Por que, afinal de contas, o poder encanta?
Na minha modesta opinião, é por que tende a compensar quem tem baixa
autoestima. Só quem não se sente bem com a própria imagem, é capaz de buscar a
salvação pelos caminhos, na maioria das vezes, sinuosos e nefastos, do poder exercido
de forma arrogante e autoritária.
Para muitos, o poder é a suprema ambição. É a
perversa maneira de se comparar com Deus. Quem não conhece pelo país afora os
tantos atores políticos que gastam somas estratosféricas em suas campanhas
eleitorais e, ainda que derrotados, sempre voltam à cena. A sede de poder
parece proporcional à fortuna que desdenham.
Há pessoas que, fora do poder, sentem-se
terrivelmente humilhadas. É como se estivessem sendo expulsas de um lugar
extraordinário e encantador. Não é raro ver e ouvir que se sentem injustiçadas
e incompreendidas. Passado o tempo de juntar os cacos, voltam à disputa pelo
espaço de poder com mais garra e, se bobear, com menos escrúpulos.
Modificado o modo de viver de quem ocupa o
poder, em pouco tempo altera-se também o modo de pensar. Pois o poder faz girar
a roda da fortuna e opera na pessoa uma mudança acerca do seu lugar social e também
cultural. O indivíduo se vê cercado de bajuladores, recebe convites, participa
de homenagens, ganha presentes, conta com vários assessores e, sobretudo, passa
a dispor de uma infraestrutura que o coloca em outro pedestal. Pode trocar o
seu guarda-roupa, suas casa, seus amigos.
Aos olhos da maioria dos mortais, é como se o
indivíduo tivesse acessado as chaves da felicidade. Tem o poder de aprovar
projetos, liberar verbas, autorizar obras, permitir viagens, distribuir cargos,
promover pessoas, conceder benemerências e transformar seus gestos em fatos
políticos com o objetivo de valorizar a própria biografia.
Quem se apega ao poder tende a se olhar no
espelho dos contos de fadas. Em geral, tem dificuldades para dialogar e não
suporta críticas, pois são justamente as críticas que aniquilam a autoimagem e
exibem as contradições aos olhos de quem se dispõe a observar de maneira mais
cuidadosa. Não raro, o indivíduo se isola e se fecha como num círculo hermético
ao qual só têm acesso os que cumprem suas ordens e os que lhe dizem
"amém".
Quem se apega ao poder se sente desesperado
diante da possibilidade de perdê-lo. Seu ego necessita de um remendo como no
ideal de uma pessoa que se acha feia e que vive divulgando nas redes sociais alguma
foto de pessoas famosa como se fosse sua. Há uma necessidade recorrente de mostrar
algo diferente daquilo que a pessoa realmente é.
De minha parte, houve um tempo onde eu também
pensava que o poder mudava as pessoas. No decorrer da vida, tenho aprendido que
não é bem assim. O poder faz com que a pessoa se revele. Qualquer poder e em
qualquer lugar. Como diz um conhecido ditado espanhol: "Quieres conocer a
Juanito, dale un carguito".
São raros aqueles e aquelas que fazem do
poder, como ensinou Jesus, um compromisso a serviço da justiça, da
solidariedade e da paz.
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