sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Teologia da Prosperidade


Já faz tempo que tenho percebido a forma ardilosa e interesseira que muitos pregadores utilizam para manipular seus fiéis com propostas que se fundamentam em uma doutrina absolutamente desqualificada e inconseqüente.
Com promessas de cura e libertação para todas as situações da vida, estes pseudopastores não leem o Evangelho a partir da humildade, do serviço e do amor. Preferem muito mais referendar os princípios de uma sociedade globalizada e excludente. Uma sociedade onde poucos conseguem alcançar o sucesso. Uma realidade onde se julga a fé das pessoas pelos bens materiais que o indivíduo conseguiu amealhar.
Não me conformo com a Palavra de Deus sendo utilizada de forma tão leviana e mesquinha. Estou farto desta tal teologia da prosperidade. Cansei de ouvir pregadores inescrupulosos dizendo que precisamos decretar a nossa vitória e visualizar a nossa bênção material. Cansei de ouvir pregadores gritando para Deus e exigindo seus caprichos. Cansei de ouvir pregadores dizendo que “salário mínimo” não é coisa de crente abençoado verdadeiramente por Deus.
Pense e compare se esta teologia não está por aí defendendo que os cristãos deveriam morar em mansões, exibir carros de luxo e nunca ficarem doentes. Observe se esta teologia não está valorizando mais as coisas terrenas do que aquelas que são do céu. Perceba se esta teologia não está fazendo barganha com Deus, onde você contribui e Ele devolve com juros, correção monetária e muitos dividendos.
Honestamente, creio que esta teologia ama mais o dinheiro que o próximo. É consumista, utilitária e acaba tratando Deus como se fosse o Papai Noel.
Estou cansado desta teologia da ganância, cujo principal objetivo é fazer com que as pessoas atinjam a independência financeira. Cansei dessa teologia desconectada da vida cotidiana com seus altos e baixos e que argumenta que Jesus nunca foi pobre. Cansei desta retórica que tem criado uma geração de decepcionados nas igrejas, por que supostamente, não tem alcançado fé suficiente para encontrar as “bênçãos”.
Se você, estimado leitor ou leitora, também se cansou, não da prosperidade - que é dádiva de Deus - mas desta teologia que faz dela o principal alicerce da vida cristã, então proteste comigo.
Lembre-se, a teologia da prosperidade é diabolicamente perversa e mentirosa, porque induz os filhos e filhas de Deus a buscar a riqueza, por concluir que esta seja mais importante do que a transformação do ser humano em instrumento de justiça, entendimento, paz e amor aqui neste mundo. Portanto, em todas as situações desta vida, jamais esqueçamos que a salvação sempre será dádiva divina aceita pelo ser humano pela fé e concretizada no serviço dedicado ao próximo. Pense nisso!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A Retirada dos Símbolos Religiosos dos Tribunais

Sou Teólogo Protestante e me considero um estudioso do fenômeno religioso na dimensão em que este possa ser compreendido e qualificado como norteador de princípios éticos, morais, culturais, religiosos e de comportamento para toda a sociedade constituída. Compactuo e me sinto inserido no âmbito de uma religiosidade minoritária em nosso país – o protestantismo histórico.

Surpreende-me, em particular, toda a discussão ensejada por aqueles que querem nos fazer assumir uma prerrogativa contrária a retirada dos símbolos religiosos das repartições públicas do judiciário brasileiro. Penso que desta forma estamos tão somente rasgando a nossa lei maior – a constituição federal, que declara, insofismavelmente, sermos uma nação laica. Tanto que sublinhamos nossa condição constitutiva política numa clara separação entre a Igreja e o Estado. Portanto, não compete ao Estado Brasileiro favorecer esta ou aquela denominação religiosa.

Reafirmo sem receio de que todo e qualquer símbolo religioso não possui espaço em lugares públicos, pois fere o princípio da liberdade religiosa,tão cara, em nosso país.O Estado não tem religião. E desta forma, o espaço público não deveria ostentar símbolos religiosos, já que qualquer um deles representaria a crença de apenas uma parcela da sociedade.

Caberia inclusive avaliar o significado dos símbolos religiosos nos Tribunais desta nossa prodigiosa nação na medida em que estes podem ser observados como espaços onde, bem sabemos, os mais desfavorecidos têm menos direitos que os mais abonados. Onde, lamentavelmente, temos visto exemplos de sentenças que são barganhadas, vendidas e até compradas.

Entendo os argumentos intransigentes pela permanência dos símbolos religiosos nos Tribunais na medida em que estes serviriam de advertência contra todas as injustiças. E que para que estas não mais se repetissem. Também entendo como incontestável, todavia, o mal em consequência de um símbolo religioso não passar de uma decoração inútil, quando falta a decência, a altivez e a humildade de grande parte das autoridades que se encontram a serviço do povo, e diante disto serve-se dos tribunais para oprimi-lo.

