sexta-feira, 15 de março de 2019

A TRAGÉDIA DE SUZANO

Como educador me sinto destroçado com uma tragédia igual a que ocorreu em São Paulo. Por ter uma ligação estreita com o mundo da educação, não consigo deixar de pensar que poderia ter sido em alguma escola frequentada por mim, com alunos meus ou até comigo mesmo. É uma situação muito chocante. Afinal, coisas assim, jamais deveriam acontecer.

O que temos agora é alarmante. Famílias destruídas e crianças mortas justamente no espaço onde elas, em tese, deveriam estar seguras. Para aqueles que, mesmo diante da dor, não hesitam em defender soluções fáceis, como armar professores, fica o meu repúdio e indignação. Eu não gostaria de estar armado no meio das crianças. Escola não é presidio e nem pelotão de treinamento. Escola não é para formar soldados, mas para exercitar as virtudes do bem e da paz.

É muito triste e revoltante que as escolas não estejam preparadas para lidar com a violência. Não temos olhos para enxergar o seu nascimento. Não sabemos como lidar com ela no cotidiano. Não temos profissionais qualificados para resolver estas questões. Como querer que um professor que foi formado para ser um bom educador, especialista em uma área, dê conta disso? Nenhum licenciado é formado para enfrentar a barbárie.

Penso que este é o típico pensamento de quem não conhece a realidade das escolas, muito menos de uma sociedade que andou perdendo o mapa do seu caminho. Um raciocínio medíocre que, em última análise, em nada ajuda e ainda pode ser o propulsor de tragédias. Sempre que respondermos violência com mais violência, também na escola, todos perdem. Não é por acaso que o Brasil é um dos países que mais tem visto o número de massacres em escolas e nos espaços públicos aumentando.

O que evitaria tragédias como a que vimos seria um modelo de educação humanizado. Escolas que não fossem entendidas como depósitos de gente e educadores que não necessitassem se virar pra ensinar questões elementares de respeito para quem foi colocado no mundo por quem jamais foi preparado para exercer a paternidade e a maternidade.

Precisamos ampliar o quadro de profissionais das escolas com urgência, precisamos de uma parceria com a ação social, precisamos de profissionais que tenham competência para lidar com conflito, que saibam identificar e acompanhar esses indivíduos e propor soluções. Nossos diagnósticos escolares falam de rendimento escolar, às vezes dos lugares sociais, mas não fazem um acompanhamento da vida dos alunos.

Conheço colegas que trabalham com duas ou três dezenas de turmas todas as semanas. Imaginem quantas centenas de adolescentes estes educadores necessitam orientar? Como os profissionais da educação podem ter uma visão mais humanizada de cada criança que lhes é confiada? Lamentavelmente o nosso modelo de ensino não hesita em reforçar números ou notas no final de cada período. Perceber o que nossas crianças sofrem em casa e na escola, especialmente nos casos de bullying, poderia evitar muita coisa.

Como seria benéfico se nas escolas pudessem existir profissionais para auxiliar com acompanhamento social e psicológico, principalmente em nossas instituições públicas de ensino. Muito mais importante do que cantar o hino, reforçando o espírito pátrio, seria os alunos exaltarem o respeito às diferenças étnicas, religiosas, sexuais e físicas. Ser aceito, ouvido e reconhecido na sua própria identidade é, com certeza, o primeiro passo para que alguém não queira eliminar o outro.

Imagina se em casa os pais ensinassem a seus filhos valores importantes, mas tão maltratados em nosso tempo. A aceitação, a humildade, a cooperação ao invés de estimular este modelo insano de competição no qual o outro sempre é visto como um adversário a ser vencido. Precisamos de gente que cuide de gente e não de gente que aprenda a matar gente. O que está em pauta é a educação, é a instauração de uma cultura de ódio, é a banalização da violência. Triste sina de um país que tem sérios problemas em todos os cantos. Como esperar algo diferente?

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