A partir da década de 1970 o mundo começou a
passar por significativas transformações que o modificariam em vários aspectos.
O desenvolvimento da internet alterou a estrutura e a lógica da informação e
dos meios de comunicação. Hoje, vivemos o auge dessa revolução. Temos acesso ao
mundo na palma da mão. Estamos ligados, conectados, monitorados por todos os
lados e, portanto, aparentemente, distantes da falta de conhecimento.
O fato é que informação difere de
conhecimento. A despeito das tantas abobrinhas que é possível ver nas redes
sociais, há também, é verdade, muito conteúdo capaz de estimular no indivíduo o
exercício do senso crítico. Fazê-lo pensar fora da caixinha e questionar as
estruturas de poder estabelecidas. Esse tipo de conteúdo ou informação existe,
volto a dizer, mas está, em geral, meio escondido. Há uma grande dificuldade
para atingir, verdadeiramente, um número significativo de pessoas.
Por outro lado, mais do que dar voz a
imbecis, como disse certa vez o filosofo italiano Umberto Eco, a internet suscita
esta capacidade de ampliar a persuasão de certas figuras, que mesmo não sendo
imbecis (na maioria dos casos), não são produtores de conteúdo e de informação
que estimulam o pensamento crítico. Esse fato não é exclusivo dos novos meios
de comunicação. A televisão e o cinema, por exemplo, talvez sejam até piores
nesse sentido. No caso da TV, ela possui (ou deveria possuir) o direito de nos
informar com qualidade. Sabemos que não é isso que acontece.
Convém salientar, portanto, um aspecto
emblemático e recorrente nesta discussão. Se o acesso à informação está muito
mais fácil do que em outros tempos, por outro lado, não houve o desenvolvimento
de uma sociedade mais crítica. Isso nos leva a repensar o papel da informação e
dos meios de comunicação, bem como, o tipo de sociedade e também de convivência
humana que estamos repercutindo.
A cegueira pode ser interpretada como
servidão voluntária. Contudo, é necessário dizer que ela não surge do nada. Ela
é fruto de um processo no qual os indivíduos não são estimulados a pensar e nem
a fazer perguntas. Na maioria das vezes a pessoa apenas segue a corrente. Que
ousa questionar esta lógica corre o risco de ser criticado e mal compreendido.
No caso do Brasil, em particular, a cada dia
é mais difícil para as massas se darem conta de que foram programadas por
séculos a fio para serem espoliadas dos seus desejos e em sua cidadania e que,
propositalmente, o conhecimento acaba abrindo portas e caminhos para ver o
mundo com outras lentes. Para quem exerce a dominação, quanto maior número de
pessoas na ignorância e na servidão, melhor.
Por mais que haja uma democratização no
acesso à informação nos dias atuais, é inegável que vivemos um tempo obscuro em
relação a conteúdos imprescindíveis para despertar consciências. Já estamos
meio anestesiados com o senso comum. Cresce de forma assustadora, a cada dia, o
número de pessoas que, por preguiça ou conveniência, se orgulham de sua própria
ignorância.
O mundo se moderniza, mas a escravidão permanece
e se remodela em novas configurações. Na atual conjuntura, pode ser ainda mais
perversa e eficiente, pois passa a falsa impressão de que o acesso à informação
redunda em mais justiça, educação, moradia, alimentação, saúde, segurança, e
tantos outros direitos elementares que são sabotados todos os dias. Para
piorar, presos nessa ignorante condição, os próprios escravos acabam
alimentando o sistema ao consumir freneticamente como verdades absolutas tudo
que lhes é passado.
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