sexta-feira, 23 de novembro de 2018

SER VOZ PROFÉTICA

Alguém já parou para se perguntar sobre o que estaria por trás deste discurso que vem inundando as redes sociais? Há uma onda que parece estar se multiplicando e que suscita velhos rancores. No meio desta avalanche de intolerância, eis que uma voz destoante se faz ouvir pelos quatro cantos do planeta. Não de um pastor como nos dias de Martin Luther King nos Estados Unidos ou Dietrich Bonhoeffer na Alemanha, mas, de um Papa.

Por ironia, justamente o primeiro Papa latino-americano. É ele que, de forma ousada e profética, se levanta contra os que insistem em ressuscitar um discurso que parecia ter sido abandonado. Enquanto isso, uma parcela da igreja que em outros tempos soube estar na vanguarda da luta pelos direitos dos mais fracos, agora, não hesita em se aliar com o que há de mais distante do mandamento de Cristo. Pior, em muitos casos, em nome de um falso moralismo.

Conseguiram a façanha de diluir o Evangelho da graça em um discurso de ódio e intolerância em cada canto. Esqueceram os líderes religiosos que outrora foram perseguidos, torturados, e, alguns até mortos por defender o testemunho bíblico. Será que ser a favor de uma arma na mão de cada indivíduo condiz com o que foi ensinado por Jesus? Os bem-aventurados, como indicado pelo homem da Galileia não seriam mais os pacificadores? Ser pela família abona a conduta de quem é contrário aos direitos coletivos?

Para termos um país que possa se considerar legitimamente democrático e republicano, temos que fortalecer tanto as nossas instituições como a participação popular. Temos que aplicar a lei com vigor a todo ato criminoso de qualquer natureza e praticado por quem quer que seja. Acho crucial que exista também um estado de alerta contra todo e qualquer grupo que pretenda um controle hegemônico ou que queira impor a sua agenda a qualquer custo.

Pessoas com quem pude conviver no decorrer da vida e no cotidiano da igreja, que defendiam a vida, a graça e o amor de Cristo, de uma hora pra outra, passaram a proferir discursos odiosos, agressivos, violentos, fazendo apologia a muitos absurdos. Quando me volto para a Bíblia e vejo o modo como Cristo andou entre nós, como Ele se relacionava com as pessoas, a maneira como exercitava os seus ensinamentos, fico angustiado em ver tanta gente usando o nome de Deus para justificar barbaridades.

É preciso retomar o espírito do Evangelho e ter coragem de rejeitar a imagem de um Deus que jamais seria a favor da força, mas do amor, sem distinções. Jesus era o mestre do amor, o mestre da vida, o mestre da sensibilidade, o mestre inesquecível. Nasceu em uma manjedoura em vez de nascer em um berço de ouro; andou em um jumento, em vez de andar em uma ostensiva carruagem real; foi aquele que conviveu com os pecadores, e não com os que se consideravam “puros” ou “sábios” da época.

O Mestre da Paz soube estender a mão aos mais humildes e nunca se corrompeu com alguma manobra que lhe garantisse o poder. Nunca aprovou a violência. Ao invés de armas, ensinou o amor. Nunca ofendeu, foi preconceituoso ou impôs o seu projeto de vida para a humanidade. Atraía multidões, não pelo temor que suscitava, mas, pela amorosidade, generosidade, compaixão e solidariedade.

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