sexta-feira, 10 de março de 2017

Quando o Ódio Toma Conta

Não é coisa rara ver políticos, religiosos, pais, educadores e uma significativa parcela da mídia, inflamando a população, desumanizando e transformando o jogo democrático em uma luta do bem contra o mal.

Em meio a tantos absurdos, quando um punhado de ignorantes resolve espancar quem ousa vestir a camiseta de um time contrário ao seu ou quando articulistas afirmam que alguns merecem ser exterminados, sempre tem uma turma que aplaude.

Quem não conhece humoristas que elegem apenas iletrados, negros, prostitutas, nordestinos, como alvos de suas piadas, ignorando brancos, ricos, famosos? A população reproduz esse tipo de coisa, por vezes, sem qualquer constrangimento.

Campanhas publicitárias transformam mulheres em objetos sexuais, instrumentos de limpeza ou vasilhames de cerveja. Quando homens as tratam como objetos descartáveis, uma boa parcela da população, incluindo também mulheres, é conivente e ignora sem sentir-se incomodada.

Em tempos onde a burrice parece ter atingido o seu ápice, há parlamentares defendendo que as escolas são redutos de doutrinação. Estas pessoas não aceitam a pluralidade do pensamento e chegam ao cúmulo de propor que alguns livros sejam vetados, jogados no lixo ou queimados. Como sempre, uma grande parcela da população bate palmas.

Quando jovens ignoram a história e cometem os mesmos crimes contra as minorias que já foram praticados em outros tempos, muitos fazem de conta que é uma questão moral ou de “respeito” diante de valores que, supostamente, andam sendo esculachados.

Figuras públicas inflamam a população contra o que chamam de degradação ética e moral e não hesitam em aplaudir quando alguém resolve amarrar outra pessoa em um poste e linchar até a morte. Não conseguem mais perceber que tais atitudes não plenificam a justiça, mas a barbárie.

Quando um parlamentar defende que as torturas cometidas por regimes totalitários foram necessárias para que houvesse ordem e respeito fica a impressão de que talvez seja esta a justificativa para que ela continue sendo utilizada como método de ação e investigação policial em muitas situações.

Muitos ignoram que há pais inflamando seus filhos contra gente sem tantas condições materiais, especialmente das periferias. Tratando estas pessoas como escoria e, portanto, como ameaça à vida nas grandes cidades.

Quem não conhece pastores ou padres que vivem inflamando seus fiéis contra aquilo que consideram um desrespeito às leis do seu deus. Quando se invade igrejas quebrando imagens ou quando um gay, uma lésbica ou um travesti são espancados, sempre há quem diga que é um princípio bíblico sendo cumprido.

Na verdade, no Brasil, ninguém reconhece que fomenta o ódio contra outros seres humanos. Muitos sequer reconhecem como ser humano quem é diferente deles. É isso!

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