sexta-feira, 17 de agosto de 2018

OS REFUGIADOS E A CRISE HUMANITÁRIA


As imagens de crianças separadas dos pais pelo governo dos Estados Unidos ao tentarem entrar de forma ilegal no país provocaram comoção pelo mundo afora. Adultos passaram a ser processados criminalmente e encaminhados a presídios federais, enquanto crianças eram destinadas para abrigos. Os vídeos mostravam muitas delas, enjauladas, chorando.


Durante a campanha de Donald Trump à presidência, o tema da migração ganhou destaque com o candidato culpando os trabalhadores estrangeiros por muitas desgraças que aconteciam em solo americano. O postulante à casa branca responsabilizava os imigrantes, sobretudo, pelo aumento dos índices de roubos, estupros, tráfico de drogas. A construção de um muro isolando o México dos Estados Unidos tornou-se uma verdadeira obsessão.

É importante ressaltar que muitas corporações de países ricos ou em desenvolvimento sempre exploraram territórios nas periferias do mundo promovendo conflitos em nome dos recursos naturais ou de interesses geopolíticos estratégicos. Milhões de pessoas sofrem com atitudes assim e são obrigadas a deixar suas casas. Qual a alternativa que resta para esta gente senão buscar refúgio em outros países? No entanto, a dura realidade é que pouquíssimos são recebidos de braços abertos.

Em todo o mundo, a regra é culpar os migrantes por roubar empregos, trazer violência, sobrecarregar os serviços públicos. Na verdade, é mais fácil jogar a responsabilidade em quem não tem voz do que suscitar meios que garantam a dignidade humana. Qualquer pessoa que busca conhecer um pouco mais acerca das migrações sabe que este fluxo também é importante para a economia dos países ricos.

Países desenvolvidos, como os Estados Unidos, Alemanha, França, Itália ou a Suíça, apesar de venderem o discurso de que querem barrar a migração, sabem que dependem dela para ajudar a regular seu custo de mão de obra. É cômodo deixar uma contingente ao largo dos direitos como se fossem invisíveis, mas com muitos deveres e baixíssima remuneração. Para mim, o exemplo brasileiro que poderia ser considerado em perfeita similaridade a esta premissa são os milhões de barracos em nossas favelas. Uma espécie de campo de refugiados onde as pessoas não estão vinculadas a princípios elementares da cidadania.

Os relatórios do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) mostram que em torno de 85% dos refugiados estão nos países em desenvolvimento, muitos dos quais, extremamente pobres. Outro dado importante: Quatro em cada cinco refugiados permanecem em locais vizinhos aos de origem. Semelhante à questão da violência urbana em cidades como o Rio de Janeiro. Quem sofre as consequências são os pobres, mas os ricos acham que são eles os principais atingidos.

O número de pessoas forçadas a deixarem suas casas chegou a quase 70 milhões em 2017. Isso significa uma quantidade de gente equivalente a seis vezes a população do Estado do Rio Grande do Sul. Os principais países atingidos são a Síria (mais de 12 milhões), seguido pelo Afeganistão, Sudão, Mianmar e Somália.

No Brasil, mais que dobrou o número de refugiados, dos que pediram refúgio e daqueles que estão com permissão temporária para aqui residir. Em 2017, foram quase 150 mil pessoas, principalmente por conta da crise venezuelana. É normal que tenhamos medo daqueles que não conheçamos. Todavia, esse medo é, em geral, infundado, equivocado, preconceituoso. Os migrantes estrangeiros vêm em busca de oportunidades de vida, fugindo de guerras, da fome, dos desastres naturais.

Todos estão produzindo riquezas e desenvolvimento. No entanto, sob a perspectiva mal informada de parte da população, muitos acreditam que são eles que aqui vêm para ”roubar” empregos. Isso quando o preconceito não é recheado de uma paranoia infundada onde as pessoas são vistas como ladrões. A verdade é que muita gente quando questionada sobre os imigrantes, no fundo, nem sabe bem de onde vem o incômodo que sente ao constatar pessoas de outros países andando pelas ruas. Acredito que se fossem loiros e ricos, a história poderia ser diferente. No fundo, o problema é o racismo e o preconceito.

A história do Brasil e de outros países incluindo os Estados Unidos, é uma história de migrações. Cada qual a seu modo, foi acolhendo gente de todos os lugares. A maioria de nossos antepassados foi muito explorada quando por aqui chegou. Nossos avós, no passado, eram os forasteiros. Hoje, vejo com tristeza muitos criticando os forasteiros que chegam ao nosso país em busca de um pouco de dignidade.

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