sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

HIPOCRISIA E IMORALIDADE SEM LIMITES


A consequência mais trágica na atual conjuntura nacional é a destruição do Brasil como nação e a aniquilação moral das suas instituições. Com o corte de verbas, há um esfacelamento das pesquisas e o fechamento de instituições. A situação das universidades públicas beira o caos. São medidas que vão contra a ciência, contra a pesquisa, contra a educação e a saúde pública. Há perdas incalculáveis em termos de avanços, recursos e capacidades. O que está em curso é uma grande bagunça. Algo que talvez nunca tenha havido em nossa história mais recente.

Do ponto de vista econômico, não há outra palavra que sintetize melhor o momento que vivemos do que o fato de que o Brasil parece estar à venda. Grandes corporações internacionais cercam o governo em busca de nossas reservas naturais. Perdoam-se dívidas imensas. A economia paralisada. Cada vez mais desempregados. Empresas sendo fechadas ou com a capacidade ociosa para muito além do esperado. A tal recuperação econômica é pura retórica. Uma falácia.

Mas o mais grave é a deterioração moral das instituições brasileiras. O governo perdeu qualquer pudor, qualquer senso de limite, de razoabilidade, de respeito. É um governo que promoveu gente envolvida com falcatruas para altos postos de comando. A perda de vergonha se transformou em cinismo e deboche. Não há mais escrúpulos e nem decência. É esta gente que se sente à vontade para se promover e proteger. Eles desprezam as exigências de uma mínima moralidade.

Tornou-se normal que o presidente da República, o presidente da Câmara e o presidente do Senado tenham pesadas denúncias sobre seus ombros. Os diferentes protagonistas do governo e do Congresso se articularam para tornar juiz do STF alguém com declarada filiação e atuação política, acusado de coagir subalternos, advogar para o PCC e Eduardo Cunha. Poucos lembram, mas foi ele que conduziu com pirotecnia e estardalhaço a tal prisão de terroristas de mentirinha durante as olimpíadas. Também estaria envolvido com propinas e de ter um patrimônio milionário incompatível com seus rendimentos. Afora isso, sustentou a proibição da indicação de pessoas que exercem cargos de confiança e, não por último, plagiou em sua tese e livros.

Eu pergunto: se alguém assim se torna ministro na mais alta Corte de Justiça do país, encarregada de zelar pela Constituição e pelo sentido das leis dentro de um Estado que se diz democrático e de direito, que força terá, por exemplo, um professor em sala aula para solicitar que os alunos não plagiem trabalhos na internet? O que está acontecendo é a destruição dos valores elementares dentro de uma sociedade que preze pela harmonia. Difícil mesmo é perceber que uma grande parte desta mesma sociedade, vive como se estivesse anestesiada. Julga que faz parte do jogo político.

Qual é o sentido que resta neste país quando se nomeia um ministro para a Corte Suprema com a intenção de que proteja corruptos? O que se pode esperar da moralidade quando os juízes são íntimos daqueles que deveriam julgar? Como entender que haja regramento para determinada decisão, mas, pouco depois, de acordo com supostas conveniências, tudo muda? Onde fica a coerência? As nossas autoridades perderam as medidas, os critérios, a sensatez, a prudência e, sobretudo, a vergonha. O Brasil dos nossos dias está caminhando para a conflagração.

Estados como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo em situação de convulsão. O governador do Rio afirmando que os manifestantes são “vândalos". Vândalos, eu diria, sem receios ou melindres, são aqueles que por lá saquearam os cofres por anos a fio. O governo do Espírito Santo supondo que a "sociedade se tornou refém da polícia". Que absurdo! É a polícia e a sociedade que são reféns de governantes incompetentes. Sociedade e polícias são vítimas de um jogo de interesses e de manipulação política. E o que faz o governo federal diante do caos? Coloca tanques nas ruas, numa demonstração de força estúpida e incompetente. Quer passar a imagem de que as coisas estão no seu devido lugar, equilibradas e tranquilas.

Todos os que aprovaram as mudanças recentes na conjuntura política brasileira são, em maior ou menor grau, responsáveis por aquilo que hoje vislumbramos. Por ingenuidade ou manipulação, cúmplices. Custa entender como é possível silenciar diante do fato de que gerações estão caminhando rumo a um futuro incerto. Custa, sobretudo, ver alguma lógica na estranha atitude de quem fazia retumbar seus gritos contra a corrupção e que agora silencia, mesmo diante de tanta desfaçatez. Há uma grande parte da população que continua, ao que parece, assim como em outros momentos, sendo instrumentalizada para ver e defender aquilo que convém. Faz-se de conta de que não é conosco e deixa-se triunfar o cinismo. No entanto, nada do que acontece nos dias atuais é fruto do acaso.

O que se vive nos últimos tempos neste país é digno de um filme de terror. Os confrontos, a matança nos presídios, o crescimento da criminalidade, da violência, do desemprego e da pobreza. É a destruição das instituições em um governo que não dialoga. A continuar assim, sem escrúpulos, sem moral e sem vergonha, o caminho inevitável será o da barbárie. Da bagunça generalizada. Da imposição dos mais fortes. É preciso reagir antes que o estrago seja maior. É preciso sair da anestesia e tomar as ruas. A busca da cidadania e da justiça sempre serão as melhores formas de construir um caminho que mostre o nosso lugar neste país que todos e todas amamos.

O Brasil não pode continuar nas mãos daqueles que o estão destruindo. Os jovens precisam de esperança, os trabalhadores empregos e dias melhores e os idosos a garantia de que serão amparados nas suas dificuldades. É preciso reconduzir o Brasil pelos caminhos da democracia e da vontade popular. Assegurar direitos conquistados com luta, suor e lágrimas. O Brasil precisa, com urgência, de um governo decente que seja capaz de nos conduzir a todos pelo caminho do bem e do entendimento. Basta de imoralidade e hipocrisia.

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