sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A ESTRADA ESTREITA

Em terra pisada, a vida não germina. No caminho por onde segue a maioria, o chão se enrijece pavimentado pela contenda. Rivalidades empurram as pessoas a desejarem os primeiros lugares e quando todos optam pelo caminho da notoriedade, a disputa amesquinha. Torna-se tão importante ganhar que os Narcisos se odeiam e os Neros desconfiam da própria sombra.

Quem escolhe o caminho menos trilhado, abre mão dos aplausos e dos confetes. Na verdade, as pessoas não invejam as conquistas dos grandes heróis, sequer o preço que pagaram, mas cobiçam os aplausos e a bajulação dos triunfantes. E tudo isso não passa de vaidade, de um nada.

Plutarco escreveu a biografia ufanista de Júlio César. Júlio César talvez tenha sido um dos maiores imperadores de todos os tempos. Seu reinado marcou a história de tal maneira que os sucessores ao trono romano adotaram seu nome. Augusto, Marco Aurélio e todos os demais também queriam ser César. Até imperadores da Rússia passaram a se chamar de Tsar – César em russo – e os germânicos, de Keiser – César em alemão.

Acontece que o próprio Júlio César era insatisfeito consigo mesmo. Ele invejava Alexandre, o Grande. Plutarco narra que certa vez flagrou Júlio César em lágrimas enquanto lia a vida do imperador da Macedônia. Plutarco perguntou o motivo das lágrimas: “Choro não por Alexandre, que morreu tão cedo, mas por mim. Com a minha idade Alexandre já havia conquistado o mundo e eu nada fiz”.

A questão que acaba aparecendo aqui é a seguinte: todos queriam ser iguais a Júlio César, mas ele queria ser como Alexandre. Todavia, o cenário foi ainda pior. O grande Alexandre não era alguém que estava satisfeito consigo mesmo. Também ele queria ser parecido com a imagem ideal de Hércules. Hércules, por sua vez, não existia de verdade, pois era um personagem mitológico.

É preciso entender que o caminho mais usado pode não levar a lugar nenhum. Em geral, é capaz, inclusive, de redundar no inferno da perfeição. Perfeição que cobra das pessoas um padrão que só os personagens mitológicos conseguem alcançar. É, pois, preciso desvencilhar-se desta armadilha que não só fatiga, mas destrói o propósito de qualquer indivíduo por meio das frustrações e da ansiedade.

Tenho para mim que não deveríamos nos sentir diminuídos por não sermos compreendidos naquilo que fazemos ou sonhamos. Jamais imaginar que jogamos nossa vida fora por não termos alcançado as luzes da ribalta. Não vale a pena invejar os que gravaram o nome deles na calçada da fama. Tudo vira pó. A glória humana se dispersa em nada. Convém dedicar-se a construir relacionamentos significativos. Priorizar os encontros despretensiosos. Doar-se sem esperar recompensa.

Importante é poder abrir a sua própria picada. Evitar bitolas, cabrestos, vendas ou algemas. Escrever a sua história sem se preocupar se alguém vai considerá-la digna de ser publicada. Só você conhece o valor de seus momentos. Um dia, como num suspiro, você também verá que havia muitas estradas e que valeu ter viajado pela menos preferida, mesmo que alguns não tenham compreendido tuas escolhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário