sábado, 19 de maio de 2018

Terrorismos e Religiões

Os principais conflitos ocorridos nas últimas décadas sempre tiveram um fundo religioso. Foi assim na Irlanda, no Kosovo, no Afeganistão, no Iraque e, mais recentemente, nas absurdas iniciativas promovidas pelo Estado Islâmico. Talvez não tenha sido sem razão que o renomado cientista político norte americano, Samuel Huntington, em seu conhecido livro - O choque de civilizações – tenha sentenciado: ”No mundo moderno, a religião é uma força central, talvez a força central que motiva e mobiliza as pessoas… O que em última análise conta para as pessoas não são as ideologias políticas nem os interesses econômicos; mas aquilo com que as pessoas se identificam e suas convicções religiosas. É por estas coisas que elas combatem e estão dispostas a dar a sua própria vida”. 

Querendo ou não, e mesmo com os processos de secularização, grande parte da humanidade continua orientando a sua existência por uma perspectiva consolidada por modelos nos quais é possível observar uma incisiva presença das grandes matrizes religiosas de ascendência judaica, cristã, islâmica, xintoísta e budista. As grandes religiões são os alicerces sobre os quais repousam as civilizações. Os fundamentos das culturas. É através delas que são projetados sonhos, elabora ditames éticos, conferidos sentidos à história, sintetizadas palavras acerca da vida e do universo. 

É preciso dizer que a cultura moderna teve certa dificuldade e consolidar uma religião. Para ela, acabou encontrando substitutivos, como, por exemplo, a razão, o progresso, o consumo e a acumulação sem limites. A consequência deste modelo já havia sido denunciada pelo filósofo germânico Friedrich Nietzsche, quase duzentos anos atrás, que presumiu a morte de Deus. Não que Deus estivesse efetivamente morto, mas, para ele, os seres humanos o haviam deixado de lado. Significava que Deus não era mais o ponto de referência para os valores e a coesão da sociedade. 

De minha parte, acredito que se quisermos, efetivamente, a paz, precisamos resgatar o sentimento sagrado, a dimensão espiritual da vida que está nas origens das religiões. Na verdade, mais importante do que as religiões é a espiritualidade que se apresenta como dimensão do humano em sua conotação mais profunda. Uma espiritualidade capaz de se exteriorizar sob a forma do cuidado para com o outro. Com sentidos que permitam alimentar, sustentar e impregnar a vida pelas trilhas da solidariedade. 

Lamentavelmente, os efeitos que estamos vivendo em nível planetário são desalentadores. Uma humanidade confusa, sem rumo, incapaz de saber para onde deseja seguir. Hoje os fundamentalismos e os terrorismos acabaram se transformando em patologias que ganharam relevância. Em grande parte, isso se deve ao devastador processo de globalização que tende a aniquilar as diferenças, uniformizar identidades e impor hábitos. 

O grande desafio para as religiões é o reconhecimento mútuo através do diálogo e a busca de convergências para uma convivência construtiva. Os primeiros capítulos do livro bíblico de Gênesis encerram com uma grande lição. Neles não se fala de Israel como povo escolhido. Faz-se alusão aos povos da Terra como povos de Deus. Sobre eles paira o arco íris da aliança. Esta mensagem mostra todos os dias, que todos os povos, com suas religiões e tradições, são povos que vivem no jardim de Deus formando uma única humanidade composta de muitas famílias com suas tradições, culturas e religiões.

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