Gostaria que entendessem bem a minha abordagem. Proponho e defendo que ser parte de uma nação laica não pressupõe que se é contra determinadas religiões, mas que nos cabe defender veementemente uma posição institucional que respeite o direito de todos à opção religiosa numa sociedade marcada pela diversidade. Essa laicidade do Estado deveria ser observada pelas instituições judiciárias, pelas escolas, pelos sistemas de saúde e por todos os serviços garantidos a todos os cidadãos e cidadãs, sem distinção sexual, de cor, origem social, opção partidária ou filiação religiosa. Defendo que o fortalecimento da laicidade do Estado é uma das condições fundamentais para a afirmação da democracia e da cidadania em nosso país.

É preciso parar com esta falsa compreensão de que a retirada dos símbolos de uma religião é uma ofensa, quando na verdade, representa a possibilidade de que todas as crenças não sejam discriminadas pelo Estado. Talvez estejamos iniciando um novo tempo para que o assunto possa ser debatido em outras instâncias, como nas escolas públicas, onde ainda é muito comum a presença de símbolos católico romanos. As pessoas devem ser livres para portar os símbolos religiosos que acharem conveniente. Mas as instituições públicas não podem ser espaços privilegiados para uma única religião.

O cidadão judeu, muçulmano, budista, espírita, ateu, é tão brasileiro e detentor de direitos quanto os cristãos. Tem os mesmos direitos constitucionais assegurados de não se sentir discriminado pela ostentação de símbolos de uma outra religião diferente da sua crença, ainda que majoritária.
Concordo com aquilo que acentua o Frade Paulista, Demetrius dos Santos Silva: “É preciso retirar os símbolos religiosos das repartições públicas, porque certamente Cristo não abençoaria a sórdida política brasileira, causa das desgraças, misérias e sofrimentos dos pequenos, dos pobres e dos menos favorecidos”.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Os Cristãos de Hoje



No decorrer da histórica da humanidade o lugar de Deus foi colocado, primordialmente, segundo os contextos culturais, sociais, políticos e econômicos. Se olharmos os países mais desenvolvidos, veremos que a questão de Deus sempre foi permeada pela expansão ateísta. Por outro lado, a própria sociedade acabou se organizando sem contar com a existência de Deus, ou pelo menos, sem a sua interferência direta. A modernidade nos legou um alto grau de racionalismo.


Do ponto de vista histórico, o ser humano vem se confrontando com sucessivas crises a partir da queda dos pilares essenciais da civilização contemporânea. Ocorreu uma crise da concepção do ser humano, que de acordo com Rousseau - era naturalmente bom. Percebe-se uma crise da concepção da história, linearmente ascendente, conforme ensinava o positivismo de Augusto Comte. Há também a crise da concepção do conhecimento, de possibilidades ilimitadas geradas pelo método científico. E não por último, a crise das utopias constituídas – marxismo e leninismo. Segundo esta conjuntura, “um homem bom”, dotado de conhecimento ilimitado, construiria uma história ascendente em direção ao paraíso aqui e agora. Tudo isso falhou. Esgotou-se o tempo das “certezas” reforçadas pelo maniqueísmo exagerado.


Diante da crise da civilização, me parece que os cristãos poderiam ser identificados na atualidade a partir de algumas premissas significativas:


- Dar respostas adequadas com anos de atraso;
- Isolar-se ou encapsular-se no ativismo religioso;
- Entrar em crises de fé e compreendê-las como conseqüência de uma estrutura eclesiástica inócua e pautada pela burocracia;
- Exagerar na escatologia e no catastrofismo;
- Repetir experiências de outros lugares e épocas como, por exemplo, os puritanos, ascéticos, etc.


Diante destes novos caminhos, parece-me que os cristãos estão vivendo a partir de pelo menos 3 situações bastante peculiares:


- Os que se encontram dentro dos muros e que oram – “Obrigado, Senhor, pela bênção de estar do lado de dentro”.
- Os que estão fora dos muros, mas são conservadores, e que oram – “Senhor, queremos passar para dentro, dá-nos a bênção; somos todos filhos do Rei”.
- Os que estão fora dos muros, mas são progressistas, e que por isso oram – “Senhor, derruba os muros”.


A sociedade contemporânea tem conduzido para uma maior subjetividade. Vivenciamos relações mais abertas, com menos necessidade de certeza em relação ao futuro e com maior limitação de instrumentos para enfrentar as carências existenciais e do sofrimento psíquico cotidiano. Vivemos um período onde as pessoas se aproximam da igreja por acreditar que este seja capaz de resolver as mazelas e vicissitudes mais imediatas de sua caminhada.


