do que a transformação do ser humano em instrumento de justiça, entendimento, paz e amor aqui neste mundo. Portanto, em todas as situações desta vida, jamais esqueçamos que a salvação sempre será dádiva divina aceita pelo ser humano pela fé e concretizada no serviço dedicado ao próximo. Pense nisso!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Retirada dos Símbolos Religiosos dos Tribunais

Sou Teólogo Protestante e me considero um estudioso do fenômeno religioso na dimensão em que este possa ser compreendido e qualificado como norteador de princípios éticos, morais, culturais, religiosos e de comportamento para toda a sociedade constituída. Compactuo e me sinto inserido no âmbito de uma religiosidade minoritária em nosso país – o protestantismo histórico.

Surpreende-me, em particular, toda a discussão ensejada por aqueles que querem nos fazer assumir uma prerrogativa contrária a retirada dos símbolos religiosos das repartições públicas do judiciário brasileiro. Penso que desta forma estamos tão somente rasgando a nossa lei maior – a constituição federal, que declara, insofismavelmente, sermos uma nação laica. Tanto que sublinhamos nossa condição constitutiva política numa clara separação entre a Igreja e o Estado. Portanto, não compete ao Estado Brasileiro favorecer esta ou aquela denominação religiosa.

Reafirmo sem receio de que todo e qualquer símbolo religioso não possui espaço em lugares públicos, pois fere o princípio da liberdade religiosa,tão cara, em nosso país.O Estado não tem religião. E desta forma, o espaço público não deveria ostentar símbolos religiosos, já que qualquer um deles representaria a crença de apenas uma parcela da sociedade.

Caberia inclusive avaliar o significado dos símbolos religiosos nos Tribunais desta nossa prodigiosa nação na medida em que estes podem ser observados como espaços onde, bem sabemos, os mais desfavorecidos têm menos direitos que os mais abonados. Onde, lamentavelmente, temos visto exemplos de sentenças que são barganhadas, vendidas e até compradas.

Entendo os argumentos intransigentes pela permanência dos símbolos religiosos nos Tribunais na medida em que estes serviriam de advertência contra todas as injustiças. E que para que estas não mais se repetissem. Também entendo como incontestável, todavia, o mal em consequência de um símbolo religioso não passar de uma decoração inútil, quando falta a decência, a altivez e a humildade de grande parte das autoridades que se encontram a serviço do povo, e diante disto serve-se dos tribunais para oprimi-lo.

Gostaria que entendessem bem a minha abordagem. Proponho e defendo que ser parte de uma nação laica não pressupõe que se é contra determinadas religiões, mas que nos cabe defender veementemente uma posição institucional que respeite o direito de todos à opção religiosa numa sociedade marcada pela diversidade. Essa laicidade do Estado deveria ser observada pelas instituições judiciárias, pelas escolas, pelos sistemas de saúde e por todos os serviços garantidos a todos os cidadãos e cidadãs, sem distinção sexual, de cor, origem social, opção partidária ou filiação religiosa. Defendo que o fortalecimento da laicidade do Estado é uma das condições fundamentais para a afirmação da democracia e da cidadania em nosso país.

É preciso parar com esta falsa compreensão de que a retirada dos símbolos de uma religião é uma ofensa, quando na verdade, representa a possibilidade de que todas as crenças não sejam discriminadas pelo Estado. Talvez estejamos iniciando um novo tempo para que o assunto possa ser debatido em outras instâncias, como nas escolas públicas, onde ainda é muito comum a presença de símbolos católico romanos. As pessoas devem ser livres para portar os símbolos religiosos que acharem conveniente. Mas as instituições públicas não podem ser espaços privilegiados para uma única religião.

O cidadão judeu, muçulmano, budista, espírita, ateu, é tão brasileiro e detentor de direitos quanto os cristãos. Tem os mesmos direitos constitucionais assegurados de não se sentir discriminado pela ostentação de símbolos de uma outra religião diferente da sua crença, ainda que majoritária.
Concordo com aquilo que acentua o Frade Paulista, Demetrius dos Santos Silva: “É preciso retirar os símbolos religiosos das repartições públicas, porque certamente Cristo não abençoaria a sórdida política brasileira, causa das desgraças, misérias e sofrimentos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos”.