Sou Teólogo Protestante e me considero um estudioso do fenômeno
religioso na dimensão em que este possa ser compreendido e qualificado como
norteador de princípios éticos, morais, culturais, religiosos e de comportamento
para toda a sociedade constituída. Compactuo e me sinto inserido no âmbito de
uma religiosidade minoritária em nosso país – o protestantismo histórico.
Surpreende-me, em particular, toda a discussão ensejada por aqueles que
querem nos fazer assumir uma prerrogativa contrária a retirada dos símbolos
religiosos das repartições públicas do judiciário brasileiro. Penso que desta
forma estamos tão somente rasgando a nossa lei maior – a constituição federal,
que declara, insofismavelmente, sermos uma nação laica. Tanto que sublinhamos
nossa condição constitutiva política numa clara separação entre a Igreja e o
Estado. Portanto, não compete ao Estado Brasileiro favorecer esta ou aquela
denominação religiosa.
Reafirmo sem receio de que todo e qualquer símbolo religioso não possui
espaço em lugares públicos, pois fere o princípio da liberdade religiosa,tão
cara, em nosso país.O Estado não tem religião. E desta
forma, o espaço público não deveria ostentar símbolos religiosos, já que
qualquer um deles representaria a crença de apenas uma parcela da sociedade.
Caberia inclusive avaliar o significado dos símbolos religiosos nos
Tribunais desta nossa prodigiosa nação na medida em que estes podem ser
observados como espaços onde, bem sabemos, os mais desfavorecidos têm menos
direitos que os mais abonados. Onde, lamentavelmente, temos visto exemplos de sentenças
que são barganhadas, vendidas e até compradas.
Entendo os
argumentos intransigentes pela permanência dos símbolos religiosos nos
Tribunais na medida em que estes serviriam de advertência contra todas as injustiças.
E que para que estas não mais se repetissem. Também entendo como incontestável,
todavia, o mal em consequência de um símbolo religioso não passar de uma
decoração inútil, quando falta a decência, a altivez e a humildade de grande
parte das autoridades que se encontram a serviço do povo, e diante disto serve-se
dos tribunais para oprimi-lo.
Gostaria que
entendessem bem a minha abordagem. Proponho
e defendo que ser parte de uma nação laica não
pressupõe que se é contra determinadas religiões, mas que nos cabe defender
veementemente uma posição institucional que respeite o direito de todos à opção
religiosa numa sociedade marcada pela diversidade. Essa laicidade do Estado
deveria ser observada pelas instituições judiciárias, pelas escolas, pelos sistemas
de saúde e por todos os serviços garantidos a todos os cidadãos e cidadãs, sem
distinção sexual, de cor, origem social, opção partidária ou filiação
religiosa. Defendo que o fortalecimento da laicidade do Estado é uma das condições fundamentais
para a afirmação da democracia e da cidadania em nosso país.
É preciso parar com esta falsa compreensão de que a
retirada dos símbolos de uma religião é uma ofensa, quando na verdade, representa
a possibilidade de que todas as crenças não sejam discriminadas pelo Estado.
Talvez estejamos iniciando um novo tempo para que o assunto possa ser debatido
em outras instâncias, como nas escolas públicas, onde ainda é muito comum a
presença de símbolos católico romanos. As pessoas devem ser livres para portar
os símbolos religiosos que acharem conveniente. Mas as instituições públicas
não podem ser espaços privilegiados para uma única religião.
O cidadão judeu, muçulmano, budista, espírita, ateu, é
tão brasileiro e detentor de direitos quanto os cristãos. Tem os mesmos
direitos constitucionais assegurados de não se sentir discriminado pela
ostentação de símbolos de uma outra religião diferente da sua crença, ainda que
majoritária.
Concordo com
aquilo que acentua o Frade Paulista, Demetrius dos Santos Silva: “É preciso
retirar os símbolos religiosos das repartições públicas, porque certamente Cristo
não abençoaria a sórdida política brasileira, causa das desgraças, misérias e
sofrimentos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário