sexta-feira, 23 de março de 2018

A FACE DO ABISMO


O fascismo de hoje se disfarça de liberalismo no plano político e de neoliberalismo no plano econômico. Seu discurso e suas guerras podem ser dirigidos contra inimigos externos ou internos. Sua verdadeira natureza não pode ser escondida por muito tempo quando pessoas, quase sempre com as cores da bandeira, descobrem líderes dispostos a defender o racismo, a ditadura, o genocídio e a tortura.

Na maioria das vezes, trata-se de personagens elevados à condição de “salvadores da pátria” de forma artificial. Tem seus rostos exibidos em camisetas, faixas, cartazes, por uma turba que os exalta com os mesmos slogans em todos os lugares. Repetindo sempre os mesmos mantras moralistas contra a política e seus representantes, contra a corrupção e os maus costumes. São as mesmas promessas do passado, mas que, curiosamente, costumam aparecer em momentos de crise superdimensionada pela mídia. Foi assim, só para citar alguns exemplos, com Hitler na Alemanha, com Mussolini na Itália, com Salazar na Espanha, com Pinochet no Chile.

É importante lembrar o decisivo apoio da imprensa para que os objetivos sejam alcançados. Mussolini e Hitler estamparam as capas das mais famosas revistas em sua época. Buscava-se realçar a determinação, a coragem, o patriotismo, o exemplo de fé e a honestidade para nações em dificuldades. Por isso, não é por acaso que em nossos dias uma boa parcela dos jornais e das revistas estejam recheados de manchetes apocalípticas para “justificar” a presença de determinados personagens na arena pública.

Da fabricação do consentimento que leva ao fanatismo até as terríveis consequências de sua imbecilidade ilógica e destrutiva, não faz parte apenas a exagerada perspectiva da crise. É preciso atacar investimentos, obras e meios de produção, aumentando a quebra de grandes e pequenas empresas, para criar, um clima que permita tatuar a marca da incompetência na testa daqueles que não se quer governando no futuro.

Criando, no mesmo processo, novas e até inéditas lideranças, mesmo que, do ponto de vista ideológico, o seu odor lembre o de naftalina. Como se elas estivessem surgindo, por encanto e de forma espontânea, para livrar a nação da crise e salvar o país do abismo. É sempre com a mesma conversa de que é preciso “consertar” a máquina, corrigir a desagregação dos costumes, os erros da democracia, apresentada como podre e corrompida de forma indelével, que se justifica e executa um projeto de conquista do poder.

É com a desculpa de purificar a pátria que se postula a mudança de leis, distorcendo e deslocando as decisões políticas do parlamento para outros setores do Estado e para instituições que se plenificam sem a referência do voto. É por meio de iniciativas aparentemente populares que se desafia a constituição e aumenta o poder jurídico e policial do Estado para eliminar, impedir, sufocar, o surgimento de qualquer tipo de oposição à sua vontade.

Busca-se o controle, por meio de amplo e implacável aparato repressivo dirigido contra qualquer um que venha a oferecer resistência. Vai se aprimorando um discurso hipócrita e mentiroso para justificar a construção de um nefasto castelo de cartas onde se vende a imagem que tudo está do avesso. Sobram apenas miséria, desgraça, destruição e morte.

Esta é, infelizmente, a imbecilidade ilógica vendida e comprada por milhões de pessoas nos últimos tempos. Nunca houve uma sociedade que tenha sobrevivido à manipulação, ao ódio, ao fanatismo de seu povo ou ao ego, a ambição, a cegueira, a loucura e a mais profunda vaidade e distorção praticada por algumas lideranças cujos sonhos de poder costumam transformar-se, infelizmente, apenas depois de muito sangue derramado.

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