sexta-feira, 8 de julho de 2016

A COPA DO MUNDO NO BRASIL: QUAL O SEU LEGADO?



Passados dois anos da realização da Copa do Mundo no Brasil ainda restam muitas questões para serem consideradas neste ambicioso e megalomaníaco projeto que repercutiu inúmeros desdobramentos sociais, políticos e econômicos, com cifras que chegaram a mais de 70 bilhões de reais oriundos dos cofres federais, estaduais, municipais e da iniciativa privada. 

Para dar celeridade aos projetos de construção e reforma de estádios, aeroportos, estradas, infraestrutura e logística, foram modificados os princípios normativos e constitucionais. Novas diretrizes legais passaram a delimitar as tributações e a estabelecer regimes diferenciados para as licitações públicas em relação aos contratos para prestação de serviços. A propalada “Lei Geral da Copa” unificou as nuances dos direitos constitucionais, comerciais, penais, previdenciários, civis, entre outros.

Um aspecto que continua a merecer atenção mesmo depois de tanto tempo diz respeito ao fato de que a Copa do Mundo foi organizada por uma entidade internacional privada – a FIFA. Mesmo não possuindo prerrogativa legal, a entidade impôs garantias ao governo brasileiro para que o evento alcançasse a projeção almejada, favorecendo, sobretudo, empresas patrocinadoras. Entre as garantias, as permissões de trabalho, isenção de impostos, segurança, exploração de direitos comerciais, indenizações e tecnologias de comunicação.

Enquanto os governantes, as grandes corporações e a FIFA se desdobraram para fazer a Copa acontecer, uma parcela significativa da população questionou e até se opôs à sua realização. Ecoaram denuncias em relação a projetos superfaturados de construção de estádios, adequação das cidades sede com base em decisões arbitrárias resultando em impactos econômicos, urbanos, ambientais e sociais irreversíveis. 

Os opositores questionaram, por exemplo, a remoção de quase 200 mil pessoas para que as obras acontecessem. Somente na capital gaúcha foram por volta de 6 mil famílias. Uma clara violação ao direito cidadão de moradia numa espécie de “limpeza” das populações mais vulneráveis em prol dos grandes empreendimentos imobiliários.

Até o ano de 2010, todas as Copas juntas tinham consumido um montante de 75 bilhões de reais. Na Alemanha o custo médio dos estádios foi de R$ 327 milhões e os investimentos gerais de R$ 12 bilhões; na África, o custo dos estádios foi de R$ 300 milhões e os investimentos de R$ 18 bilhões; no Brasil, os estádios custaram em média, quase R$ 700 milhões.
O campeão em números foi o estádio Mané Garrincha, de Brasília, com custo final superior a R$ 1,4 bilhão e capacidade para 70.464 pessoas. O inusitado é que em Brasília a média de público do campeonato estadual é de menos de 1.000 pessoas. Também não há equipes nas séries A e B do campeonato brasileiro. Este estádio custou mais de um bilhão de reais para receber sete jogos da Copa, e agora está praticamente desativado. 

Não deixa de ser preocupante que somente com o dinheiro investido para organizar apenas as suas 12 sedes com os seus respectivos estádios o custo das obras atingiu o mesmo patamar do orçamento do governo previsto para, por exemplo, a área da educação no ano de 2013. Aliás, a previsão orçamentária inicial para a organização da Copa foi superada em mais de 150%. 

Conforme pesquisas em 200 cidades brasileiras, 50% da população se declarou contrária à Copa no Brasil. Não é de se estranhar quando a ampla maioria dos cidadãos e cidadãs deste país sequer tiveram condições de acessar aos estádios, sobretudo, pelos altos preços dos ingressos praticados. Mesmo assim, a FIFA teve recorde na arrecadação. Uma receita de aproximadamente 10 bilhões de reais. 

Para finalizar... Independente de qualquer ideologia partidária ou paixão futebolística, sempre é imprescindível enaltecer o bom senso. Hoje estamos pagando o ônus nas escolas, hospitais, creches, universidades, estradas e centros de lazer desaparelhados ou que não foram construídos em função dos investimentos que, lá atrás, acabaram sendo direcionados para garantir a infraestrutura da Copa. A pergunta que todos e todas deveriam se fazer neste momento é se um país que almeja consolidar o seu pleno desenvolvimento não deveria investir seus recursos em prol de toda uma população que a cada dia clama por cidadania? A Copa foi do Mundo, mas a conta continua repercutindo no bolso de cada cidadão desta prodigiosa nação!!!

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