sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

“Novas” Igrejas e “Novos” Pastores


Se, de um lado, as mudanças decorrentes do processo de secularização geraram uma crise nas instituições religiosas tradicionais e, por conseguinte, em seus líderes, de outro lado, essa crise foi agravada devido às mudanças ocorridas no campo religioso brasileiro. Tais mudanças estão relacionadas com o aparecimento dos novos movimentos religiosos, que entraram numa acirrada concorrência com as instituições tradicionais pela produção e distribuição de bens simbólicos. Entre os novos movimentos religiosos, estão as Igrejas neopentecostais, que, surgidas nos últimos tempos do século XX, são o “principal fator de desestabilização do campo religioso protestante no Brasil”.

À frente desses grupos estão líderes portadores de um novo perfil pastoral.

Entre eles é possível encontrar o animador de auditório, o pastor-cantor, o especialista em estratégias de marketing e de comunicação social, o tele-pastor, o pregador que cura, exorciza e pede dinheiro, sem qualquer pudor. A ação ágil desse novo tipo de pastor se torna um desafio para os pastores protestantes tradicionais, que percebem que as fronteiras, as demandas e até o treinamento recebido no Seminário para o exercício de sua profissão, estão em turbulência, se movem e rapidamente se tornam inoperantes.

Nessas Igrejas, quase sempre, há duas categorias de pastores: os nomeados e os consagrados. Os nomeados são pastores auxiliares, os quais, como o próprio nome indica, auxiliam os pastores mais experientes nas atividades. Para que um pastor nomeado se torne consagrado, é necessário que ele seja casado e se revele um bom arrecadador de dízimos e ofertas, já que essa aptidão, para a liderança, é um sinal inequívoco de que seu ministério está ‘abençoado’ por Deus.

O trabalho de um pastor consagrado dentro da igreja consiste em acompanhar os fiéis, celebrar os cultos e realizar todas as atividades de um templo.  Coordenar a equipe de pastores auxiliares e obreiros. Além disso, ele deve atuar no palco-altar como ator, pregar, curar, atender pessoas no local de culto, estar à disposição do setor de publicidade da Igreja, liderar o público durante o culto, distribuir os sacramentos, contar as ofertas, elaborar mapas de freqüência, relatórios financeiros, assim como outras tarefas orientadas pelo ‘pastor regional’ ou bispo.

É importante lembrar que nestas Igrejas ocorrem de quatro a cinco cultos diários, o que implica dizer que os pastores têm um ritmo alucinante de trabalho. Porém, há uma atividade que os pastores quase não realizam: assistir às famílias enlutadas. Uma explicação é a de que estas novas denominações religiosas encarnam o comportamento típico da sociedade urbana e industrial, na qual ocorreu um esvaziamento da morte.
Quanto à formação teológica os pastores praticamente não a possuem, por uma razão muito simples e prática: Além do dinheiro e do tempo “desperdiçados” durante os estudos teológicos, essa formação poderia provocar a diminuição do zelo e do fervor, distanciando-os das necessidades imediatas dos fiéis.

É no dia a dia que o pastor assimila, não somente um universo simbólico, mas sobre tudo as melhores técnicas de como trabalhar em público. Recebe, portanto, um preparo prático no próprio palco das celebrações. É ali, junto a outro pastor e, sob a sua orientação, que ele aprende coisas essenciais como dar um bom conselho, realizar milagres e fazer exorcismos.

O culto assemelha-se a um teatro de arena, no qual o pastor é o ator principal, que tem o seu desempenho avaliado com base na sua produtividade. É isso que distingue o pastor de sucesso. Assim, quanto mais arrecadar, mais milagres realizar, mais fiéis adentrarem no seu templo, mais ele terá condições de ser promovido na hierarquia eclesiástica. Portanto, seu desempenho na área financeira será determinante para que ele obtenha uma série de vantagens, como, por exemplo, acesso a programas de rádio, aparições na TV e, principalmente, nomeação para templos maiores, com salários maiores.

O uso da mídia, principalmente a TV, é fator determinante para o sucesso de uma instituição religiosa. O pastor tradicional fica limitado ao trabalho em sua comunidade local, quando muito nos arredores da igreja. O pastor ligado as “novas” Igrejas tem na mídia a principal forma de expandir as suas fronteiras religiosas.

O fiel torna-se um peregrino ou turista religioso, tornando o tradicional acompanhamento pastoral uma missão quase impossível. O pastor de outrora, tão dependente do antigo modelo, fica perplexo diante da instabilidade dos fiéis, principalmente dos jovens, que buscam em igrejas com música gospel ou no rock evangélico uma forma de socialização no contexto de uma cultura moderna.

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