Muitos pais e mães,
educadores e psicólogos se queixam de que uma parcela considerável da nossa
juventude carece de referências mais claras. Inúmeros jovens mergulham de
cabeça na onda neoliberal de relativização de valores. Fazem do público o
privado e são indiferentes à política e à religião, entendem o sexo como
esporte e, em matéria de valores, preferem os do mercado financeiro.
Todas as gerações
têm seus aspectos positivos e negativos. Se em tempos passados soubemos
conceber e nutrir ideologias libertárias, a geração dos nossos pais parece que
sempre acreditou na perene estabilidade das quatro instituições basilares da
sociedade: a religião, a família, a escola e o estado. Ao mesmo tempo, esta
geração não logrou superar o patriarcalismo, o preconceito a quem não lhe era
racial e socialmente semelhante, a fé positivista nos benefícios universais da
ciência e da tecnologia.
A geração da
segunda metade do século passado soube promover a ruptura entre sentimento e
sexualidade. Também idealizou o modelo soviético e chinês de socialismo, com
suas revoluções culturais e hoje troca a militância revolucionária pelo direito
de ser burguesa sem culpas. Com a crescente autonomia do indivíduo, tão
defendida pelo neoliberalismo, vemos que muitos jovens acabam por se perguntar
em nome de quê devem aceitar determinadas normas além das que lhes convêm? E
quando, por ventura, as adotam, o fazem convencidos de que elas possuem prazo
de validade tão curto quanto um McDonald's de esquina.
Se a repressão
marcou a geração dos nossos pais, hoje o estímulo à perversão é constante.
Respira-se uma cultura onde não precisamos mais sentir culpa. Afinal de contas,
parece que toda uma geração anda dando as costas para não interiorizar
preceitos mínimos de ética humana. Parafraseando Dostoiévski, é como se Deus
não existisse e, portanto, tudo fosse permitido.
Coloco aqui uma
premissa questionadora relevante: quem seria hoje o enunciador coletivo capaz
de ditar, com autoridade, o comportamento moral? A Igreja? Receio que a matriz
católica brasileira talvez esteja em boa medida na contramão da história, pois
pesquisas comprovam que a maioria dos seus fiéis, não acata as resoluções
doutrinárias oficiais, usa preservativo, não valoriza a virgindade
pré-matrimonial, frequenta os sacramentos após contrair nova relação conjugal.
As denominações evangélicas neopentecostais, por sua vez, ainda insistem no
moralismo individual, mas esquecem de olhar de forma crítica para o caráter
antiético das estruturas sociais e a natureza desumana do capitalismo.
Onde estaria, pois
uma voz profética? O Estado certamente não é, já que pauta suas decisões de
acordo com o jogo do poder e os dividendos eleitorais. Hoje condena o
desmatamento, os transgênicos, o trabalho escravo, e amanhã, aprova aquilo que
achar conveniente para não perder o apoio político.
Se existe um grande
sujeito coletivo na atualidade, então este é o Mercado. È através dele que as
crianças são corrompidas, através da indução ao consumismo precoce. Os jovens
acabam sendo seduzidos a priorizar valores de fama, fortuna e a estética individual.
O Mercado corrompe as nossas famílias através de um efeito hipnótico televisivo
que expõe nos lares a catástrofe do entretenimento pornográfico. É o Mercado
que para proteger seus interesses, reage violentamente quando se insinua algum
limite. Vale-se de famosos bordões como a censura, terrorismo, estatização,
sabotagem!
Só posso acreditar
que as futuras gerações haverão de conhecer apenas dois caminhos - a barbárie
ou a civilização; a neurose da competitividade ou a ética da solidariedade; a
“rede globo” colonização ou a globalização do respeito e da promoção dos
direitos humanos. Pais, professores, psicólogos, religiosos e todos que se
interessam e preocupam com o futuro da humanidade e com o futuro de nossa
juventude, vocês estão desafiados a dar respostas a tais questões. Afinal de
contas – para onde caminhamos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário