sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

OBSTINAÇÃO

Vida. Estranha e paradoxal existência revestida, todos os dias, pelo signo da obstinação. Receios. Medos. Intimidações... Persistir. Teimar. Ser empurrado para o imponderável.

Não sucumbir diante das decepções. Perseverar a despeito daquilo que insiste em ser reprisado pelo inconsciente.

Receio que não valha a pena tentar mover montanhas. Quisera esquecer-me de contar os dias. Não desperdiçar tempo. Não me envolver com frágeis idealismos nem construir castelos improváveis.

Não abraçar projetos numa fuga dantesca das próprias inquietudes. Não quebrar espelhos. Não ter delírios confundindo esperança com messianismos.

Desenraizar-se. Perceber o vazio que embaça os olhos e inunda a mente. Coração que sangra. Vazio tenebroso.

Ser roubado de si mesmo pela desfaçatez de uma vida circunstancial. Imperativo de beleza, justiça e bondade na profusa e distante memória pregressa.

Como desejaria redescobrir a essência humana para encara-la sem subterfúgios. Saber auscultar aquilo que as palavras não podem multiplicar.

Reverenciar as sutilezas do mundo que nos cerca. Fazer retumbar no peito a esperança capaz de dispersar qualquer vaidade. Recobrar a serenidade.

Encarar os silêncios para apaziguar os olhos. Sarar feridas. Distanciar-me da falsidade e do egoísmo. Plenificar os sentidos da mais profunda sensibilidade.

Burilar as pedras da jornada. Cultivar a quietude. Encontrar a paz na vida percebida como dádiva imerecida em meio aos percalços e descaminhos da existência.

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