sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A Ordem dos Cavaleiros Templários



Entre os anos de 1095 e 1099 aconteceu a Primeira Cruzada que levou os cristãos europeus a conquistarem territórios que estavam sob controle muçulmano na Terra Santa. Mas no reino que foi estabelecido, faltavam tropas militares para garantir a segurança numa terra cercada por  inimigos. Muitos peregrinos cristãos de toda a Europa ficavam vulneráveis aos ataques de bandidos quando visitavam a cidade de Jerusalém. É justamente neste período que um grupo de nove cavaleiros franceses compromete-se a cuidar da proteção dos peregrinos e a formar uma nova ordem militar e religiosa.
 
Em Jerusalém são recebidos pelo Rei Balduíno que lhes oferece uma parte do palácio no mesmo local onde teria sido o Templo do Rei Salomão. Uma vez organizada a milícia, ocorre a sua nomeação pelo Imperador. Surge a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, ou como viriam a ser conhecidos posteriormente na história – a Ordem dos Templários.

Para os cavaleiros não existia apenas o imperativo de defender o Santo Sepulcro e os peregrinos, eles pretendiam também viver como monges com votos de pobreza e castidade.

O cotidiano dos Templários era fundamentado numa vida espartana que incluía dezenas de orações diárias, a participação nos serviços religiosos nas horas canônicas, um calendário com datas de jejum e abstinência de carne. Não podiam apostar, beber ou proferir qualquer xingamento. Necessitavam viver em comunidade e dormir em quartos coletivos. Não era permitido descansar no escuro além de sempre usar calças e botas. Deviam celebrar as refeições juntos, além de não poder fazer a barba. Estavam proibidos de caçar e não lhes era permitido qualquer contato com mulheres. Era proibido, inclusive, beijar a mãe ou as irmãs.

Um cavaleiro que em algum momento fugisse de um embate ou batalha e se permanecesse vivo após uma derrota, era afastado da comunidade, perdia seu manto branco e tinha que comer nos corredores do palácio pelo período de um ano. Já aquele que adotasse práticas homossexuais era banido da Ordem.

Se imaginarmos alguma conspiração que envolva algo sagrado, então existe uma grande chance de os Templários estarem envolvidos. Pelo menos é isto que a imaginação popular e os escritores sublinham. Exemplos não faltam: das lendas sobre a busca do Santo Graal a romances como "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco, e "O Código da Vinci", de Dan Brown.

A fama que os Templários alcançaram na Idade Média, os mistérios que envolviam os planos e rituais da Ordem e os locais onde ela se estabeleceu, tem suscitado lendas e mitos. Para alguns, eles teriam descoberto objetos sagrados em escavações que fizeram na sede da Ordem em Jerusalém, supostamente localizada onde teria sido o Templo do Rei Salomão e onde teria sido guardada a Arca da Aliança com os 10 mandamentos dados por Deus a Moisés no alto do Monte Sinai. Especula-se ainda que os Templários teriam encontrado o Santo Graal – o cálice da última Ceia de Jesus com os seus discípulos - e a cabeça embalsamada de Jesus. Fato este que provaria que Cristo não teria ressuscitado.

Menos de meio século após sua fundação, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão só era pobre no nome. Reis e nobres da Espanha, França e Inglaterra faziam pomposas doações. Castelos, propriedades, títulos de nobreza e autoridade territorial desencadearam um processo de acumulação de milhares de propriedades espalhadas pela Europa Ocidental, regiões do Mediterrâneo e Palestina. Sua força militar e os votos de fé cristã a tornou também confiável para fazer a coleta, o armazenamento e a entrega de barras de ouro, moedas e outras riquezas de nobres europeus em seus países e na Terra Santa.

Os Templários estabeleceram uma rede segura de locais para guarda dos tesouros e de transporte de valores que passou a funcionar como uma espécie de banco internacional para a realeza e os peregrinos da Terra Santa. Além de cobrarem juros quando realizavam empréstimos das riquezas que guardavam - algo que ironicamente era condenado pela Igreja - também lucravam com heranças que recebiam de monarcas e nobres. Em meados do século 12 os Cavaleiros Templários eram ricos, poderosos e independentes. Calcula-se que a Ordem chegou a acumular nove mil propriedades espalhadas pela Europa e Palestina.

Ainda que ricos e acumulando a inédita função de banqueiros internacionais, o que mais lhes interessava era poder lutar. A mistura da habilidade com a espada, valentia, fanatismo religioso e a arrogância, muitas vezes os conduziu a batalhas suicidas, tornando-os verdadeiros guerreiros temidos por todos os inimigos.

