A nossa sociedade está doente. Reina a
insensibilidade, o consumo desregrado de álcool, as drogas ilícitas, o
exercício arbitrário do poder, a persuasão e manipulação do outro com base em
um suposto status legitimador. Vão sendo colocadas em pauta novas demandas com
o intuito de garantir o narcisismo e o gozo ilimitado. Tudo vai convidando para
a falta de compromisso e a mediocridade. A tão sonhada vida moderna com as suas
ambiguidades, vai sendo descortinada por caminhos sem grandes objetivos, sonhos
ou utopias.
Todos os dias surgem inúmeros exemplos que
almejam colocar o superficial e o transitório como valioso, como um ideal de
vida capaz de suprir as nossas maiores carências. Os heróis efêmeros da música,
do esporte, da moda, são criados e recriados pela mídia como exemplos a serem
seguidos e imitados.
Uma grande parcela da população nem percebe
que vive fugindo dos seus próprios dilemas, do compromisso com o bem comum, da
solidariedade com os mais sofridos, da honestidade como valor primordial para
uma sociedade melhor.
Confundimos a felicidade com o bem-estar, o
amor com o sexo, liberdade com o ideal de fazer o que ‘der na telha’. Vivemos o
tempo da inércia e da passividade. Tempo onde corremos para encher a vida e o
cotidiano de coisas, imagens e ruídos.
Somos capazes de entrar em contato com
qualquer desconhecido em algum extremo do planeta por intermédio das inúmeras
parafernálias tecnológicas, mas a cada dia conhecemos e falamos menos com
nossos vizinhos. Sabemos muito, mas entendemos pouco.
A
nossa sociedade está carente de indivíduos que sejam exemplos no falar e no
agir. Cidadãos e cidadãs que empenhem a sua palavra de forma comprometida em
defesa da vida em todas as suas dimensões. Pessoas que sejam capazes de
incendiar corações e mentes para uma caminhada em plenitude.
Basta de tantas palavras interesseiras e
mesquinhas. Basta de tanta mentira e ganância. Basta de tanta frivolidade. De
palavras sem alma e profundidade nos discursos políticos, nos sermões
religiosos, nos ensinamentos dos professores e mestres. Já não é mais possível
aceitar que continuem sendo propagadas palavras carregadas de uma retórica
vazia de sentido. Palavras presas a um academicismo sem relação com a justiça e
um mundo mais fraterno e humano.
As pessoas são cotidianamente aturdidas por
falsas promessas e condicionadas por sentidos que não podem conduzir para a
realização interior. Somos incitados a viver nesta sociedade pela via do
isolamento, dos constantes transtornos psíquicos, da tristeza, dos desencontros
e desencantos.
É impossível construir um mundo e uma
realidade carregada de sentido em plenitude para a vida humana sem aprender ou
reaprender o valor da convivência. Precisamos, urgentemente, de uma relação que
esteja alicerçada na partilha, no respeito, no bem comum.
Torna-se imperioso encontrar caminhos que
permitam um desenvolvimento humano sustentável e capaz de atender as
necessidades de todos os indivíduos de forma equitativa. Que priorize a
qualidade de vida e não apenas a quantidade de bens materiais. Que ensine a
respeitar, amar e cuidar do meio ambiente natural.
É imprescindível sacudir consciências. Animar
e entusiasmar para o protagonismo em prol de um mundo melhor. Arregaçar as
mangas para sermos instrumentos de paz e fraternidade. Cultivar os valores e as
verdades que não passam. Celebrar a vida enquanto dádiva, no amor e na
esperança de dias melhores.
Os caminhos para a consolidação de verdades e
valores que nunca haverão de passar somente irão acontecer quando formos
capazes de olhar os nossos semelhantes não como estranhos ou rivais, mas como
aqueles que estarão sendo inseridos na nossa história, nos nossos sentimentos,
nos nossos sonhos.
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