sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Os Cristãos de Hoje



No decorrer da histórica da humanidade o lugar de Deus foi colocado, primordialmente, segundo os contextos culturais, sociais, políticos e econômicos. Se olharmos os países mais desenvolvidos, veremos que a questão de Deus sempre foi permeada pela expansão ateísta. Por outro lado, a própria sociedade acabou se organizando sem contar com a existência de Deus, ou pelo menos, sem a sua interferência direta. A modernidade nos legou um alto grau de racionalismo.


Do ponto de vista histórico, o ser humano vem se confrontando com sucessivas crises a partir da queda dos pilares essenciais da civilização contemporânea. Ocorreu uma crise da concepção do ser humano, que de acordo com Rousseau - era naturalmente bom. Percebe-se uma crise da concepção da história, linearmente ascendente, conforme ensinava o positivismo de Augusto Comte. Há também a crise da concepção do conhecimento, de possibilidades ilimitadas geradas pelo método científico. E não por último, a crise das utopias constituídas – marxismo e leninismo. Segundo esta conjuntura, “um homem bom”, dotado de conhecimento ilimitado, construiria uma história ascendente em direção ao paraíso aqui e agora. Tudo isso falhou. Esgotou-se o tempo das “certezas” reforçadas pelo maniqueísmo exagerado.


Diante da crise da civilização, me parece que os cristãos poderiam ser identificados na atualidade a partir de algumas premissas significativas:


- Dar respostas adequadas com anos de atraso;
- Isolar-se ou encapsular-se no ativismo religioso;
- Entrar em crises de fé e compreendê-las como conseqüência de uma estrutura eclesiástica inócua e pautada pela burocracia;
- Exagerar na escatologia e no catastrofismo;
- Repetir experiências de outros lugares e épocas como, por exemplo, os puritanos, ascéticos, etc.


Diante destes novos caminhos, parece-me que os cristãos estão vivendo a partir de pelo menos 3 situações bastante peculiares:


- Os que se encontram dentro dos muros e que oram – “Obrigado, Senhor, pela bênção de estar do lado de dentro”.
- Os que estão fora dos muros, mas são conservadores, e que oram – “Senhor, queremos passar para dentro, dá-nos a bênção; somos todos filhos do Rei”.
- Os que estão fora dos muros, mas são progressistas, e que por isso oram – “Senhor, derruba os muros”.


A sociedade contemporânea tem conduzido para uma maior subjetividade. Vivenciamos relações mais abertas, com menos necessidade de certeza em relação ao futuro e com maior limitação de instrumentos para enfrentar as carências existenciais e do sofrimento psíquico cotidiano. Vivemos um período onde as pessoas se aproximam da igreja por acreditar que este seja capaz de resolver as mazelas e vicissitudes mais imediatas de sua caminhada.


Parece que nas comunidades protestantes históricas, talvez ainda se busque um sistema mais racionalizado da vida. O indivíduo se aproxima destes grupos, muitas vezes, por causa da relação fraterna e de apoio mútuo que se estabelece nesse contexto.


É interessante observar ainda que, no mundo atual, uma boa parcela das pessoas busca outro tipo de religiosidade. Aquele voltado às sensações e promessas de sucesso e felicidade imediatos. A racionalidade protestante propunha a construção de uma identidade específica e abrangente. Infelizmente parece que esta mesma racionalidade tem servido de critério para ajuizar questões morais e teológicas. Tolhe-se o princípio da liberdade individual e se proclama e legitima apenas um determinado tipo de experiência religiosa.
O Deus da minha fé punha os seres humanos acima da lei e o amor no lugar das velhas concepções. Todos os dias ele morre crucificado pelo nosso egoísmo. Todos os dias ele ressuscita.

Nenhum comentário:

Postar um comentário