No âmbito internacional, as diferenças
religiosas têm exacerbado o preconceito, sobretudo, em relação aos povos muçulmanos,
induzindo a pensar que todo adepto da religião islâmica, no fundo, é responsável
por ataques terroristas causados por uma minoria radical sem nenhum princípio
ético ou humanitário. A intolerância religiosa, a despeito de muitas
incompreensões, foi o pano de fundo para quase todos os conflitos armados que
ocorreram no século 20.
Historicamente, o Brasil nunca esteve
distante deste processo de radicalização em termos de intolerância religiosa.
No momento em que o fascismo aterrorizava a Europa, movimentos
integralistas ganhavam força em diversos estados da federação. Poucos lembram
que as manifestações do candomblé, da umbanda e até mesmo da capoeira, enquanto
expressão do patrimônio étnico dos descendentes de escravos, com seus batuques
e cantigas, até pouco tempo atrás, eram proibidos no Brasil.
Nosso país é dos locais que apresenta a
maior diversidade de credos no planeta. Abriga diferentes comunidades
religiosas e culturais. É considerada a maior nação espírita e católica do
mundo. Uma nação aparentemente “pacífica”. Constitucionalmente laica e sem uma
religião oficial. Somos um país que, pelo menos no âmbito formal, garante a
seus cidadãos e cidadãs a liberdade de crença e de expressão.
Convém salientar, no entanto,
contraditoriamente, que com a diversidade religiosa há também um agravamento da intolerância
e do racismo. São inúmeros os relatos de destruição de imagens de orixás ou santos
católicos. Trajar roupas brancas como nos rituais ancestrais, mais do que uma
reverência simbólica de quem segue a religiosidade de matriz africana, é
visto em certos ambientes, como ofensa. Não são poucos os espaços em programas
de televisão que tratam abertamente estas religiões como satânicas e alinhadas
com o mal.
São cada vez mais frequentes os casos de
queima de terreiros e os relatos de mães de santo e seguidores, sofrendo
agressões. É comum, igualmente, a depredação de imagens em capelas católicas,
sobretudo, as localizadas em áreas mais isoladas. Infelizmente o poder público,
a quem caberia discernir acerca da liberdade de culto, na maioria das vezes,
tem sido omisso. Muitos casos nem sequer chegam ao conhecimento dos órgãos
competentes. A intolerância religiosa é crime e fere a liberdade e a dignidade
humana. Nosso país, que abriga uma das maiores diversidades religiosas do mundo,
não deveria isentar-se em seu papel na busca de uma cultura de paz.
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