Parece que nas comunidades protestantes históricas, talvez ainda se busque um sistema mais racionalizado da vida. O indivíduo se aproxima destes grupos, muitas vezes, por causa da relação fraterna e de apoio mútuo que se estabelece nesse contexto.


É interessante observar ainda que, no mundo atual, uma boa parcela das pessoas busca outro tipo de religiosidade. Aquele voltado às sensações e promessas de sucesso e felicidade imediatos. A racionalidade protestante propunha a construção de uma identidade específica e abrangente. Infelizmente parece que esta mesma racionalidade tem servido de critério para ajuizar questões morais e teológicas. Tolhe-se o princípio da liberdade individual e se proclama e legitima apenas um determinado tipo de experiência religiosa.
O Deus da minha fé punha os seres humanos acima da lei e o amor no lugar das velhas concepções. Todos os dias ele morre crucificado pelo nosso egoísmo. Todos os dias ele ressuscita.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A SOCIEDADE EM REMODELAÇÃO


 
Parece bastante óbvio que a cultura compreendida enquanto processo social advindo de hábitos e tradições de um povo e também de sua produção de bens e serviços culturais, acabou por se tornar uma mercadoria e passou a ser encarada como um recurso capaz de criar identidade social, desenvolvimento econômico e uma dinâmica que impulsiona para o sentido da globalização. Se olharmos com cuidado, veremos que a cultura está sendo dirigida nos tempos modernos, em boa medida, como um recurso para garantir um determinado status sócio-político e econômico. A conseqüência tem sido os conflitos acerca da cidadania.

O cultural adquiriu importância estratégica. Já que o sentido mais “simbólico” engloba um modo de vida da sociedade. Vive-se uma transição dos hábitos e práticas de consumo da sociedade com a substituição de bens materiais por imagens, signos, experiências e bens simbólicos.

A sociedade de consumo pós-moderna está associada a toda uma gama de valores, desejos, hábitos, gostos e necessidades numa escala extremamente intensificada. No contexto pós-moderno, a estetização da vida cotidiana e o triunfo do signo retratam a subordinação da produção ao consumo sob a forma de marketing, com uma ascensão cada vez maior do conceito de produto, do design e da publicidade.

Há uma pluralidade de consumidores através de um processo governado pelo jogo da imagem, do estilo, do desejo. Ocorre uma atribuição de estilos de vida de acordo com os critérios de mercado.

Para o sociólogo Anthony Giddens, é essa mercantilização do consumo que acaba participando dos processos da contínua reformulação das condições da vida cotidiana; estimula o crescimento econômico ao estabelecer padrões regulares de consumo promovidos pela propaganda e outros métodos; também força as pessoas a lidarem com a descartabilidade, com a novidade e as perspectivas de obsolescência instantânea.

Como conseqüência da velocidade do tempo de vida dos produtos e serviços e, logo do consumo, temos a volatilidade e efemeridade de modas, técnicas de produção, processos de trabalho, idéias e valores; e no campo específico das mercadorias, a ênfase nos valores e virtudes.

Na modernidade, temos agora a configuração de uma  transitoriedade que parte do princípio de que é economicamente racional construir objetos baratos, que não podem ser consertados e que sejam descartáveis, ainda que eles possam durar menos. Este é um princípio impulsionador do consumo, que leva os indivíduos a uma ligação por períodos muito curtos com uma sucessão de objetos, os quais, em uma estratégia de lucro, vão se tornando obsoletos.

Ao forçar as pessoas a lidar com a novidade, a cultura de consumo pós-moderna faz com que o indivíduo perca sua capacidade de organizar coerentemente seu passado e seu futuro. A vida deixa de ser um projeto com um significado. As práticas resultam numa série de fragmentações do tempo vivido.

O indivíduo pós-moderno enfoca determinadas experiências e imagens desconectadas e isoladas que não se articulam em seqüências coerentes, sempre com imediatismo. Quer dizer que o tempo e a história não constituem mais uma lógica compreendendo processos e relações sociais reais.

A história reduz-se a estilos, referências, imagens, objetos que podem acontecer independentemente de seus contextos originais. Poderíamos parafrasear Giddens, dizendo que a sociedade contemporânea produz a “apatia em relação ao passado; renúncia sobre o futuro e uma determinação de viver um dia de cada vez".

