O filósofo alemão Arthur Schopenhauer presumiu,
quase duzentos anos atrás, que a humanidade estava fadada a oscilar,
eternamente, entre os extremos de angústia e tédio. Passado tanto tempo, não é
de se estranhar que este quadro desafiador e preocupante decorre, em grande
medida, por conta da experiência cada vez mais vazia, individualizada,
materialista e alicerçada no pragmatismo e na racionalidade. Existência que é sempre
tão marcada pela memória de tudo aquilo que vivemos e que se esmiúça através de
cenas, palavras e sentimentos.
Homens e mulheres lutam para convencer-se de
que são comandantes da própria jornada. Mas esta suposta onipotência não subtrai
nossas limitações. Muitas vezes, por mais que tentemos não nos antecipamos a
incidentes. Não conseguimos dar a grande guinada que tanto idealizamos. Na
maioria das vezes nos vemos impotentes para contornar imprevistos: desastres,
doenças, perdas. Basta um instante crucial e sonhos são adiados ou se perdem
para sempre.
O imperativo da modernidade pragmática em
querer explicar, compreender e dominar os mistérios da existência não passa de
uma ilusão. A despeito das aflições, os caminhos do porvir continuam
imperscrutáveis. O que permanece de forma insofismável não é aquilo que
racionalmente conhecemos da vida, mas aquilo que preenche o nosso coração,
fazendo-se eterno. Vivemos num mundo que prefere o disfarce do conhecimento à
suavidade do abraço, da compaixão e da mão estendida.
Podemos, simultaneamente, gerar vida e
arrastar para a o abismo. Na estrada e na rotina das decisões, todos são de
alguma forma, protagonistas. Quanto maior a cordialidade, maior a disposição
para sentir-se acolhido. Sabedoria carece de ambientes serenos. Humildade e empatia
precedem supostas verdades alicerçadas na eloquência. A cada passo vamos descortinando
novos caminhos e dilemas. Necessitamos aceitar o desafio de nunca abandonar o
ofício de aprendiz.
Não percebemos que podemos ir embora a
qualquer momento. Que a ilusão da posse é descabida e que somos apenas
administradores do espaço onde nos situamos. Sequer temos a possibilidade de
governar o sopro que sustenta a vida. A nossa percepção deveria ser clara e
evidente: cada minuto, cada dia, cada encontro, é uma espécie de bônus nesta
nossa efêmera jornada. Resta-nos compreender que o amor, o carinho e a bondade,
são recursos que antecipam aquilo que imaginamos eterno.
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