Ao desejar fazemos escolhas. Somos movidos
pelas pulsões que a filosofia e a psicanálise qualificaram como desejo ou
energia. Podemos, simultaneamente, gerar vida ou trilhar caminhos
desconhecidos, mas necessários. Pessoas são movidas por algum fascínio ou
anseio capaz de trazer alento, ainda que passageiro. Desejo e aversão nascem
dessas pulsões onde não existe mais o ‘certo’ ou ‘errado’. Qualquer consciência
crítica sucumbe diante do desejo, da vontade e da liberdade.
Na redoma das decisões, todos são
protagonistas. Quanto maior a cordialidade, maior a disposição para sentir-se
acolhido. Aquele que quer bem se abre para o que aprecia. Ternura é capaz de
colocar abaixo eventuais desalinhos. Quem fala não se cansa de repetir e quem
ouve não se fatiga em acolher as mesmas palavras. Quem tem o coração aberto e
exercita a lealdade evita os disfarces.
Simone de Beauvoir disse certa vez que
não há como se escapar da
expressão do amor. Por ele vivemos, com ele estamos e por ele passamos. O amor
é sina e passagem. Encontro e desencontro. Vida e morte. Causa e efeito. É
verdade que em nome de bons momentos novas possibilidades são vislumbradas, mas
a dureza ou a indiferença do olhar e sentir é capaz de constranger, subjugar e
inviabilizar gestos de dignidade e diálogo.
Humildade para compreender e sentir deveria
estar acompanhada de boa vontade. Desarmar-se de respostas prontas. De
argumentos que pretendam justificar as próprias incertezas. Sabedoria carece de
ambientes serenos. Humildade e graça precedem supostas verdades alicerçadas na
eloquência. Não é por acaso que Rubem Alves de forma brilhante sentenciou: o que as pessoas mais desejam é alguém
que as escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem
que diga: Se eu fosse você...
Se quisermos encontrar o caminho da
partilha, da atenção, do respeito e da dignidade, será imprescindível exercitar
a sensibilidade, o tato, o carinho antes dos argumentos. A coerência e a
ternura para aprender e desejar um caminho melhor pra mim e para o outro. Ter
pessoas que nos acolham pelo que somos, sem máscaras ou adereços, é um presente
incomensurável.
Não há respostas prontas para amenizar os
sofrimentos inerentes à caminhada. Nascemos e aos poucos vamos percebendo que a
realidade induz a nadar contra a maré. Em nossos medos existenciais alimentamos
a angústia. Dela vem o choro, a pequenez e a dor. A angústia que se associa a
depressão. Angústia que dói, desestabiliza, lateja e faz sofrer. Angústia
que nos faz perceber com mais intensidade que a soma dos choros e risos,
desejos e realizações, frustrações e sonhos, poderiam ser aplacados, em grande
medida, se desejássemos dar as mãos.
Tudo o que sabemos e que já pôde ser
alcançado não pode garantir o amanhã. A cada passo vamos esmiuçando novos caminhos
e dilemas. É preciso manter-se atento para o inesperado. É possível que, de
repente e de forma abrupta, a vida possa se transformar. O chão desaparecer
debaixo dos pés. O pesadelo se prolongar para além da noite. Nossos pés
adentrarem em águas profundas.
Pessoas vivem com as suas máscaras
mostrando uma faceta para cada situação. Viver com muitas máscaras é algo
doloroso para o coração, porque vai sendo perdido o que existe de mais
precioso, a própria identidade. As pessoas não sabem com quem estão lidando
porque são criadas barreiras. Talvez a maior solidão que existe seja aquela que
nos faz ficar longe de nós mesmos.
Viver sem criar vínculos, supostamente, para continuar dominando as prerrogativas da tal “liberdade”. Não nos damos conta que ser amado, ser cuidado, ser compreendido pelo que somos, com nossas virtudes e precariedades, é a maior conquista que se possa merecer nesta caminhada. Pablo Neruda ilustra magistralmente esta realidade. O maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
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