quarta-feira, 31 de outubro de 2018

VOCAÇÃO

Espero esvair-me diminuto na correnteza suave de algum rio.
Não desejo voltar ao pó, mas transubstanciar-me em águas serenas.
Ouso imaginar que minhas cinzas sejam espalhadas ao vento.

Depois de tanto procurar, espero apenas seguir o curso da corrente,
Eternizar-me despretensioso e calmo para fluir na constância.
Diluído, anseio perpetuar-me nos caminhos altaneiros do porvir.

Em minha ambição derradeira, gostaria de perpetuar a calmaria,
Perenizar a paz no murmúrio das águas solitárias, mas tranquilas,
Falar ao coração para nele fazer morada em sonhos sublimes.

Gostaria tanto de revelar mistérios inefáveis que inquietam meu ser;
Transpor as estranhas angústias de um coração machucado;
Sem receios, recitar anseios que locupletam meu ser.

Como gostaria de não precisar explicar-me a mais ninguém,
Que pessoas soubessem compreender minha alma inquieta,
Calar para sobreviver em meio a tantas tempestades!

Gostaria de ser o rio alegre para aqueles que almejam as alegrias,
O brado triunfante para aqueles que sonham com as vitórias;
Em meu destino, retratar a essência de dias serenos;

Ter a capacidade para decompor lágrimas em esperanças,
Demarcar vivências entre murmúrios e silêncios,
Abraçar no cansaço e nas aflições;

Transformar-me em águas distantes daquilo que rouba a paz;
Nesta ventura inquieta, jamais concordar com a indiferença,
Ressuscitar aquilo que me fez sonhar.

Em minha sina definitiva, quero cumprir a vocação do riacho;
Voltar de onde vim no insinuante encanto original,
Desfazer-me em regato perene e imortal.

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