sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

MEDO DO INVISÍVEL



Dentre as manifestações capazes de abalar nossas estruturas, o medo está no topo da lista, atingindo a todos de forma indistinta. Esse fantasma, tão real em nossas vidas, materializa-se quando a sombra do perigo iminente se aproxima. O corpo então, sem aviso prévio, reage produzindo alertas e prepara-se para o combate ou a fuga. A verdade é que esse sentimento funciona como um mecanismo de autopreservação, afastando ou nos preparando para situações que colocam a vida em risco, fazendo-nos medir as possíveis consequências dos atos.

No entanto, desde a antiguidade, os seres humanos se sentem amedrontados também por tormentos imaginários, os quais possuem o incrível poder de deteriorar a capacidade de raciocínio e fazer adoecer. Como dizia Shakespeare, o horror visível tem menos poder sobre a alma do que o horror imaginado, motivo pelo qual a ansiedade, a fobia e o pânico nos roubam a paz.

Parece que a cada dia vamos criando monstros em nossas cabeças que corroem e atemorizam a alma ao nos depararmos com o que é desconhecido, inexplicável ou o que fantasiamos ser complicado. Essas sensações paralisam e limitam a capacidade de pensar e agir, construindo um muro que nos limita e constrange.

Medo de viver, medo do futuro, medo do abandono, medo das ausências e da falibilidade humana. Sentimentos que se acentuam em fobias e que podem evoluir para o pânico, quando então o desespero e a sensação de impotência no enfrentamento de sofrimentos e perdas tomam uma proporção capaz de levar até ao extremo do suicídio.

Nas crianças, imersas na fase da descoberta do mundo, o temor é quase palpável. Algumas têm medo do bicho papão, do escuro, de ficar sem os pais nos primeiros dias de aula, de tomar vacinas. Já nos jovens, o medo se veste e reveste de outras cores. Medo de enfrentar os desafios de morar sozinho, de não ser aceito no grupo, de não encontrar um amor verdadeiro e de decidir sobre os rumos de sua vida profissional e afetiva. Nos adultos, a sombra do medo se estende à possibilidade de não conseguir pagar as contas do mês, de perder o emprego, de não ser um bom provedor para a sua família e de não saber educar bem os filhos.

Receio que seja indispensável ter humildade para assumir que somos imperfeitos, errantes num mundo em constante mutação. É necessário aceitar transformar o próprio pensar, sentir e agir, além de compreender que a maravilha de viver implica em desbravar novos horizontes, arriscando trilhar caminhos ainda sem respostas prontas. Como diria Charles Chaplin - a vida pode ser mais bela quando não se tem medo dela.

O medo está e sempre haverá de acompanhar nossa jornada. Mas em cada pequeno triunfo, cada página virada, cada minuto que soubemos superar os obstáculos da existência e espantar para mais longe a dor, a tristeza e a saudade, somos lembrados de que a vida acontece verdadeiramente, quando a coragem é multiplicada, a fé partilhada e a esperança perseguida.

Eis o grande mistério de nossa existência. Lembrar sempre que o MEDO DE SOFRER não seja maior que a vontade de SONHAR, de REALIZAR, de AMAR...

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