Muita gente não foi devidamente instruída para
dialogar sem que o interlocutor seja colocado em uma “caixinha”. Categorizado,
embalado, etiquetado, rotulado. Ignora-se a complexidade humana reduzindo os
indivíduos a um determinado lugar, geralmente, sem conhecer ou considerar as
premissas mais elementares do entendimento humano. Interpreta-se o que é dito
de forma aleatória numa simplificação das variações de cores e tons a ponto de
sobrar apenas o preto e o branco.
A partir daí, textos são multiplicados com
xingamentos sem que tenham sido devidamente compreendidos. O compartilhamento,
em geral, não serve para fomentar o debate construtivo sobre a realidade, mas
como munição em uma guerra de torcidas organizadas. Se o cidadão critica um governante,
logo há quem entenda que esteja abraçado a outro. Se fizer ressalvas ao papel
do judiciário, é visto como apoiador da bandalheira. Se assumir a causa dos
menos favorecidos, é possível que seja visto como ideologicamente alienado.
É absurdo como somos colocados em “caixinhas”
e chamados a uma pretensa coerência com aquilo que nossos interlocutores entendem
como conveniente. Por que não é possível reconhecer a complexidade dos
processos sociais, políticos e econômicos? Todos podem e devem ter suas
preferências, mas o que isso impede em reconhecer no outro a qualidade ou disposição
para um diálogo franco, leal e sem deduções esdrúxulas?
O mais triste é que a mensagem é ignorada
enquanto a batalha vai sendo travada sobre lugares comuns relacionados ao
pretenso ''time'' pela qual o autor ou autora da mensagem ''torcem''. Como se
tivéssemos desistido de nossa capacidade de ter opinião a partir de uma
reflexão individual proporcionada pelo diálogo com os outros e pela aquisição do
conhecimento. Falta-nos disposição para garantir o respeito às divergências.
Falta, sobretudo, ver nas diferenças uma dádiva e não um empecilho.
A retórica alarmista e inflamada busca transformar
o medo em ódio dentro de um processo que abre espaço para todo tipo de discurso
radical e que pode se materializar em ações violentas. Forma-se um ciclo
pautado na desordem e que gera apreensão. O medo reverte-se em ódio. O ódio, em
exceção. E essa, por sua vez, em caos. É uma engrenagem que retroalimenta a
desordem. É justamente nessa espiral do apocalipse que estamos vivendo.
O
escritor, poeta e dramaturgo britânico, Oscar Wilde, dizia que havia três tipos de déspotas. Os que tiranizavam o corpo, aqueles que
tiranizavam a alma e os que tiranizavam, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. Para
ele, o primeiro chamava-se príncipe. O
segundo, por vezes, foi o papa. O terceiro, o povo. As relações entabuladas
nos dias atuais são reflexos da sociedade em que vivemos e não deveríamos ignorá-las.
Podemos – e devemos – passar por uma consciente introspecção e reavaliar nossos
comportamentos e atitudes. É preciso redefinir valores e colocá-los em prática
para fortalecermos vínculos que qualifiquem atitudes e edifiquem vivências.
Nenhum comentário:
Postar um comentário