Para muitos o oposto do amor é o ódio, mas
na verdade é a indiferença. A indiferença acaba com qualquer tipo de amor
próprio. Transforma as pessoas em seres frios e distantes. Não há dignidade,
respeito e consideração. A indiferença se alicerça no desprezo e destrói os
fundamentos do amor próprio, da autoestima e gera isolamento, depressão,
tristeza e dor.
Indiferença é sufocar sem tocar, dizer
adeus sem chorar. Indiferença é a frieza e o desprezar de forma perversa e desumana.
Talvez seja um dos maiores castigos que uma pessoa pode impor a outra. A
indiferença remete o indivíduo a um tipo de desprezo que desinstala e
desintegra. Não permite qualquer tipo de aproximação. Não pressupõe qualquer
gesto de dignidade e respeito. Impõe ao outro um autoexílio não consentido.
Ser indiferente com alguém é renegar a sua existência
com aquilo que ele tem de melhor. É também, por
consequência, renegar um pedaço da própria vida. É renegar a essência de uma
jornada ancorada em sentimentos e sonhos. Verdades e valores. Erros e acertos.
A indiferença não permite ao outro a possibilidade de ser nem bom e nem ruim. É
como se tivéssemos matado o outro antes do tempo.
É possível ser indiferente em relação às
circunstâncias políticas, em relação a problemas sociais, aos danos nocivos com
relação ao meio ambiente, mas descartar outra pessoa machuca e corrói até as
lembranças mais nobres. É um subterfúgio covarde utilizado por algumas pessoas
que o justificam a partir de desculpas estapafúrdias que em meio a tantas
esquisitices da vida moderna apenas reforça o sentido da impessoalidade. Onde a
aparência vale mais do que o cuidado, a dignidade e o respeito. Onde o sentimento
do outro nada significa.
Ser indiferente tem se tornado tão habitual
por acharmos o mundo um lugar apenas para as nossas intenções. Perdeu-se a
sensibilidade. Falamos em direitos e dignidade humana, mas, esquecemos a
própria disposição para auxiliar corações a acalentar na alma a sensibilidade
que permita sonhar com um mundo mais belo. Indiferença aniquila a vontade de
seguir tendo o semelhante como intenção na jornada. Joga no lixo aquilo que
existe de mais bonito na vida, supõe a mesmice, considera a vida enquanto posse
e nunca como dádiva.
Como seria bom se neste mundo existissem
seres humanos com sensibilidade e compreensão para a dor do outro. Com
atitudes, respeito e interesse sinceros. Pessoas dispostas a estender a mão
mesmo sem ter todas as respostas para os dilemas que a vida concentra.
Indivíduos que não virassem cínicos no desespero, mas receptivos e dispostos a
abraçar na tristeza. Pessoas com compaixão.
Sofrer a indiferença é como retirar erva
daninha que cresce em meio às flores. Por mais que nos esforcemos, sempre
haverá algum inço insistindo em sufocar o broto da flor. É doloroso perceber
que algumas pessoas que fizeram parte de nossas vidas, podem se mostrar
apáticas, distantes, rudes. São frias e agem como se fossemos desconhecidos.
Pessoas que esqueceram a história que pôde ser vivida, as realizações, os
benefícios recebidos. Esqueceram momentos alegres, sonhos construídos em
conjunto, dificuldades partilhadas.
Podemos até afirmar que na vida sofremos
por amor. Mas, na verdade, sofremos pela indiferença, pela falta de afeto, pelo
carinho que se perdeu no tempo, pela música que não toca mais o coração, pelas
mãos que deixaram de se entrelaçar. O amor não é ruim, a falta dele é que
descortina caminhos imprevisíveis. É comum ouvirmos que o tempo ajuda a aparar
arestas e colocar as coisas no seu devido lugar. Esquecemos, no entanto, que a
própria vida é frágil e pequena. Não há garantia que o tempo haverá de curar as
feridas do passado, a saudade e a solidão.
Nos dias atuais, ao que parece, são
inúmeros os motivos que vem exacerbando a vulgarização e a descrença com os
sentimentos do outro. Parece existir um medo exagerado quando se consolida um
envolvimento ou proximidade diante do qual não temos o controle total das
ações. Reagimos de forma fria e distante quando não percebemos respostas
prontas ou aquelas que julgamos adequadas para dirimir frustrações, tristezas,
dores. Como se a vida pudesse ser colocada numa bolha blindada sempre avessa ao
sofrimento e a tristeza.
A indiferença machuca por ser impositiva e
cruel. A indiferença representa um nada. A indiferença pode ser comparada a uma
moléstia que vai corroendo nosso ser, fazendo-nos cair no vazio trazendo em seu
bojo inúmeras enfermidades que aniquilam o equilíbrio e a motivação para os
embates da vida. Por reforçar uma perspectiva negativa, transforma os seres
humanos em criaturas sem qualquer apelo fraternal, indiferentes ao destino do
próximo, sem interesse em valores ou virtudes que possam nos fazer melhores.
Torna-nos individualistas, sem inquietudes ou preocupações para além do egoísmo
e da mesquinhez.
Como ficar indiferente ao sofrimento de
quem nos é querido? Como podemos ver a pessoa sofrer, sem que tenhamos uma
atitude de carinho, uma palavra de conforto? Afinal de contas temos pouco
controle sobre as atitudes do outro, mas um grande controle sobre nossas
atitudes e maneira de agir. A indiferença sempre será incompatível com as
necessidades alheias. Sempre haverá de redundar numa impossibilidade de
auxiliar aquela pessoa que em algum momento nos foi presenteada pela
convivência recíproca.
A indiferença aniquila a nobreza da alma,
destrói virtudes. A indiferença nos sofrimentos é dureza de coração. O indiferente
não tem coração e não sente; tem alma e não ama. O indiferente não demonstra
incomodar-se com a dor alheia, mas, orgulhoso anseia repelir qualquer ideia
acerca de algum sofrimento pessoal. O desprezo, o abandono e a indiferença,
machucam por serem frutos do orgulho covarde de quem não soube encontrar
caminhos para alcançar o entendimento e a reciprocidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário