segunda-feira, 15 de outubro de 2018

SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO

No século VI, o papa Gregório afirmou que existiam dois tipos de idolatria: a mais banal supunha a adoração a falsos deuses. A outra, mais sofisticada e conhecida, era adorar a Deus, porém de uma maneira falsa. Na Bíblia, os profetas denunciaram essa religião dos sacerdotes. Protestavam afirmando que Deus chamava o povo a viver a fé baseada na justiça e no cuidado da vida dos mais necessitados. Jesus, conforme os evangelhos, quando ia ao templo era para ensinar e não para oferecer sacrifícios. Por isso, foi perseguido pelos religiosos da sua religião e foi entregue aos romanos pelos sacerdotes que pediam: Crucifica-o!

Na sua história, muitas vezes, as Igrejas substituíram a religião do templo, mas, por outro lado, também aprimoraram os rituais baseados no poder sagrado e sem uma relação mais estreita com a justiça. Durante séculos a Igreja aceitou a escravidão, concordou com as guerras, fortaleceu a colonização para expandir e ter ao seu lado o poder político, sempre acreditando que desta maneira estaria agradando a Deus. Embora muitos líderes religiosos ainda pensem e se comportem assim, essa não é uma postura oficial.

Infelizmente, o que tenho visto nos dias atuais, são grupos que herdaram da velha Cristandade o que ela tinha de pior. Agora têm como projeto criar um Brasil que possa se declarar “Por Deus”. Foi esse tipo de religião que entregou Jesus à morte. Foram estes que queimaram na fogueira Joana d’Arc. Foi assim que aconteceram a inquisição e as cruzadas com milhares de pessoas sendo massacradas em nome de Deus. É preciso retomar o espírito do Evangelho e ter coragem de rejeitar a imagem de um Deus que jamais seria a favor da força, mas do amor. De um mundo justo e fraterno, da paz e da comunhão.

Quem somos nós para encorajar o que contraria frontalmente a sua vontade? Sei que muitos alegarão que tudo não passa de manipulação da mídia, mas basta ter um pouco de discernimento para perceber que o sangue de toda uma geração poderá cair em nossas mãos! Um dia, teremos que prestar contas. Não compete a um pastor dizer a quem o seu rebanho deve apoiar, mas compete instruir para que saiba reconhecer os riscos por trás de todo discurso de ódio e intolerância.

Eu não quero um país governado por apenas um grupo, por apenas uma cultura ou por apenas uma crença. Eu não quero que me seja imposta uma agenda que desconsidere as diferenças sociais, culturais, políticas e religiosas, pois isso nunca foi e nunca será uma sociedade livre e democrática. Eu não quero ser comandado por gente interessada em suspender a ordem em nome da segurança e de meter o Brasil num perigoso caminho sem volta.

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