sexta-feira, 1 de setembro de 2017

RESILIÊNCIA



Intuo que a beleza também se esconde nas adversidades.
Vivo nas entrelinhas do tempo frágil, grotesco, obscuro.
Por toda a parte, a realidade eclode com rispidez.
Às vezes claro, às vezes escuro, o belo é perene.
Esforço-me em buscar o que enternece, solidariza e encanta.
Sei que a formosura é capaz de fazer o coração palpitar, surpreso.
É preciso sensibilidade para ver o inefável que permeia a vida.
Um coração desolado, poucas vezes, consegue notar o imperceptível.

Sei que os milagres, pequenos ou grandes, eclodem no mistério;
Que o renascer dos anseios mais profundos se afirma na humildade;
Que as tristezas cotidianas nunca se afastam sem demarcar ensinamentos.
Em meio à desfaçatez, quero meu coração inconformado com o grito dos ordinários.
Que a brutalidade dos insensatos seja subjugada pela leveza do abraço e da poesia.
Que a cadência das palavras se transfigure em versos sublimes e prenúncios de paz.

Na busca por dias amenos, quero ouvir os acordes de alguma música calma,
Serenar deixando a saudade transformar-se em sublime sabedoria,  O lamento prenunciando um futuro diferente, sem angústias ou ausências;
Cada pensamento, mesmo aqueles não pronunciados, reverenciando afagos e abraços diante de vivências turbulentas;
A transcendência acalentando lembranças indeléveis, mesmo nas ausências.

Como seria belo o mundo se nele houvesse mais artesãos da ternura e da bondade,
Coerência, sensatez e carinho para transformar adversidades em encontros!
Quanta frieza, quanta indiferença, quanta insensibilidade com a dor do outro!
Pergunto-me: De que vale a vida afinal?
Receio que seja tão somente para sensibilizar na dureza, subverter na apatia, desalojar no cinismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário