sexta-feira, 4 de novembro de 2016

OTIMISMO OU PESSIMISMO?



No ano de 1940, o filósofo, sociólogo, tradutor, ensaísta e crítico literário, Walter Benjamin, sublinhava que as revoluções seriam as locomotivas da história. O mundo, a despeito de qualquer prognóstico, de fato, tem passado por muitas mudanças. Na atual conjuntura não é preciso muita perspicácia para compreender as facetas que multiplicam palavras e gestos recheados de obscurantismo nos mais diferentes níveis da convivência humana.

Vivemos um tempo onde opinião construída com esmero e lealdade virou tolice. Aquele que se atreve a levantar a bandeira do diálogo é visto com menosprezo. Qualquer questionamento é, com facilidade, rotulado por conta de bandeiras ideológicas mesquinhas que desconsideram qualquer perspectiva histórica. A esmagadora maioria das pessoas não percebe a gravidade do autoritarismo que vai sendo maquiado pelos sorrisos caricatos e pela truculência das atitudes. Achamos que tudo é questão de “opinião”, mesmo que seja, essencialmente, um regime de pensamento que desconsidera o “outro”.

A cada dia são inúmeros os exemplos que, em sentido amplo, se tornam “verdades” que vão subjugando a ciência, a cultura e o senso comum. O autoritarismo poderia ser superado por aquilo que conhecemos como pensamento democrático. Não um pensamento sobre a democracia, mas um pensamento que oportunizasse horizontes de reciprocidade. Um pensamento no qual a diversidade pudesse ser vista como virtude e não como problema. Um pensamento que não se ocupasse apenas em desmerecer o outro. Um pensamento que não quisesse tanto “demonizar” o outro através da prepotência, do poder, da força. Um pensamento que motivasse para o pleno exercício da partilha e do entendimento fraterno.

Falta-nos muita coerência e discernimento. Em meio a tantos absurdos e exemplos esdrúxulos que não cessam de aparecer, é tarefa das mais indigestas entender como em nome da democracia, por causa da democracia e de uma pretensa defesa da democracia, haja milhões de pessoas querendo destruir justamente a democracia? Vive-se uma lógica paranoica que suscita a descrença e a incapacidade para separar “o joio do trigo”. Em nome do bem é possível justificar o mal. Por conta de uma suposta austeridade, não há problemas em aniquilar biografias. Para alcançar determinados fins, valem os meios que estiverem à mão.

A continuarmos andando nesta direção, a desconfiança que predomina haverá de continuar, persistir e até aumentar. A despolitização provocada pelos limites ideológicos, cada vez mais tênues deveriam consolidar caminhos para além das regras do mercado. É preciso entender que o mercado preconiza a geração de riquezas materiais, mas a política deveria fixar as regras para uma convivência, minimamente, harmoniosa. Sem isso, a injustiça torna-se insuportável.

A filósofa Hannah Arendt dizia que a banalidade do mal se instala na ausência de um pensamento crítico. Todavia, nesta sanha insana mediada por valores obscuros, uma avaliação em sentido metafísico como a anunciada pelo célebre pensador germânico, Martin Heidegger, é ilustrativa e exemplar. É através dela que somos desafiados a perceber com mais perspicácia os dilemas que abarcam nossa frágil existência a ponto de propormos caminhos que nos levem a veredas mais sensatas.

“Quando a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez; quando o tempo, como história houver desaparecido da existência de todos os povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa constatação nada tem a ver com pessimismo, nem tampouco, com otimismo… O obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões, que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de se ter tornado ridículas”.

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