sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A EMERGÊNCIA DO FASCISMO NOS DIAS ATUAIS



O fascismo vem se multiplicando de forma exponencial, sobretudo, nas redes sociais. Transformou-se em algo quase trivial. Assumiu novas roupagens para dissimular velhas posturas. Sempre se apresenta como homem de bem, representante da moral, dos bons costumes e dos verdadeiros valores cristãos e familiares. Prega ideias simples que seduzem aqueles que costumam aderir ao senso comum. Violência se combate com mais violência. Bandido bom é bandido morto. Julgamentos nada mais são do que perda de tempo. Melhor mesmo é o olho por olho, dente por dente. Afinal, se a lei não é capaz de coibir a desfaçatez da corrupção, da malandragem e dos crimes, por qual motivo pessoas “de bem” deveriam supor respeito aos princípios normativos e constitucionais?

Esta exacerbada negação do outro, na verdade, pode ser um caminho para conquistar um lugar ao sol. Em tempos onde os princípios e as competências jurisdicionais encontram-se desfigurados, o fascista é aquele que ousa consolidar e definir “verdades” através de uma lógica particular. Não há um compromisso com enunciados históricos e nem com os horrores que a humanidade já viveu. Preconceitos raciais, sexuais, de gênero, classe, no nível cotidiano, concreto ou virtual, são vistos como ideologias fantasiosas. Não são raras as explosões de ódio que causam espanto a quem olha o mundo e a sociedade em termos minimamente democráticos.
Guardados na intimidade, preconceitos são sementes do fascismo em potencial. A prova de que proliferam no cotidiano é esta desmensurada inépcia para o diálogo. A dificuldade com a opinião contrária. A desqualificação pessoal e moral. As ilações. As expressões verbais intempestivas. O gestual e as atitudes violentas. Humilho, logo existo! É uma espécie de teoria do cotidiano que planifica atitudes, pretensamente éticas, mas muito distantes da equidade, da paz, do entendimento e da justiça. A gritaria, o xingamento e a falta de respeito não se expressam apenas em palavras e frases aleatórias, mas em notícias e discursos dos mais diversos.

Em termos simples, é preciso compreender que há uma vantagem pessoal no ato de negar o outro e de expressar essa negação com palavras e atitudes. Incapaz de supor a existência da “alteridade”, o fascista persegue um modo de ser. A sua ação é resultado desta profunda miséria subjetiva de nossa época. O fascista é um atributo para quem vive o vazio do pensamento, dos afetos e das próprias ações. Ele imagina ser “alguém” por meio da transformação do outro em “ninguém”. A humilhação produzida talvez esconda a humilhação vivida.

A infâmia verbal é fácil e está disponível em qualquer lugar, mas de forma mais efetiva, nas redes sociais. O discurso preconceituoso permite hoje em dia, além de tudo, conquistar fãs, dirigir mentalidades, determinar comportamentos. O fascista é também uma espécie de portador de uma realidade que, em vez de pregar o amor, vende, sem meias palavras, o ódio. Concretiza uma inversão de paradigmas. Ao contrário da vergonha – que seria inevitável caso pudesse perceber a si mesmo naquilo que defende – ele se orgulha do que diz.

Da arrogância em ser “bem macho” passando pela noção de que minorias anseiam por “privilégios” até uma perspectiva de “fazer-se de vítima enquanto é algoz”. Trata-se da mesma lógica. Impotente para a compreensão do outro, para perguntar, para mudar de ideia, para entender os percursos da história do mundo, resta sentir-se sempre cheio de razão. O fascista é detentor de todas as verdades possíveis. Nada do que se diga, mostre ou indique será capaz de mudar a sua maneira de ver o mundo. É uma espécie de “cegueira” não apenas relativa ao saber sobre as coisas, mas relativa ao outro que sempre serve de espelho negativo.

O fascista não gosta dos “formalismos” da lei. Prefere os atalhos e não se constrange em atropelar as regras que norteiam a convivência humana. Sonha com a volta de regimes totalitários. Aspira que os poderes coercitivos “baixem o porrete”. Acha um desperdício gastar dinheiro com quem legisla. Para que congresso nacional? Para que eleições? Para que manifestações ou movimentos que questionem atitudes do executivo? O fascista detesta a tal liberdade de expressão. Para ele, neutralidade jornalística acontece quando a opinião do jornalista coincide com a sua. Isento é quem defende o seu lado.

O fascista retrata um mundo sem que nele existam situações que mostrem a vida na sua diversidade. Não há espaço para um imaginário para além de algumas frágeis “verdades”. O fascista padroniza, uniformiza e elimina as diferenças. A principal característica deste modo de ver o mundo é a naturalização conformista da cultura: “sempre foi assim, assim é que dever ser, é assim desde que o mundo é mundo”. Quem pensa diferente ou é doente ou precisa “ser colocado no seu devido lugar”. O problema do fascismo é que vivemos em uma sociedade complexa, multicultural, aberta, baseada num suposto equilíbrio das diferenças. Uma das maiores tristezas é constatar que o fascismo odeia o diálogo, subverte a noção de mundo e aniquila a pluralidade.

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