No decorrer
da histórica da humanidade o lugar de Deus foi colocado, primordialmente,
segundo os contextos culturais, sociais, políticos e econômicos. Se olharmos os
países mais desenvolvidos, veremos que a questão de Deus sempre foi permeada
pela expansão ateísta. Por outro lado, a própria sociedade acabou se
organizando sem contar com a existência de Deus, ou pelo menos, sem a sua
interferência direta. A modernidade nos legou um alto grau de racionalismo.
Do ponto de
vista histórico, o ser humano vem se confrontando com sucessivas crises a
partir da queda dos pilares essenciais da civilização contemporânea. Ocorreu
uma crise da concepção do ser humano, que de acordo com Rousseau - era
naturalmente bom. Percebe-se uma crise da concepção da história, linearmente ascendente,
conforme ensinava o positivismo de Augusto Comte. Há também a crise da
concepção do conhecimento, de possibilidades ilimitadas geradas pelo método
científico. E não por último, a crise das utopias constituídas – marxismo e
leninismo. Segundo esta conjuntura, “um homem bom”, dotado de conhecimento
ilimitado, construiria uma história ascendente em direção ao paraíso aqui e
agora. Tudo isso falhou. Esgotou-se o tempo das “certezas” reforçadas pelo
maniqueísmo exagerado.
Diante da
crise da civilização, me parece que os cristãos poderiam ser identificados na
atualidade a partir de algumas premissas significativas:
- Dar
respostas adequadas com anos de atraso;
- Isolar-se ou
encapsular-se no ativismo religioso;
- Entrar em
crises de fé e compreendê-las como conseqüência de uma estrutura eclesiástica inócua e
pautada pela burocracia;
- Exagerar na
escatologia e no catastrofismo;
- Repetir
experiências de outros lugares e épocas como, por exemplo, os puritanos, ascéticos, etc.
Diante
destes novos caminhos, parece-me que os cristãos estão vivendo a partir de pelo
menos 3 situações bastante peculiares:
- Os que se
encontram dentro dos muros e que oram – “Obrigado, Senhor, pela bênção de estar do lado de dentro”.
- Os que estão fora dos muros, mas são conservadores,
e que oram – “Senhor, queremos passar para dentro, dá-nos a bênção; somos todos
filhos do Rei”.
- Os que estão fora dos muros, mas são
progressistas, e que por isso oram – “Senhor, derruba os muros”.
A sociedade
contemporânea tem conduzido para uma maior subjetividade. Vivenciamos relações
mais abertas, com menos necessidade de certeza em relação ao futuro e com maior
limitação de instrumentos para enfrentar as carências existenciais e do
sofrimento psíquico cotidiano. Vivemos um período onde as pessoas se aproximam
da igreja por acreditar que este seja capaz de resolver as mazelas e
vicissitudes mais imediatas de sua caminhada.
Parece que
nas comunidades protestantes históricas, talvez ainda se busque um sistema mais
racionalizado da vida. O indivíduo se aproxima destes grupos, muitas vezes, por
causa da relação fraterna e de apoio mútuo que se estabelece nesse contexto.
É
interessante observar ainda que, no mundo atual, uma boa parcela das pessoas
busca outro tipo de religiosidade. Aquele voltado às sensações e promessas de
sucesso e felicidade imediatos. A racionalidade protestante propunha a
construção de uma identidade específica e abrangente. Infelizmente parece que
esta mesma racionalidade tem servido de critério para ajuizar questões morais e
teológicas. Tolhe-se o princípio da liberdade individual e se proclama e
legitima apenas um determinado tipo de experiência religiosa.
O Deus da minha fé punha os seres humanos acima da lei e o amor no lugar das velhas concepções. Todos os dias ele morre crucificado pelo nosso egoísmo. Todos os dias ele ressuscita.
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