As vitórias em batalhas fizeram a reputação aumentar e com ela, as doações e o interesse de mais pessoas participarem da Ordem. Mas a arrogância e a empáfia também aumentavam. Além disso, a postura belicista começou a ser um problema para os governantes cristãos na Terra Santa, que cercados por um mar de muçulmanos viam cada vez mais a negociação com os adeptos do Islamismo como alternativa interessante para garantir a sobrevivência, nem que fosse temporariamente.

Eles detinham a permissão divina para matar os "infiéis". Nestes casos os Templários não estariam desrespeitando os Dez Mandamentos, afinal não matariam homens e sim a encarnação do "mal". O soldado de Cristo era o instrumento de Deus para a punição dos malfeitores e para a defesa dos justos. Quando ele matava os malfeitores, não se tratava de um homicídio, mas de “malicídio”.

A Ordem dos Templários acabou perseguida e extinta há nove séculos, pela própria Igreja que a apoiou e deu-lhe poder. Mesmo assim, não param de surgir narrativas sobre os seus feitos. Muitas dessas lendas nasceram a partir da mistura de fatos históricos, crenças religiosas e, principalmente, de suposições alimentadas pelos mistérios que envolviam o funcionamento da Ordem. Lendas à parte, uma das evidências sobre os Templários, confirmada por historiadores, é a bravura e o fanatismo religioso que eles demonstravam. Isso os levou a cometer verdadeiras batalhas suicidas na certeza de que detinham uma premissa messiânica onde Deus estava ao seu lado.

Existem aqueles que mantêm a convicção de que a Ordem dos Templários se encontra ainda hoje presente em nosso mundo, ainda que sob outra definição. Continuam existindo suposições que os seus membros se encontram em segredo para discutir negócios desconhecidos, para conduzir rituais e para traçar o nosso destino da humanidade em segredo.

São questões que têm intrigado historiadores, investigadores e curiosos, mas a verdade acerca dos lendários Cavaleiros do Templo irá continuar a ser um dos maiores mistérios da humanidade. São páginas indeléveis da história que ainda não conseguimos descortinar plenamente.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

MEDO DO INVISÍVEL



Dentre as manifestações capazes de abalar nossas estruturas, o medo está no topo da lista, atingindo a todos de forma indistinta. Esse fantasma, tão real em nossas vidas, materializa-se quando a sombra do perigo iminente se aproxima. O corpo então, sem aviso prévio, reage produzindo alertas e prepara-se para o combate ou a fuga. A verdade é que esse sentimento funciona como um mecanismo de autopreservação, afastando ou nos preparando para situações que colocam a vida em risco, fazendo-nos medir as possíveis consequências dos atos.

No entanto, desde a antiguidade, os seres humanos se sentem amedrontados também por tormentos imaginários, os quais possuem o incrível poder de deteriorar a capacidade de raciocínio e fazer adoecer. Como dizia Shakespeare, o horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado, motivo pelo qual a ansiedade, a fobia e o pânico nos roubam a paz.

Parece que a cada dia vamos criando monstros em nossas cabeças que corroem e atemorizam a alma ao nos depararmos com o que é desconhecido, inexplicável ou o que fantasiamos ser complicado. Essas sensações paralisam e limitam a capacidade de pensar e agir, construindo um muro que nos limita e constrange.

Medo de viver, medo do futuro, medo do abandono, medo das ausências e da falibilidade humana. Sentimentos que se acentuam em fobias e que podem evoluir para o pânico, quando então o desespero e a sensação de impotência no enfrentamento de sofrimentos e perdas tomam uma proporção capaz de levar até ao extremo do suicídio.

Nas crianças, imersas na fase da descoberta do mundo, o temor é quase palpável. Algumas têm medo do bicho papão, do escuro, de ficar sem os pais nos primeiros dias de aula, de tomar vacinas. Já nos jovens, o medo se veste e reveste de outras cores. Medo de enfrentar os desafios de morar sozinho, de não ser aceito no grupo, de não encontrar um amor verdadeiro e de decidir sobre os rumos de sua vida profissional e afetiva. Nos adultos, a sombra do medo se estende à possibilidade de não conseguir pagar as contas do mês, de perder o emprego, de não ser um bom provedor para a sua família e de não saber educar bem os filhos.