Para que avancem os ideais de respeito à dignidade da pessoa humana é indispensável que se compreendam as diferenças de história, de percepção de mundo, de culturas. Com a eliminação dos preconceitos, com o estabelecimento de pontes de comunicação e diálogo, avanços poderão ser obtidos, trocas poderão ser feitas, enriquecimento recíproco de culturas poderá ocorrer.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O Valor da Palavra




 
A deformação ética brasileira parece estar enraizada na nossa própria identidade. Ela é histórica. Em nome de uma suposta “governabilidade”, qualquer partido que alcance o poder é capaz de propugnar alianças esquisitas. Políticos anacrônicos se mantêm poderosos. Não parece ser problema andar de mãos dadas com oligarcas. Poucos se importam com falcatruas contábeis, desvio ou lavagem de dinheiro. Toleram-se os ratos desde que se mantenham ortodoxos.

Um partido não pisca duas vezes antes de se vender ao diabo. Importa eleger o maior número de candidatos. As ditas bancadas evangélicas se digladiam para povoar o céu. Vale qualquer artifício para levantar recursos. Para viabilizar a obra de Deus torna-se imperioso a ostentação em redes de televisão, demostrando empatia, jovialidade e determinação. Poucos haverão de se eleger no Brasil sem beijar a mão de caudilhos.

Vinga o estereótipo de que as ambições burguesas prevalecem nos ideais da maioria da população brasileira. O palanque dos comícios acabou se transformando em palco de showmícios. As sacristias foram cedendo lugar para os camarins. Os laboratórios instrumentalizados para auferir vantagens e dividendos monetários. Carrinho novo, com prestações a perder de vista, formando engarrafamentos gigantescos.

A felicidade cotidiana parece estar diretamente relacionada à liberdade de nossas escolhas mesmo que estas estejam recheadas de ambiguidades éticas e morais. Não é raro perceber indivíduos que trazem consigo o sentimento de um vazio existencial que sufoca o peito e faz lembrar que somos frágeis e finitos. Ainda que sejamos capazes de perceber nossas incompletudes, não ousamos percorrer caminhos que não permitam alguns minutos de reconhecimento e prestígio. Negligenciamos aquilo que está no nosso coração e criamos uma realidade repleta de artificialismos. Acostumamo-nos com os sorrisos plásticos. Com a esperança transformada em frase de efeito.

Nunca o conhecimento pragmático da modernidade esteve tão distante da suposição da dúvida. Certezas, sempre. Importa parecer inabalável. Fundamentalismo, outrora uma patologia religiosa, foi se estendendo para o âmbito da política e a militância do terceiro setor. As redes sociais vão favorecendo e proliferando o recurso da farsa. O teclado virou trincheira. Mobilização, nos dias atuais, não parece estar mais nas ruas. Impera o anonimato.

Os processos de alienação do mundo neoliberal são cada vez mais eficientes. A indústria da propaganda expressa e plenifica um sentido de vida para cidadãos e cidadãs. Poucos atentam para os danos ou implicações desta realidade que submete milhões a morrerem de fome no Sudão, nas Filipinas, no demonizado Afeganistão. Crianças que vivem nas ruas, vítimas do abandono, da fome, das guerras. Presas fáceis das máfias da prostituição, da delinquência, do narcotráfico, da pornografia, da mendicância e dos esquadrões da morte.

Conceitos como liberdade, democracia, soberania, direitos humanos, solidariedade, tornaram-se tão levianos e ocupam menos espaço no dia a dia da publicidade do que as palavras cruzadas, as notícias das novelas e o horóscopo. Aturdidos por conversa mole e falsas promessas, esmagados por palavras vazias, sem alma e paixão, os seres humanos vivem cada vez mais isolados, tristes, sem perceber caminhos que os façam encontrar o sentido da justiça, do amor, da paz.

Palavras sem verdades. Ditas sem o menor respeito a si mesmo e aos semelhantes. Apenas para cumprir determinada obrigação, confundir, ganhar tempo, livra-se da própria responsabilidade. Palavras carregadas de mentira e frivolidade. Palavras sem alma nos discursos políticos, nos sermões religiosos, nos ensinamentos de professores. Palavras intoxicadas de pura retórica, vacuidade, academicismo sem preocupação com um mundo melhor.

Será impossível construirmos um país, um mundo e uma sociedade plena de sentido para todos os seres humanos enquanto a palavra não tiver valor. Enquanto o falso e o verdadeiro forem meios igualmente válidos para alcançar um objetivo. Fizemos de nosso mundo uma verdadeira Torre de Babel no qual, ao matarmos o valor da palavra, não percebemos que já não conseguimos mais exercitar a partilha, a comunicação, o entendimento.

Necessitamos, com urgência, recuperar o valor da palavra. Aprender e reaprender a falar e a escutar palavras encarnadas no comportamento, na coerência, no fazer. Somente a coerência poderá sacudir consciências, animar, transformar e libertar para a vida em plenitude.