Dentre as
manifestações capazes de abalar nossas estruturas, o medo está no topo da
lista, atingindo a todos de forma indistinta. Esse fantasma, tão real em
nossas vidas, materializa-se quando a sombra do perigo iminente se aproxima. O corpo
então, sem aviso prévio, reage produzindo alertas e prepara-se para o combate
ou a fuga. A verdade é que esse sentimento funciona como um mecanismo de
autopreservação, afastando ou nos preparando para situações que colocam a vida
em risco, fazendo-nos medir as possíveis consequências dos atos.
No entanto, desde a
antiguidade, os seres humanos se sentem amedrontados também por tormentos
imaginários, os quais possuem o incrível poder de deteriorar a capacidade de
raciocínio e fazer adoecer. Como dizia Shakespeare, o horror visível tem menos
poder sobre a alma do que o horror imaginado, motivo pelo qual a ansiedade, a
fobia e o pânico nos roubam a paz.
Parece que a cada dia
vamos criando monstros em nossas cabeças que corroem e atemorizam a alma ao nos
depararmos com o que é desconhecido, inexplicável ou o que fantasiamos ser
complicado. Essas sensações paralisam e limitam a capacidade de pensar e agir,
construindo um muro que nos limita e constrange.
Medo de viver, medo
do futuro, medo do abandono, medo das ausências e da falibilidade humana.
Sentimentos que se acentuam em fobias e que podem evoluir para o pânico, quando
então o desespero e a sensação de impotência no enfrentamento de sofrimentos e
perdas tomam uma proporção capaz de levar até ao extremo do suicídio.
Nas crianças, imersas
na fase da descoberta do mundo, o temor é quase palpável. Algumas têm medo do
bicho papão, do escuro, de ficar sem os pais nos primeiros dias de aula, de
tomar vacinas. Já nos jovens, o medo se veste e reveste de outras cores. Medo
de enfrentar os desafios de morar sozinho, de não ser aceito no grupo, de não
encontrar um amor verdadeiro e de decidir sobre os rumos de sua vida
profissional e afetiva. Nos adultos, a sombra do medo se estende à
possibilidade de não conseguir pagar as contas do mês, de perder o emprego, de
não ser um bom provedor para a sua família e de não saber educar bem os filhos.
Receio que seja
indispensável ter humildade para assumir que somos imperfeitos, errantes num
mundo em constante mutação. É necessário aceitar transformar o próprio pensar,
sentir e agir, além de compreender que a maravilha de viver implica em
desbravar novos horizontes, arriscando trilhar caminhos ainda sem respostas
prontas. Como diria Charles Chaplin - a vida pode ser mais bela quando não se
tem medo dela.
O medo está e sempre
haverá de acompanhar nossa jornada. Mas em cada pequeno triunfo, cada página
virada, cada minuto que soubemos superar os obstáculos da existência e espantar
para mais longe a dor, a tristeza e a saudade, somos lembrados de que a vida
acontece verdadeiramente, quando a coragem é multiplicada, a fé partilhada e a
esperança perseguida.
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