sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

POR UMA ÉTICA GLOBAL



Há uma ética que se encontra no âmago de toda a cultura consumista do século XXI. É desastroso perceber que os limites razoáveis de destruição do planeta já foram ultrapassados em mais de 30%. Nunca mais a humanidade vai poder conviver com a abundância de bens e serviços que usufruía até há pouco tempo. Cientistas afirmam que o Planeta precisaria de um ano e meio para repor o que lhe extraímos durante um ano. Em todo caso não parece que a fúria consumista esteja diminuindo. Muito pelo contrário, o sistema que hoje vislumbramos tem criado mais mecanismos que incentivam o consumo. O resultado acaba sendo catastrófico. Requer mais produção que acaba deteriorando todo o ecossistema. O Planeta agoniza. A sociedade e os que nela vivem estão prematuramente convalescentes.

A ética que orienta este modo de viver é a ética da maximização de tudo o que produzimos. Exageramos na construção das fábricas, estradas, automóveis. Não medimos as consequências da exploração indiscriminada das reservas naturais de petróleo. Não sabemos onde despejar materiais obsoletos em função dos avanços tecnológicos. Maximizamos os programas de entretenimento, as novelas, a pornografia, os cursos de autoajuda, a produção intelectual destituída de compromissos com a justiça e a cidadania. Ouvimos que a produção não pode parar, pois isto implicaria o colapso no consumo e, via de regra, nos empregos. No fundo, não nos preocupamos com o uso desproporcional dos limites que seriam suportáveis pela natureza.

Toda esta conjuntura nos remete a um dos maiores pensadores do século XIX, o alemão Friedrich Nietzsche que outrora asseverou que a “verdade não tinha importância, pois o ser humano dependia apenas de si mesmo”. Parafraseando Nietzsche, poderíamos perguntar até quando esta maximização consumista poderá suprir as necessidades mais latentes manifestadas pelo ser humano?

Creio que em dado momento haverá de ocorrer uma espécie de saturação e o efeito direto talvez seja o triste e calamitoso vazio existencial e a insustentabilidade da vida humana no planeta. E nesse momento o indivíduo descobrirá que a felicidade humana não está em possuir, em auferir uma grande soma em sua conta bancária, nem no número de bens que pôde amealhar ao longo da sua vida, mas na comunicação, na solidariedade, no amor, no cuidado, na busca pela transcendência. Todos, elementos que, por sua essência, podem crescer, multiplicar e se diversificar indefinidamente. Neles reside o segredo da felicidade.

É verdade que os seres humanos carecem de uma determinada quantia de suprimentos para sustentar a própria vida. Mas alimentos excessivos, maximizados, causam consequências físicas, psicológicas e sociais negativas. Que o digam os especialistas encarregados das últimas pesquisas no Rio Grande do Sul que observaram excesso de peso em mais da metade da população.

É preciso projetar uma outra ética, a da otimização. Ela se fundamenta numa concepção sistêmica da natureza e da vida enquanto dádivas. Excetuando-se o ser humano, todos os demais seres vivos presentes na natureza procuram otimizar as relações que sustentam a vida. Há uma busca pelo equilíbrio. Pelo aproveitamento dinâmico dos elementos inerentes ao ecossistema. Não se produz lixo indiscriminadamente e a qualidade da vida é condizente com o bem comum.

Na esfera humana, esta otimização teria que gerir uma busca por equidade e justiça. As bases materiais vivenciadas de forma ética, poderiam incentivar uma nova dinâmica solidária para com os mais vulneráveis, resgatando assim, a compreensão, a compaixão e o amor capaz de destruir mecanismos que geram preconceitos e que não permitem que as diferenças sejam construtivas na constituição das relações sociais e humanas.
Talvez a crise contemporânea nos permita vivenciar relações e desafios no sentido de resgatar o essencial na nossa história neste planeta. A vida enquanto dádiva que necessita ser protegida e adequadamente usufruída. Esta vida que celebra o mistério da existência e a gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres vivos. Desta forma, haveremos de perseguir uma nova ética global no conjunto de nossas potencialidades a caminho da plenitude, tão sonhada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário