sexta-feira, 28 de outubro de 2016

LIÇÕES DE SABEDORIA


Os seres humanos são repletos de eufemismos, de atalhos, de contradições. Cada qual inventa o seu próprio repertório para entender e explicar o seu lugar no mundo. Ninguém é capaz de aprender a viver sozinho. Humanidade é algo que pertence aos humanos. Não é verdade que o bem prospera na ganância, que a justiça é capaz de consolidar-se no individualismo e na soberba. Só saberá o sentido da própria humanidade aquele que estiver ciente de sua incompletude. Aquele que souber reconhecer a sua necessidade para uma palavra de conforto, cuidado, carinho e atenção. Humanidade não pode ser confundida com soberba e falsidade. Com celebrações fortuitas, encontros vazios, proximidade interesseira.

Somos como folhas frágeis que balançam ao vento, sujeitas às intempéries e mudanças das estações. Em nós, a vida pulsa graças aos laços que nos unem à seiva que circula em nosso interior. Na busca por realizações e reconhecimento, poucas vezes levamos em conta a percepção de que cada minuto é uma nota de alguma melodia na qual podemos reverenciar acordes com o propósito de compor uma sinfonia ao lado daqueles que nos são especiais. Existe um sentido para além de nossa vã capacidade de entendimento e, talvez, para muito além do horizonte imaginado em nossos pensamentos mais auspiciosos. A verdade não se encerra numa suposta objetividade teórica coadunada com determinados princípios da racionalidade, mas necessita de sensibilidade, de tato, de mansidão.

O filósofo alemão Georg Friedrich Hegel, no século XVIII, já antecipava que o ser humano seria incapaz de aprender com a história, mas que aprenderia suas maiores lições do sofrimento. É como se a existência humana vivesse da utopia escrita nas estrelas. Inatingível, incomensurável, sublime. Estrelas que nunca haverão de ser alcançadas, mas que iluminam a jornada em noites escuras. O céu é a grande integração de todo o mistério da humanidade.

Falta-nos sabedoria. A vida tende a perecer pela completa insensibilidade que foi adotada pela civilização planetária nos últimos séculos. Criou-se um senso absurdo de disparidade, de injustiça, de ativismo insano. Os seres humanos tem se tornado cada vez mais frios, impetuosos, pragmáticos. Há um vazio existencial e espiritual sem precedentes. O sonho de uma maior proximidade talvez só consiga ser concretizado quando não for pautado por argumentos da racionalidade, mas quando for compreendido que existe uma necessidade inata de partilha, reciprocidade, carinho, cuidado.

Pensamentos, limites, possibilidades, vivências. Filosofias que nascem dos sofrimentos. Caminhos por veredas desconhecidas. O importante é saber, mas o mais importante é nunca perder a capacidade de conhecer, sentir, vivenciar as experiências da jornada. A prisão verdadeira é não saber quem sou de onde venho e para onde vou. Ou como dizem os navegadores, nenhum vento é favorável para aquele que não sabe onde pretende chegar.

A duras penas vamos percebendo que o sentido da vida não se encontra em paisagens encantadoras ou na ausência de tragédias. Tornamo-nos reféns de valores distorcidos. Se tivéssemos maior consciência daquilo que falamos e fazemos e do impacto de nossas atitudes em relação aos outros, talvez houvesse mais silêncio no mundo. Ao descaracterizarmos o valor da honestidade, da coerência, da temperança, vai-se percebendo que as palavras e as atitudes não iluminam caminhos e não concretizam a luz, mas repercutem e aumentam ainda mais a escuridão.

Admitir as próprias impotências não é agradável. Quem trilha os caminhos da vida sabe que o porvir não consolida certezas. O labirinto da vida não deixa antecipar inconstâncias existenciais. O passado vira sombra que pode aterrorizar. Melancolia, tédio, mesmice. Escolhas equivocadas. Expectativas jogadas no lixo. Angústia que repercute ausências. Procuramos meios para a redenção pessoal. Ninguém dribla as angústias com perspicácia e desenvoltura, mesmo aqueles que fingem ou fazem de conta. Nosso valor não depende de alcançar os atributos de onipotência.

Somos seres únicos e cada parte de nossa existência se encontra ligada a laços como se fossem faces de uma mesma moeda que, juntos, formam a nossa individualidade. Saber que o sofrimento pontua a nossa jornada deveria inspirar para a compaixão. No entanto, exigimos respostas prontas, fáceis, simplórias. O medo do desconhecido e da dor tem transformado homens e mulheres em seres que buscam palavras prontas. Queremos explicar, dizer, manifestar. Esquecemos as limitações de nossa oralidade e deixamos escapar aquilo que, verdadeiramente, faz alguma diferença. O ombro amigo. O abraço alentador. A lágrima partilhada.

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