sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

IGNORÂNCIA E SERVIDÃO



A partir da década de 1970 o mundo começou a passar por significativas transformações que o modificariam em vários aspectos. O desenvolvimento da internet alterou a estrutura e a lógica da informação e dos meios de comunicação. Hoje, vivemos o auge dessa revolução. Temos acesso ao mundo na palma da mão. Estamos ligados, conectados, monitorados por todos os lados e, portanto, aparentemente, distantes da falta de conhecimento.

O fato é que informação difere de conhecimento. A despeito das tantas abobrinhas que é possível ver nas redes sociais, há também, é verdade, muito conteúdo capaz de estimular no indivíduo o exercício do senso crítico. Fazê-lo pensar fora da caixinha e questionar as estruturas de poder estabelecidas. Esse tipo de conteúdo ou informação existe, volto a dizer, mas está, em geral, meio escondido. Há uma grande dificuldade para atingir, verdadeiramente, um número significativo de pessoas.

Por outro lado, mais do que dar voz a imbecis, como disse certa vez o filosofo italiano Umberto Eco, a internet suscita esta capacidade de ampliar a persuasão de certas figuras, que mesmo não sendo imbecis (na maioria dos casos), não são produtores de conteúdo e de informação que estimulam o pensamento crítico. Esse fato não é exclusivo dos novos meios de comunicação. A televisão e o cinema, por exemplo, talvez sejam até piores nesse sentido. No caso da TV, ela possui (ou deveria possuir) o direito de nos informar com qualidade. Sabemos que não é isso que acontece.

Convém salientar, portanto, um aspecto emblemático e recorrente nesta discussão. Se o acesso à informação está muito mais fácil do que em outros tempos, por outro lado, não houve o desenvolvimento de uma sociedade mais crítica. Isso nos leva a repensar o papel da informação e dos meios de comunicação, bem como, o tipo de sociedade e também de convivência humana que estamos repercutindo.

A cegueira pode ser interpretada como servidão voluntária. Contudo, é necessário dizer que ela não surge do nada. Ela é fruto de um processo no qual os indivíduos não são estimulados a pensar e nem a fazer perguntas. Na maioria das vezes a pessoa apenas segue a corrente. Que ousa questionar esta lógica corre o risco de ser criticado e mal compreendido.

No caso do Brasil, em particular, a cada dia é mais difícil para as massas se darem conta de que foram programadas por séculos a fio para serem espoliadas dos seus desejos e em sua cidadania e que, propositalmente, o conhecimento acaba abrindo portas e caminhos para ver o mundo com outras lentes. Para quem exerce a dominação, quanto maior número de pessoas na ignorância e na servidão, melhor.

Por mais que haja uma democratização no acesso à informação nos dias atuais, é inegável que vivemos um tempo obscuro em relação a conteúdos imprescindíveis para despertar consciências. Já estamos meio anestesiados com o senso comum. Cresce de forma assustadora, a cada dia, o número de pessoas que, por preguiça ou conveniência, se orgulham de sua própria ignorância.

O mundo se moderniza, mas a escravidão permanece e se remodela em novas configurações. Na atual conjuntura, pode ser ainda mais perversa e eficiente, pois passa a falsa impressão de que o acesso à informação redunda em mais justiça, educação, moradia, alimentação, saúde, segurança, e tantos outros direitos elementares que são sabotados todos os dias. Para piorar, presos nessa ignorante condição, os próprios escravos acabam alimentando o sistema ao consumir freneticamente como verdades absolutas tudo que lhes é passado.

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