No ano de 1940, o
filósofo, sociólogo, tradutor, ensaísta e crítico literário, Walter Benjamin,
sublinhava que as revoluções seriam as locomotivas da história. O mundo, a
despeito de qualquer prognóstico, de fato, tem passado por muitas mudanças. Na
atual conjuntura não é preciso muita perspicácia para compreender as facetas
que multiplicam palavras e gestos recheados de obscurantismo nos mais diferentes
níveis da convivência humana.
Vivemos um tempo onde
opinião construída com esmero e lealdade virou tolice. Aquele que se atreve a levantar a bandeira do diálogo é visto com menosprezo.
Qualquer questionamento é, com facilidade, rotulado por conta de bandeiras
ideológicas mesquinhas que desconsideram qualquer perspectiva histórica. A
esmagadora maioria das pessoas não percebe a gravidade do autoritarismo que vai
sendo maquiado pelos sorrisos caricatos e pela truculência das atitudes.
Achamos que tudo é questão de “opinião”, mesmo que seja, essencialmente, um
regime de pensamento que desconsidera o “outro”.
A cada dia são inúmeros os
exemplos que, em sentido amplo, se tornam “verdades” que vão subjugando a
ciência, a cultura e o senso comum. O autoritarismo poderia ser superado por
aquilo que conhecemos como pensamento democrático. Não um pensamento sobre a
democracia, mas um pensamento que oportunizasse horizontes de reciprocidade. Um
pensamento no qual a diversidade pudesse ser vista como virtude e não como
problema. Um pensamento que não se ocupasse apenas em desmerecer o outro. Um
pensamento que não quisesse tanto “demonizar” o outro através da prepotência,
do poder, da força. Um pensamento que motivasse para o pleno exercício da
partilha e do entendimento fraterno.
Falta-nos muita coerência
e discernimento. Em meio a tantos absurdos e exemplos esdrúxulos que não cessam
de aparecer, é tarefa das mais indigestas entender como em nome da democracia,
por causa da democracia e de uma pretensa defesa da democracia, haja milhões de
pessoas querendo destruir justamente a democracia? Vive-se uma lógica paranoica
que suscita a descrença e a incapacidade para separar “o joio do trigo”. Em
nome do bem é possível justificar o mal. Por conta de uma suposta austeridade,
não há problemas em aniquilar biografias. Para alcançar determinados fins,
valem os meios que estiverem à mão.
A continuarmos andando
nesta direção, a desconfiança que predomina haverá de continuar, persistir e
até aumentar. A despolitização provocada pelos limites ideológicos, cada vez
mais tênues deveriam consolidar caminhos para além das regras do mercado. É
preciso entender que o mercado preconiza a geração de riquezas materiais, mas a
política deveria fixar as regras para uma convivência, minimamente, harmoniosa.
Sem isso, a injustiça torna-se insuportável.
A filósofa Hannah Arendt
dizia que a banalidade do mal se instala na ausência de um pensamento crítico. Todavia,
nesta sanha insana mediada por valores obscuros, uma avaliação em sentido metafísico
como a anunciada pelo célebre pensador germânico, Martin Heidegger, é
ilustrativa e exemplar. É através dela que somos desafiados a perceber com mais
perspicácia os dilemas que abarcam nossa frágil existência a ponto de propormos
caminhos que nos levem a veredas mais sensatas.
“Quando
a tecnologia e o dinheiro tiverem conquistado o mundo; quando qualquer
acontecimento em qualquer lugar e a qualquer tempo se tiver tornado acessível
com rapidez; quando se puder assistir em tempo real a um atentado no ocidente e
a um concerto sinfônico no oriente; quando tempo significar apenas rapidez;
quando o tempo, como história houver desaparecido da existência de todos os
povos, quando um esportista ou artista de mercado valer como grande homem de um
povo; quando as cifras em milhões significarem triunfo, – então, justamente
então — reviverão como fantasma as perguntas: para quê? Para onde? E agora? A
decadência dos povos já terá ido tão longe, que quase não terão mais força de
espírito para ver e avaliar a decadência simplesmente como… Decadência. Essa
constatação nada tem a ver com pessimismo, nem tampouco, com otimismo… O
obscurecimento do mundo, a destruição da terra, a massificação do homem, a
suspeita odiosa contra tudo que é criador e livre, já atingiu tais dimensões,
que categorias tão pueris, como pessimismo e otimismo, já haverão de se ter
tornado ridículas”.
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