Receio que seja indispensável ter humildade para assumir que somos imperfeitos, errantes num mundo em constante mutação. É necessário aceitar transformar o próprio pensar, sentir e agir, além de compreender que a maravilha de viver implica em desbravar novos horizontes, arriscando trilhar caminhos ainda sem respostas prontas. Como diria Charles Chaplin - a vida pode ser mais bela quando não se tem medo dela.

O medo está e sempre haverá de acompanhar nossa jornada. Mas em cada pequeno triunfo, cada página virada, cada minuto que soubemos superar os obstáculos da existência e espantar para mais longe a dor, a tristeza e a saudade, somos lembrados de que a vida acontece verdadeiramente, quando a coragem é multiplicada, a fé partilhada e a esperança perseguida.

Eis o grande mistério de nossa existência. Lembrar sempre que o MEDO DE SOFRER não seja maior que a vontade de SONHAR, de REALIZAR, de AMAR...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

POR UMA ÉTICA GLOBAL



Há uma ética que se encontra no âmago de toda a cultura consumista do século XXI. É desastroso perceber que os limites razoáveis de destruição do planeta já foram ultrapassados em mais de 30%. Nunca mais a humanidade vai poder conviver com a abundância de bens e serviços que usufruía até há pouco tempo. Cientistas afirmam que o Planeta precisaria de um ano e meio para repor o que lhe extraímos durante um ano. Em todo caso não parece que a fúria consumista esteja diminuindo. Muito pelo contrário, o sistema que hoje vislumbramos tem criado mais mecanismos que incentivam o consumo. O resultado acaba sendo catastrófico. Requer mais produção que acaba deteriorando todo o ecossistema. O Planeta agoniza. A sociedade e os que nela vivem estão prematuramente convalescentes.

A ética que orienta este modo de viver é a ética da maximização de tudo o que produzimos. Exageramos na construção das fábricas, estradas, automóveis. Não medimos as consequências da exploração indiscriminada das reservas naturais de petróleo. Não sabemos onde despejar materiais obsoletos em função dos avanços tecnológicos. Maximizamos os programas de entretenimento, as novelas, a pornografia, os cursos de autoajuda, a produção intelectual destituída de compromissos com a justiça e a cidadania. Ouvimos que a produção não pode parar, pois isto implicaria o colapso no consumo e, via de regra, nos empregos. No fundo, não nos preocupamos com o uso desproporcional dos limites que seriam suportáveis pela natureza.

Toda esta conjuntura nos remete a um dos maiores pensadores do século XIX, o alemão Friedrich Nietzsche que outrora asseverou que a “verdade não tinha importância, pois o ser humano dependia apenas de si mesmo”. Parafraseando Nietzsche, poderíamos perguntar até quando esta maximização consumista poderá suprir as necessidades mais latentes manifestadas pelo ser humano?

Creio que em dado momento haverá de ocorrer uma espécie de saturação e o efeito direto talvez seja o triste e calamitoso vazio existencial e a insustentabilidade da vida humana no planeta. E nesse momento o indivíduo descobrirá que a felicidade humana não está em possuir, em auferir uma grande soma em sua conta bancária, nem no número de bens que pôde amealhar ao longo da sua vida, mas na comunicação, na solidariedade, no amor, no cuidado, na busca pela transcendência. Todos, elementos que, por sua essência, podem crescer, multiplicar e se diversificar indefinidamente. Neles reside o segredo da felicidade.

É verdade que os seres humanos carecem de uma determinada quantia de suprimentos para sustentar a própria vida. Mas alimentos excessivos, maximizados, causam consequências físicas, psicológicas e sociais negativas. Que o digam os especialistas encarregados das últimas pesquisas no Rio Grande do Sul que observaram excesso de peso em mais da metade da população.

É preciso projetar uma outra ética, a da otimização. Ela se fundamenta numa concepção sistêmica da natureza e da vida enquanto dádivas. Excetuando-se o ser humano, todos os demais seres vivos presentes na natureza procuram otimizar as relações que sustentam a vida. Há uma busca pelo equilíbrio. Pelo aproveitamento dinâmico dos elementos inerentes ao ecossistema. Não se produz lixo indiscriminadamente e a qualidade da vida é condizente com o bem comum.

