domingo, 12 de agosto de 2018

BOA VONTADE

As civilizações se fortalecem na medida em que os seus indivíduos as lapidam, consolidando a convivência humana em bases profundas. Numa cruzada de crises e de decepções como as que vivemos no Brasil, carecemos também da boa vontade das pessoas. Precisamos de gente com sabedoria e disposta a abrir espaços em meio a tanta ignorância. Gente que se disponha a lançar os fundamentos para um modo de pensar e agir, para além daquilo que está posto.

É preciso desconfiar dos misticismos opressores e superficiais dos que correm por aí de Bíblia nas mãos e com horóscopos a dizer qualquer coisa que lhes vem à mente, como se fossem verdades absolutas. Talvez seja justamente no âmbito religioso onde mais somos atacados por pessoas despreparadas proclamando besteiras recheadas de preconceitos e enganando multidões. Os espertalhões metidos a inspirados por Deus atacam de todos os lados: no rádio, na televisão, nas mídias sociais, nos templos.

Não basta ficar repetindo filosofias vazias é preciso ir a fundo e compreender que o ser humano dos nossos dias anda a beira do colapso. Vivemos em meio ao ódio, a superficialidade e o descrédito. São tantos os males que tomam conta das pessoas, ameaçando perigosamente o mundo e a desintegração dos laços sociais que, aos poucos, vamos perdendo a compaixão e a humanidade. Chegamos a um ponto em que as divergências parecem ser maiores do que as afinidades.
O filósofo Immanuel Kant (1724-1804) talvez o mais incisivo pensador da ética moderna, fez uma afirmação de grandes consequências. “Não é possível pensar algo que, em qualquer lugar no mundo e mesmo fora dele, possa ser tido irrestritamente como bom senão a boa vontade”. Kant reconhece que qualquer projeto ético possui defeitos. No entanto, todos os projetos possuem algo em comum: a boa vontade.

Diante de tantas coisas que permeiam os dilemas da convivência humana em nossos dias, arrisco dizer que o único caminho a ser descortinado de forma positiva é quando soubermos contar com a boa vontade das pessoas em prol da construção de algo bom para a coletividade. Em momentos de crise, é a confluência de esforços que pode redundar na superação das dificuldades.

No Brasil, se não contarmos com a boa vontade da grande maioria dos cidadãos corremos o risco de não chegar a um bom lugar no futuro. A boa vontade parece ser a última tábua de salvação que nos resta. A chaga social produzida em mais de quinhentos anos de descaso com nosso povo redundou em uma sangria sem precedentes. Nossas elites nunca pensaram em uma solução para o Brasil de forma plural. Sempre estiveram empenhadas em defender privilégios.

Contrariamente ao povo brasileiro que historicamente mostrou imensa boa vontade, as velhas oligarquias se negam a saldar a hipoteca de boa vontade que devem ao país. Sendo a boa vontade decisiva, então convém suscitá-la em todos os cantos. Se cada pessoa, de fato, quiser que o Brasil dê certo, com boa vontade e esforço de todos e todas, ele seguramente pode dar certo.

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