Entre os anos de
1095 e 1099 aconteceu a Primeira Cruzada que levou os cristãos europeus a
conquistarem territórios que estavam sob controle muçulmano na Terra Santa. Mas
no reino que foi estabelecido, faltavam tropas militares para garantir a
segurança numa terra cercada por inimigos. Muitos peregrinos cristãos de
toda a Europa ficavam vulneráveis aos ataques de bandidos quando visitavam a
cidade de Jerusalém. É justamente neste período que um grupo de nove cavaleiros franceses compromete-se a cuidar da proteção dos
peregrinos e a formar uma nova ordem militar e religiosa.
Em Jerusalém são
recebidos pelo Rei Balduíno que lhes oferece uma parte do palácio no mesmo
local onde teria sido o Templo do Rei Salomão. Uma vez organizada a milícia,
ocorre a sua nomeação pelo Imperador. Surge a Ordem dos Pobres Cavaleiros de
Cristo e do Templo de Salomão, ou como viriam a ser conhecidos posteriormente na
história – a Ordem dos Templários.
Para os cavaleiros não
existia apenas o imperativo de defender o Santo Sepulcro e os peregrinos, eles
pretendiam também viver como monges com votos de pobreza e castidade.
O cotidiano dos
Templários era fundamentado numa vida espartana que incluía dezenas de orações
diárias, a participação nos serviços religiosos nas horas canônicas, um
calendário com datas de jejum e abstinência de carne. Não podiam apostar, beber
ou proferir qualquer xingamento. Necessitavam viver em comunidade e dormir em
quartos coletivos. Não era permitido descansar no escuro além de sempre usar
calças e botas. Deviam celebrar as refeições juntos, além de não poder fazer a
barba. Estavam proibidos de caçar e não lhes era permitido qualquer contato com
mulheres. Era proibido, inclusive, beijar a mãe ou as irmãs.
Um cavaleiro que em
algum momento fugisse de um embate ou batalha e se permanecesse vivo após uma
derrota, era afastado da comunidade, perdia seu manto branco e tinha que comer
nos corredores do palácio pelo período de um ano. Já aquele que adotasse
práticas homossexuais era banido da Ordem.
Se imaginarmos
alguma conspiração que envolva algo sagrado, então existe uma grande chance de
os Templários estarem envolvidos. Pelo menos é isto que a imaginação popular e
os escritores sublinham. Exemplos não faltam: das lendas sobre a busca do Santo
Graal a romances como "O Pêndulo de Foucault", de Umberto Eco, e
"O Código da Vinci", de Dan Brown.
A fama que os
Templários alcançaram na Idade Média, os mistérios que envolviam os planos e
rituais da Ordem e os locais onde ela se estabeleceu, tem suscitado lendas e
mitos. Para alguns, eles teriam descoberto objetos sagrados em escavações que
fizeram na sede da Ordem em Jerusalém, supostamente localizada onde teria sido
o Templo do Rei Salomão e onde teria sido guardada a Arca da Aliança com os 10
mandamentos dados por Deus a Moisés no alto do Monte Sinai. Especula-se ainda
que os Templários teriam encontrado o Santo Graal – o cálice da última Ceia de
Jesus com os seus discípulos - e a cabeça embalsamada de Jesus. Fato este que
provaria que Cristo não teria ressuscitado.
Menos de meio
século após sua fundação, a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo
de Salomão só era pobre no nome. Reis e nobres da Espanha, França e Inglaterra
faziam pomposas doações. Castelos, propriedades, títulos de nobreza e
autoridade territorial desencadearam um processo de acumulação de milhares de
propriedades espalhadas pela Europa Ocidental, regiões do Mediterrâneo e
Palestina. Sua força militar e os votos de fé cristã a tornou também confiável
para fazer a coleta, o armazenamento e a entrega de barras de ouro, moedas e
outras riquezas de nobres europeus em seus países e na Terra Santa.
Os Templários
estabeleceram uma rede segura de locais para guarda dos tesouros e de
transporte de valores que passou a funcionar como uma espécie de banco
internacional para a realeza e os peregrinos da Terra Santa. Além de cobrarem
juros quando realizavam empréstimos das riquezas que guardavam - algo que
ironicamente era condenado pela Igreja - também lucravam com heranças que
recebiam de monarcas e nobres. Em meados do século 12 os Cavaleiros Templários
eram ricos, poderosos e independentes. Calcula-se que a Ordem chegou a acumular
nove mil propriedades espalhadas pela Europa e Palestina.
Ainda que ricos e
acumulando a inédita função de banqueiros internacionais, o que mais lhes
interessava era poder lutar. A mistura da habilidade com a espada, valentia,
fanatismo religioso e a arrogância, muitas vezes os conduziu a batalhas
suicidas, tornando-os verdadeiros guerreiros temidos por todos os inimigos.
As vitórias em
batalhas fizeram a reputação aumentar e com ela, as doações e o interesse de mais
pessoas participarem da Ordem. Mas a arrogância e a empáfia também aumentavam.
Além disso, a postura belicista começou a ser um problema para os governantes
cristãos na Terra Santa, que cercados por um mar de muçulmanos viam cada vez
mais a negociação com os adeptos do Islamismo como alternativa interessante
para garantir a sobrevivência, nem que fosse temporariamente.
Eles detinham a permissão
divina para matar os "infiéis". Nestes casos os Templários não
estariam desrespeitando os Dez Mandamentos, afinal não matariam homens e sim a
encarnação do "mal". O soldado de Cristo era o instrumento de Deus
para a punição dos malfeitores e para a defesa dos justos. Quando ele matava os
malfeitores, não se tratava de um homicídio, mas de “malicídio”.
A Ordem dos
Templários acabou perseguida e extinta há nove séculos, pela própria Igreja que
a apoiou e deu-lhe poder. Mesmo assim, não param de surgir narrativas sobre os seus
feitos. Muitas dessas lendas nasceram a partir da mistura de fatos históricos,
crenças religiosas e, principalmente, de suposições alimentadas pelos mistérios
que envolviam o funcionamento da Ordem. Lendas à parte, uma das evidências
sobre os Templários, confirmada por historiadores, é a bravura e o fanatismo
religioso que eles demonstravam. Isso os levou a cometer verdadeiras batalhas
suicidas na certeza de que detinham uma premissa messiânica onde Deus estava ao
seu lado.
Existem aqueles que
mantêm a convicção de que a Ordem dos Templários se encontra ainda hoje
presente em nosso mundo, ainda que sob outra definição. Continuam existindo
suposições que os seus membros se encontram em segredo para discutir negócios
desconhecidos, para conduzir rituais e para traçar o nosso destino da
humanidade em segredo.
São questões que
têm intrigado historiadores, investigadores e curiosos, mas a verdade acerca
dos lendários Cavaleiros do Templo irá continuar a ser um dos maiores mistérios
da humanidade. São páginas indeléveis da história que ainda não conseguimos
descortinar plenamente.