São as pequenas coisas que fazem a diferença.
Momentos nos quais só precisamos contar com alguém que possa enxugar nossas
lágrimas, dividir as alegrias, brindar as conquistas. Sem interesses, sem
precisar pedir nada em troca. Doação mútua. O prazer de contemplar o mundo,
caminhando sem pressa, dividindo a vida, os sonhos, transformando as
dificuldades em lições.
É angustiante perceber que em muitos momentos
a vida não passa de competição, de batalha, de constante disputa. Para cada sucesso,
inúmeros podem provar a dor do fracasso. Esquizofrenia diabólica alimentando a
desenfreada corrida pela sobrevivência dos mais fortes. Tudo o que consideramos
vitória se resume a continuar, perseverar, superar-se, cotidianamente.
Perseguir as sombras. Procurar a luz. Correr atrás do vento.
A história ensina que os fracos desistem, os
pessimistas contribuem para o desespero e os “donos da razão” almejam
concretizar um mundo a partir de suas ambições mesquinhas. A verdade
reside na partilha, na sensibilidade, na aceitação das imperfeições. O
filósofo grego Epicuro, por volta do século terceiro antes de Cristo, sublinhou:
“nem posse das riquezas, nem abundância
das coisas, nem obtenção de cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança;
produzem-na a ausência de dores, a não moderação nos afetos e a disposição de
espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza”.
É lamentável que a vontade de agradar ou de
convencer os outros pelo imperativo do sorriso fácil e caricato acabe sendo,
hoje, muito maior do que a vontade de ser verdadeiro. Não aceitamos
imperfeições. Vamos mascarando eventuais defeitos e imprecisões. Vive-se o
mundo da mentira e do faz de conta. Quantas e quantas vezes a fuga vira
estratégia que alimenta a incapacidade para confrontar-se com as próprias
dificuldades. Acabamos temendo o que é importante. Temos dúvidas naquilo que é
essencial. Sofremos por enxergar a dimensão de nossas escolhas.
Trocamos a espontaneidade pelo orgulho. A
franqueza pela persuasão. Subestimamos quem nos ouve e enxerga. Evitamos a
autenticidade a qualquer custo. Não vemos dilemas éticos ou morais para que a
mentira sirva de atalho para o reconhecimento. Premeditamos nossas ações e
condutas para que sejam dignos de elogios. Desviamos algum caminho. Distorcemos
alguma frase. Remodelamos algum episódio do passado. Condenamos com facilidade.
Invertemos a regras do jogo.
Esbarramos nos limites do tempo. É ele,
soberano, que vai definindo os acontecimentos e condicionando nossas
inquietudes. É ele que permite direcionar os olhos para os recônditos mais
obscuros de nossa existência. É ele que nos faz sobreviver nesta ânsia
incontida das esperas. Aonde a vida vai sendo tecida a partir de movimentos
alheios ao nosso desejo de não sofrer, não chorar, não ser asfixiado pelas palavras
que engasgam na garganta.
Viver supõe uma incomensurável necessidade de
aprender mesmo que por caminhos sinuosos. O grande desafio é o de guardar as
lembranças advindas de momentos bonitos ou de cicatrizes que suscitaram lições.
A beleza da vida não está em saber estas coisas, mas em não esmorecer quando
nos sentimos frágeis e pequenos. A vida não é o que sabemos, mas o que fazemos
com aquilo que encontramos na nossa jornada.
O saber de todas as bibliotecas jamais poderá
alcançar as maiores verdades do universo. A beleza dos museus e as grandes
exposições de arte, sempre serão apenas fragmentos da criatividade humana
se não forem sentidas com o coração.
O importante é saber, mas o mais importante é nunca perder a capacidade de
sentir e vivenciar as experiências da jornada. A prisão verdadeira é não saber
quem sou de onde venho e para onde vou. Ou como dizem os navegadores, nenhum
vento é favorável para aquele que não sabe onde pretende chegar.
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