(A desgraça de uns é o bem de outros)
Como brasileiro que aspira viver em um país
mais digno, igualitário, humano e amparado em valores e verdades que
transcendam ao cinismo exacerbado por pessoas e instituições, tenho me perguntado
como haveremos de explicar, no futuro, que a roubalheira de empresários imorais
e políticos inescrupulosos acabou sendo sintetizada de maneira conveniente e oportunista
pela grande mídia por semanas, meses, anos, como se estivesse limitada, quase que
por completo, a UM partido e a UMA figura em particular? A despeito de culpas
ou culpados, parece ser mais fácil omitir como fomos constituindo a nossa
identidade como nação ao longo dos séculos.
A corrupção no Brasil é endêmica. Gostamos de
cobrar dos outros, mas entre a esperteza e a trapaça é o jeitinho e a
malandragem que vai acontecendo ao furar a fila, ao não respeitar o sinal
vermelho, a faixa de pedestres, a vaga para idosos ou deficientes, ao sonegar o
imposto de renda, inventar desculpas para faltar ao trabalho, encontrar
dinheiro pela rua e não devolver. A coerência é muito cobrada, mas pouco
exercitada. Atitudes assim explicam muito bem a realidade de um país no qual,
na maioria das vezes, "os outros são os corruptos". Menos,
obviamente, quem aponta o dedo e solta o verbo para cobrar uma pretensa “moralização”.
Arrisco dizer que caráter vem de berço ou quando se tem vergonha na cara e um pouquinho
de discernimento.
O sistema político e partidário brasileiro é
um escárnio. O congresso, salvo exceções, é uma quadrilha comandada por
pilantras da pior espécie que não cumprem e não têm a menor intenção de balizar
suas atitudes a partir das normas que regem uma sociedade comprometida com a
ética, verdade e a justiça. A maioria foi eleita por gente que se diz “de bem”,
mas que agora anda buscando “salvadores da pátria”, notadamente, marcados de
forma retumbante pela mediocridade em suas propostas. O mandatário desta
republiqueta é um inepto apoiado por uma meia dúzia. Em meio a tantas
extravagâncias, esqueceu, a muito, do bom senso quando enaltece uma suposta
coragem ao esquadrinhar medidas alheias ao clamor popular. Pior, nem se
constrange por estar metido em tramas esdrúxulas que vão pipocando todos os
dias. Formou seu ministério por alguns dos mais notáveis picaretas e plutocratas
que esta nação já conheceu.
É esta turminha que comanda o espetáculo
neste nosso Brasil. Indivíduos que, na sua maioria, não tem qualquer estatura
ética ou moral para liderar uma nação. São estes que parecem ter anestesiado
qualquer senso crítico mesmo com tantos despropósitos e um discursinho infame sendo
vomitado todos os dias. É esta gente que espera garantir e resguardar seus
próprios privilégios e condenar gerações a uma saúde cada vez mais precária e
uma educação, a muito, em frangalhos. São estes que dizem que a tal crise
haverá de ser superada com “medidas impopulares”. É lógico, para quem ganha
bem, fica no ar condicionado, com privilégios assegurados, é fácil falar em
sacrifícios, sempre dos outros, claro!
É esta gente que tem a cara de pau de exigir
que os brasileiros, sobretudo os mais vulneráveis, trabalhem até o infinito
para receber alguma esmola sabe Deus quando? São estes que tem a audácia de
falar em esforço de TODOS para um futuro melhor à custa de fanfarrices,
banquetes e jantares? E tudo isso para entregar mais dinheiro aos bancos,
seguir comprando seus anéis, relógios, iates e usufruindo as infindáveis e
abjetas benesses a partir de uma ordem jurídica, a muito, uma vergonha neste
país! Ah, sinceramente, haja paciência! Até quando teremos que suportar tantos
absurdos? O que revolta e tira do sério é a desfaçatez, o cinismo e a
hipocrisia sem limites.
Quando a equidade deixa de ser o caminho, a
lógica que orienta uma sociedade é sempre a louvação a um punhado de gente que
se aproveita das desgraças para alardear receitas fáceis alinhadas com o senso
comum. De que adianta este palavrório evasivo e as tais promessas de redução de
juros, retomada do crédito, estímulos econômicos, projeções de crescimento do
PIB ou controle da inflação se o Brasil está dominado por máfias e foi entregue
à bandidagem na política, na economia, no judiciário e nos presídios? Somente
um governo legitimado pelo sufrágio popular teria condições de retirar o país
desta catástrofe econômica, social e humanitária.