sexta-feira, 16 de março de 2018

PERSISTÊNCIA!


Diante daquilo que tenho visto, resta-me a inabalável percepção de que o mundo sempre andou dividido entre pessoas que pensam apenas nelas mesmas e aquelas que buscam meios para minimizar a desgraça dos outros. Vivemos um tempo no qual as informações deturpadas impedem a divulgação das melhores virtudes para uma sociedade mais justa. Em minha consciência crítica, não pretendo cair no maniqueísmo, e, por isso, digo que se trata de uma luta da solidariedade contra o egoísmo.

Acredito que o mundo já tenha sido pior, mesmo que para alguns o saudosismo seja a palavra de reverência diante das desventuras do cotidiano. Basta uma espiada nos percursos da história para vermos que a guerra foi uma constante na dominação de territórios, sendo escravizados os vencidos, quando não exterminados; a servidão foi base para a economia no passado; as invasões de outros continentes redundaram em genocídios de milhões. Por conta da ganância, erguemos muros e demarcamos fronteiras.

É preciso seguir acreditando. Esforçar-se para que, ao menos, as pessoas tenham as mesmas oportunidades. Que os filhos da empregada doméstica tenham as mesmas oportunidades que os filhos do empresário bem-sucedido. Cabe a todos e todas, vencer este trágico determinismo de uma sociedade profundamente injusta e indiferente à dor dos outros. Que parece estar se acostumando a ser indiferente quando uma criança morre nos braços da mãe por conta da falta de tratamento médico, enquanto outros jogam “dinheiro pelo ralo” em baboseiras e sem qualquer melindre ético ou moral.

A história nos mostra as múltiplas facetas da opressão, exploração e dominação. Quem possui as prerrogativas do poder econômico também consegue a maioria dos instrumentos de coerção e persuasão. Poucas vezes, quem sofre na carne as injustiças, possui o discernimento crítico para entender as artimanhas e o jogo do poder. Vive-se na ilusão e acredita-se em qualquer coisa. Talvez a grande tragédia seja, justamente, não perceber que caminhamos a passos largos para consolidar uma sociedade que, a cada dia, subverte a solidariedade, esquece a compaixão e desdenha da igualdade. Achamos “normal” a competição, a concorrência, o individualismo, o egoísmo e a indiferença para com a dor alheia. Aplausos para o triunfo dos mais espertos!

Antes que alguém ouse “carimbar” estas minhas ponderações, digo que elas não estão alinhadas com alguma ideologia política ou partidária, em particular. São, antes, afirmações de quem não se conforma com a tragédia humana em uma sociedade que relega, por exemplo, crianças e adolescentes a procurar comida no lixo e mães que não tem outra escolha que não seja a de assistir, passivas, seus filhos e filhas morrendo refém das drogas e da mais abjeta violência. Não consigo aceitar, em nome dos valores que sempre ousei defender, que a miséria não cause mais indignação e revolta do que a subtração de privilégios. 

Às vezes, por conta de tanta coisa que anda acontecendo, bate um desânimo e até certo desencanto com a raça humana. Ficamos tentados a pensar que as coisas não têm jeito e que a luta é inglória. Que as nossas aspirações de justiça e equidade contrariam a “natureza das coisas”. Ingenuidade seria, pois, acreditar em uma sociedade igualitária, baseada na solidariedade e no bem comum. Não podemos, no entanto, desistir. É preciso manter a esperança e lutar para que ela, ao menos, oriente a nossa caminhada.

É preciso resistir e não dobrar-se a tantos absurdos que, todos os dias, vivenciamos. É indispensável recuperar alguns valores para orientar os caminhos tortuosos do presente e inspirar as futuras gerações. Continuo acreditando, mesmo que às vezes o desânimo seja perverso e a luta inglória, que uma nova sociedade, um novo tempo e uma nova consciência, são princípios inalienáveis. Afinal, como preconizou Eduardo Galeano: a utopia é como o horizonte, está sempre distante, mas é o que nos faz caminhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário