sexta-feira, 11 de março de 2016

DORES DA ALMA



Após o naufrágio do Titanic, um jornal publicou, lado a lado, dois desenhos que interpretavam a tragédia. O primeiro retratava o pânico dos que não tinham lugar no convés, e iriam perecer. Logo abaixo, a legenda: o poder da natureza e a fragilidade do ser humano.
 
No segundo desenho era reproduzida a mesma situação, mas destacava-se um punhado de mulheres e homens a cantar – mais perto quero estar, meu Deus, de ti ainda que seja a dor que me una a ti. E a legenda trazia um testemunho: o poder do ser humano e a fragilidade da natureza.

O escritor e filósofo espanhol, Miguel de Unamuno, dizia que não bastava curar nossas dores, era preciso saber chorá-las. Eu diria que mais vale encontrar um lugar ou uma pessoa para juntos chorar e compartilhar a esperança, do que mil páginas de filosofia ou fórmulas mágicas para superar os obstáculos.

A condição humana mostra que somos tantas dores e prazeres, sons e silêncios, ventos fortes e brisas leves, raios de sol e trovões. Não somos uma coisa ou outra, somos uma e outra, o tempo todo, sempre. Neste cordão de fios opostos e que ao mesmo tempo, se complementam, o milagre da existência vai sendo construído. Toda vez que negamos alguns fios, a vitalidade em nós vai ficando distante.

A minha fé funciona como se fosse uma proteção contra as fragilidades e as inseguranças. É ela que me ajuda a encobrir o abismo do mistério que me rodeia A fé nos sustenta quando nosso espaço de vida entra em colapso, quando a realidade que nos cerca indica finitude. Recorremos à fé para ter a coragem de suportar os abismos. Um dia, seremos apenas fagulha na imensidão. Restará aquilo que deixamos com quem nos foi presenteado no tempo que tivemos aqui neste mundo.

Neste nosso mundo estranho e paradoxal, parece que já não temos mais o direito de desanimar, sentir dor, angústia, sofrimento. A sociedade regula e indica: sorria, você está sendo filmado; sorria, pois tristeza não pode existir; Sorria porque sorrindo os problemas terminarão. Será?

Um dos males das sociedades modernas é a negação invisível e silenciosa da dor. Negá-la é esquecer que ela está aí, clara e evidente tanto nos desequilíbrios do nosso organismo, (doenças) como nas desarmonias de nossas relações interpessoais (brigas, frieza, indiferença).

Face às transformações nas quais estamos imersos, o futuro não deixa de ser uma incógnita. Parece existir um grande vazio existencial. Ou, o que é muito pior, muita indiferença. É verdade que a esmagadora maioria das pessoas vivencia histórias de dor e desencanto na sua jornada. Dor que não consegue ser diagnosticada e nem tratada por profissionais. Dor que desestabiliza e amedronta. Qual seria o melhor remédio para cuidar dos ditos sofrimentos da alma? Como negar a dor da saudade de alguém que já não está mais perto de nós? Como não permitir a dor advinda de algum propósito que não se cumpriu, de uma esperança que falhou?

Aquele que nega a realidade nega a possibilidade de expressar a sua própria dor. Só será capaz de esperar ou suportar, aquele que reconhece a existência de espaços vazios na sua jornada. Aquele que não pisa suas impossibilidades em nome de seus desejos de onipotência. Valeria muito se jamais esquecêssemos que a compreensão, a atenção e o carinho nem sempre nos curam, mas sempre nos transformam, fazem-nos mais humanos.

Os antigos diziam que era preciso aprender a arte de morrer. Eu diria: aprender a amar é aprender a perder. Aprender a amar é aprender a morrer. Aprender a amar é aprender que há momentos que vão além de nossa capacidade e entendimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário