sexta-feira, 6 de outubro de 2017

DIVERSIDADE E INTOLERÂNCIA



No âmbito internacional, as diferenças religiosas têm exacerbado o preconceito, sobretudo, em relação aos povos muçulmanos, induzindo a pensar que todo adepto da religião islâmica, no fundo, é responsável por ataques terroristas causados por uma minoria radical sem nenhum princípio ético ou humanitário. A intolerância religiosa, a despeito de muitas incompreensões, foi o pano de fundo para quase todos os conflitos armados que ocorreram no século 20.


Historicamente, o Brasil nunca esteve distante deste processo de radicalização em termos de intolerância religiosa. No momento em que o fascismo aterrorizava a Europa, movimentos integralistas ganhavam força em diversos estados da federação. Poucos lembram que as manifestações do candomblé, da umbanda e até mesmo da capoeira, enquanto expressão do patrimônio étnico dos descendentes de escravos, com seus batuques e cantigas, até pouco tempo atrás, eram proibidos no Brasil.


Nosso país é dos locais que apresenta a maior diversidade de credos no planeta. Abriga diferentes comunidades religiosas e culturais. É considerada a maior nação espírita e católica do mundo. Uma nação aparentemente “pacífica”. Constitucionalmente laica e sem uma religião oficial. Somos um país que, pelo menos no âmbito formal, garante a seus cidadãos e cidadãs a liberdade de crença e de expressão.


Convém salientar, no entanto, contraditoriamente, que com a diversidade religiosa há também um agravamento da intolerância e do racismo. São inúmeros os relatos de destruição de imagens de orixás ou santos católicos. Trajar roupas brancas como nos rituais ancestrais, mais do que uma reverência simbólica de quem segue a religiosidade de matriz africana, é visto em certos ambientes, como ofensa. Não são poucos os espaços em programas de televisão que tratam abertamente estas religiões como satânicas e alinhadas com o mal.


São cada vez mais frequentes os casos de queima de terreiros e os relatos de mães de santo e seguidores, sofrendo agressões. É comum, igualmente, a depredação de imagens em capelas católicas, sobretudo, as localizadas em áreas mais isoladas. Infelizmente o poder público, a quem caberia discernir acerca da liberdade de culto, na maioria das vezes, tem sido omisso. Muitos casos nem sequer chegam ao conhecimento dos órgãos competentes. A intolerância religiosa é crime e fere a liberdade e a dignidade humana. Nosso país, que abriga uma das maiores diversidades religiosas do mundo, não deveria isentar-se em seu papel na busca de uma cultura de paz.

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