Passados
dois anos da realização da Copa do Mundo no Brasil ainda restam muitas questões
para serem consideradas neste ambicioso e megalomaníaco projeto que repercutiu
inúmeros desdobramentos sociais, políticos e econômicos, com cifras que
chegaram a mais de 70 bilhões de reais oriundos dos cofres federais, estaduais,
municipais e da iniciativa privada.
Para
dar celeridade aos projetos de construção e reforma de estádios, aeroportos,
estradas, infraestrutura e logística, foram modificados os princípios normativos
e constitucionais. Novas diretrizes legais passaram a delimitar as tributações
e a estabelecer regimes diferenciados para as licitações públicas em relação
aos contratos para prestação de serviços. A propalada “Lei Geral da Copa”
unificou as nuances dos direitos constitucionais, comerciais, penais,
previdenciários, civis, entre outros.
Um
aspecto que continua a merecer atenção mesmo depois de tanto tempo diz respeito
ao fato de que a Copa do Mundo foi organizada por uma entidade internacional
privada – a FIFA. Mesmo não possuindo prerrogativa legal, a entidade impôs
garantias ao governo brasileiro para que o evento alcançasse a projeção
almejada, favorecendo, sobretudo, empresas patrocinadoras. Entre as garantias,
as permissões de trabalho, isenção de impostos, segurança, exploração de
direitos comerciais, indenizações e tecnologias de comunicação.
Enquanto
os governantes, as grandes corporações e a FIFA se desdobraram para fazer a
Copa acontecer, uma parcela significativa da população questionou e até se opôs
à sua realização. Ecoaram denuncias em relação a projetos superfaturados de
construção de estádios, adequação das cidades sede com base em decisões
arbitrárias resultando em impactos econômicos, urbanos, ambientais e sociais
irreversíveis.
Os
opositores questionaram, por exemplo, a remoção de quase 200 mil pessoas para
que as obras acontecessem. Somente na capital gaúcha foram por volta de 6 mil
famílias. Uma clara violação ao direito cidadão de moradia numa espécie de
“limpeza” das populações mais vulneráveis em prol dos grandes empreendimentos
imobiliários.
Até
o ano de 2010, todas as Copas juntas tinham consumido um montante de 75 bilhões
de reais. Na Alemanha o custo médio dos estádios foi de R$ 327 milhões e os
investimentos gerais de R$ 12 bilhões; na África, o custo dos estádios foi de
R$ 300 milhões e os investimentos de R$ 18 bilhões; no Brasil, os estádios
custaram em média, quase R$ 700 milhões.
O
campeão em números foi o estádio Mané Garrincha, de Brasília, com custo final
superior a R$ 1,4 bilhão e capacidade para 70.464 pessoas. O inusitado é que em
Brasília a média de público do campeonato estadual é de menos de 1.000 pessoas.
Também não há equipes nas séries A e B do campeonato brasileiro. Este estádio
custou mais de um bilhão de reais para receber sete jogos da Copa, e agora está
praticamente desativado.
Não
deixa de ser preocupante que somente com o dinheiro investido para organizar
apenas as suas 12 sedes com os seus respectivos estádios o custo das obras
atingiu o mesmo patamar do orçamento do governo previsto para, por exemplo, a
área da educação no ano de 2013. Aliás, a previsão orçamentária inicial para a
organização da Copa foi superada em mais de 150%.
Conforme
pesquisas em 200 cidades brasileiras, 50% da população se declarou contrária à
Copa no Brasil. Não é de se estranhar quando a ampla maioria dos cidadãos e
cidadãs deste país sequer tiveram condições de acessar aos estádios, sobretudo,
pelos altos preços dos ingressos praticados. Mesmo assim, a FIFA teve recorde na
arrecadação. Uma receita de aproximadamente 10 bilhões de reais.
Para
finalizar... Independente de qualquer ideologia partidária ou paixão
futebolística, sempre é imprescindível enaltecer o bom senso. Hoje estamos
pagando o ônus nas escolas, hospitais, creches, universidades, estradas e
centros de lazer desaparelhados ou que não foram construídos em função dos
investimentos que, lá atrás, acabaram sendo direcionados para garantir a
infraestrutura da Copa. A pergunta que todos e todas deveriam se fazer neste
momento é se um país que almeja consolidar o seu pleno desenvolvimento não
deveria investir seus recursos em prol de toda uma população que a cada dia
clama por cidadania? A Copa foi do Mundo, mas a conta continua repercutindo no
bolso de cada cidadão desta prodigiosa nação!!!
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