Na esfera humana, esta otimização teria que gerir uma busca por equidade e justiça. As bases materiais vivenciadas de forma ética, poderiam incentivar uma nova dinâmica solidária para com os mais vulneráveis, resgatando assim, a compreensão, a compaixão e o amor capaz de destruir mecanismos que geram preconceitos e que não permitem que as diferenças sejam construtivas na constituição das relações sociais e humanas.
Talvez a crise contemporânea nos permita vivenciar relações e desafios no sentido de resgatar o essencial na nossa história neste planeta. A vida enquanto dádiva que necessita ser protegida e adequadamente usufruída. Esta vida que celebra o mistério da existência e a gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres vivos. Desta forma, haveremos de perseguir uma nova ética global no conjunto de nossas potencialidades a caminho da plenitude, tão sonhada.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O HOMEM E A NATUREZA EM ROTA DE COLISÃO


No livro Histórias Sagradas os escritores Charles e Anne Simpkinson revelam que por trás do rápido crescimento populacional e do surgimento das muitas tecnologias, escondem-se paradigmas sobre o nosso relacionamento com o cosmos que necessitam ser modificados. Os autores reiteram que a civilização humana e o mundo natural estão em rota de colisão. A única maneira de modificar tal disfunção seria abandonar atitudes prejudiciais ao planeta e buscar um modelo saudável no trato da terra.


Um dos motivos pelos quais não conseguimos perceber a colisão eminente decore das inúmeras fontes de informação que temos acesso. A destruição do planeta encontra-se configurada num grande mosaico de difícil percepção. Para nós, a única manifestação mais concreta dessa crise poderia ser vislumbrada no aquecimento da atmosfera. Menos visíveis são a destruição das florestas tropicais, o lixo, a deterioração da camada de ozônio e os desastres ecológicos em conseqüência do vazamento de grandes quantidades de petróleo. A caracterização desse mosaico nos desafia a não entendê-lo apenas intelectualmente pelo seu conteúdo, mas também na sua perspectiva emocional.

Não estamos preparados para captar a imagem de 37 mil crianças menores de cinco anos que morrem de fome a cada dia no nosso planeta. Durante séculos o crescimento do número de habitantes do planeta ocorreu de forma constante e lenta. Na época de Cristo a terra comportava 250 milhões de pessoas. Quando Colombo conheceu o Novo Mundo, somávamos meio bilhão de pessoas. No final da Segunda Guerra Mundial já éramos dois bilhões.

Nas últimas décadas a taxa de crescimento populacional vem aumentando em grandes proporções. A cada dez anos crescemos o equivalente à população da China. Não é difícil perceber as conseqüências desse processo para a extinção das nossas reservas naturais. Um exemplo é a perda da camada de ozônio e de espécies que existiam a milhões de anos. Se a extinção continuar no ritmo atual, as nossas crianças serão testemunhas do desaparecimento de mais da metade dos animais vivos que Deus criou sobre a face da terra.

O ritmo da devastação das florestas é alucinante. Cerca de 600 hectares por dia. Enquanto isso, as novas descobertas tecnológicas são responsáveis por introduzir mais dióxido de carbono e outros produtos químicos nocivos à atmosfera. O ar que respiramos contém 500% mais cloro do que a 40 anos atrás. Infelizmente, nos acostumamos a colocar o desenvolvimento científico e tecnológico antes de saber quais as possíveis conseqüências.

A relação que o ser humano tem mantido com o planeta é disfuncional. Sempre se perseguiu normas tradicionais que foram sendo passadas de geração para geração. Nossa civilização sublinhou histórias que pressupunham uma relação destrutiva da Terra.

É necessário reconhecer que somos parte de um contexto global e que a revolução científica e tecnológica gerou a falsa impressão de que pelo intelecto seríamos capazes de solucionar a maioria dos nossos problemas e dificuldades. A civilização contemporânea cultiva os hábitos de consumo e dispõe de inúmeras fontes de distração. É o petróleo, a água, energia, etc.

Criamos um mundo artificial no qual a propaganda nos diz o que queremos e os rituais de produção e de consumo dizem quem somos. Fica a pergunta: onde podemos então encontrar uma história capaz de criar uma relação autêntica, e construtiva com o planeta? Talvez uma possibilidade poderia ser reexaminar as histórias das tradições religiosas, tantas vezes mal interpretadas e compreendidas.  No exemplo da tradição histórico-cristã, poderíamos olhar para a Arca de Noé e redescobrir que Deus no seu pacto com Noé afirma a preservação da biodiversidade e a perpetuação de todas as criaturas.

Em tempos onde as fronteiras esticam e o marketing personifica o consumismo ainda não nos damos conta de que apesar de tudo que nos separa, pertencemos a uma civilização global. Por isso, precisamos de uma nova consciência com prioridades e compromissos universais.