O
jardineiro sabe e sente. Ama as flores e cuida de cada detalhe, por saber que
não há, verdadeiramente, beleza e amor fora da experiência do cuidado. A cada
dia, dialoga com as suas flores. Sabe identificar que a ausência delas não
significa apenas um vazio, mas o repouso do preparo. Por isso, quem não souber
viver o silêncio do recolhimento nunca saberá o significado do florescer.
Nesta
nossa efêmera jornada, a cada dia, somos desafiados a compreender o caminho das
pedras. Descobrir que as roseiras não dão flores fora do tempo, nem sem o
cuidado para o cultivo. Cada roseira tem seu estatuto, suas regras, seu tempo.
A vida requer cuidados. Flores e espinhos são belezas que andam juntas. Não
sabem viver sozinhas.
O
coração tem o seu próprio compasso. O ciclo da existência nos impulsiona para
lugares e momentos desconhecidos neste mundo conturbado. Não há resolução
mágica que possa nos salvar das inconstâncias e dos desencantos. Nesta estrada
a vida passa tão depressa, semelhante ao vento.
Ninguém
é capaz de saber o que é a felicidade sem que não tenha antes passado pela
decepção. Só pode desfrutar de alguma vitória aquele que já sentiu o amargo da
derrota. O avesso é repleto de ensinamentos. Consertar o que posso ter
estragado, mesmo sem querer. Dar sentido ao perdão que não exercitei. A solidão
que não desfiz. O sorriso que ficou escondido.
Há
pessoas que, infelizmente, passam a vida dando palpites e receitas para os
outros. Talvez o façam por não serem capaz de viver a própria existência com
equilíbrio. Preferem ser especialistas em receitas mágicas de felicidade e de
realização. Não percebem entraves éticos ou morais ao recomendarem o que eles
próprios não concretizam na sua história de vida. Vão ferindo porque não
souberam lidar com os percalços que encontraram nos seus caminhos. Prenderam a
atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.
Quantas
vezes busca-se a ilusão de viver para poder esquecer. Ao não alcançar aquilo
que almejamos, vamos vendo a vida pelos avessos. A maturidade faz com que
percebamos que talvez sejamos pequenos para mudar algumas situações. Que
determinadas circunstâncias apenas trazem dor, saudade, lamento. Olhar com
maturidade e discernimento para a vida pode ser mais lento do que desejaríamos
e mais difícil do que suportamos.
É
um caminho que se faz caminhando. Jornada que acontece ao ser demandada pelo
esforço, pela insistência, pela vontade em superar a dor das ausências. Tem
dias onde reconhecemo-nos em alto mar. Cativos do que não soubemos compreender.
Prisioneiros de nossas culpas. Aprisionados pelas nossas escolhas, deliberadas
ou não. Mas, talvez o mais importante seja saber, que em algum lugar e de
alguma forma, devemos seguir atravessando os desertos que se agigantam em nosso
porvir.
É
preciso muita sabedoria e perseverança para não ser aniquilado pelo peso dos
desencontros. Afinal, vivenciamos a cada dia a disputa de, pelo menos, três
tempos. O passado, com sua facilidade em nos imputar
culpas e remorsos, tornando a vida um eterno tribunal, cujo julgamento nunca
poderá nos conceder uma sentença satisfatória. O presente, com suas inapeláveis
intempéries que nos cegam, com urgências e sentidos que nos privam daquelas
escolhas que tanto gostaríamos de alcançar. E o futuro, esse misterioso e
sinistro portador de esperanças imprecisas e certezas obscuras.
Receio
que seja um imperativo para a existência não perder de vista aquilo que
escolhemos para perpetuar em nosso tempo aqui no mundo. Cuidar para que não
sejamos feridos por aqueles que justificam os meios para alcançar um
determinado fim. Com aqueles que se moldam na petulância, na mesquinhez, na
falta de humildade. É preciso ter cuidado com os que semeiam maldades e que se
escondem em sorrisos caricatos e sedutores.
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