Nunca se mentiu tanto no mundo como hoje.
Nunca se viveu tanto de aparências e nunca houve um período na história da
humanidade onde os intelectuais e pensadores fossem afirmar suas teorias em uma
distância tão grande da realidade vivida por homens e mulheres fatigados pela
dor, pelo cansaço, pela falta de compaixão e afeto.
Se tivéssemos a capacidade de nos esvaziar da
arrogância de tudo possuir e tudo saber, suspeito que conseguiríamos intuir o
inaudível, sentir o imperceptível e experimentar o indescritível. É nas
sensibilidades que podemos desvelar nossas singularidades em um universo
habitado por indivíduos cada vez mais impessoais, frios, contraditórios.
O tempo corre depressa. Segue a sua jornada
sem que possamos freá-lo. Ficam as sombras do passado se alongando num brilho
de sol cada vez menos intenso. Frustrações, lembranças, desalentos. Onde a vida
acabou nos levando? É preciso serenidade para enfrentar com vigor este
emaranhado de sensações.
Carecemos do olhar compassivo e leal. Viver e
existir são valores completamente diferentes. Existir cumpre a sina biológica
de preencher a lacuna entre o nascer e o morrer. Viver confere significado ao
tempo. Trata-se daquela realidade separada pelas duas datas que haverão de
constar em nossas sepulturas, no cemitério. A vida transcende aos infinitos
significados do que nos rodeia.
Quando caminhamos, mesmo que seja em meio a
angústias e desventuras, povoamos o coração com memórias. São as recordações
que nos salvam da rispidez da jornada. Na celebração dos instantes a história
nunca se repete, mas sempre suscita muitos sentidos e sentimentos. Em geral,
queremos peregrinar por lugares onde a vida se amolde no caminhar e não apenas pelas
chegadas.
Nesta jornada convive-se com casos e acasos.
Há momentos onde a chuva é agressiva e repercute o medo de abrir alguma janela.
As dificuldades nos abraçam com tanta intensidade que dá vontade de sair
correndo. Desejamos driblar as dificuldades, mesmo sabendo que estamos de mãos
dadas com elas. A esperança de um novo amanhã tem lá os seus encantos, mas
também é capaz de suscitar infinitas ambiguidades.
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