Após o
naufrágio do Titanic, um jornal publicou, lado a lado, dois desenhos que
interpretavam a tragédia. O primeiro retratava o pânico dos que não tinham
lugar no convés, e iriam perecer. Logo abaixo, a legenda: o poder da natureza e
a fragilidade do ser humano.
No segundo
desenho era reproduzida a mesma situação, mas destacava-se um punhado de
mulheres e homens a cantar – mais perto quero estar, meu Deus, de ti ainda que
seja a dor que me una a ti. E a legenda trazia um testemunho: o poder do ser
humano e a fragilidade da natureza.
O escritor
e filósofo espanhol, Miguel de Unamuno, dizia que não bastava curar nossas
dores, era preciso saber chorá-las. Eu diria que mais vale encontrar um lugar
ou uma pessoa para juntos chorar e compartilhar a esperança, do que mil páginas
de filosofia ou fórmulas mágicas para superar os obstáculos.
A condição
humana mostra que somos tantas dores e prazeres, sons e silêncios, ventos
fortes e brisas leves, raios de sol e trovões. Não somos uma coisa ou outra,
somos uma e outra, o tempo todo, sempre. Neste cordão de fios opostos e que ao
mesmo tempo, se complementam, o milagre da existência vai sendo construído. Toda
vez que negamos alguns fios, a vitalidade em nós vai ficando distante.
A minha fé
funciona como se fosse uma proteção contra as fragilidades e as inseguranças. É
ela que me ajuda a encobrir o abismo do mistério que me rodeia A fé nos
sustenta quando nosso espaço de vida entra em colapso, quando a realidade que
nos cerca indica finitude. Recorremos à fé para ter a coragem de suportar os
abismos. Um dia, seremos apenas fagulha na imensidão. Restará aquilo que
deixamos com quem nos foi presenteado no tempo que tivemos aqui neste mundo.
Neste nosso
mundo estranho e paradoxal, parece que já não temos mais o direito de desanimar,
sentir dor, angústia, sofrimento. A sociedade regula e indica: sorria, você
está sendo filmado; sorria, pois tristeza não pode existir; Sorria porque
sorrindo os problemas terminarão. Será?
Um dos
males das sociedades modernas é a negação invisível e silenciosa da dor.
Negá-la é esquecer que ela está aí, clara e evidente tanto nos desequilíbrios
do nosso organismo, (doenças) como nas desarmonias de nossas relações
interpessoais (brigas, frieza, indiferença).
Face às
transformações nas quais estamos imersos, o futuro não deixa de ser uma
incógnita. Parece existir um grande vazio existencial. Ou, o que é muito pior, muita
indiferença. É verdade que a esmagadora maioria das pessoas vivencia histórias
de dor e desencanto na sua jornada. Dor que não consegue ser diagnosticada e
nem tratada por profissionais. Dor que desestabiliza e amedronta. Qual seria o
melhor remédio para cuidar dos ditos sofrimentos da alma? Como negar a dor da
saudade de alguém que já não está mais perto de nós? Como não permitir a dor
advinda de algum propósito que não se cumpriu, de uma esperança que falhou?
Aquele que
nega a realidade nega a possibilidade de expressar a sua própria dor. Só será
capaz de esperar ou suportar, aquele que reconhece a existência de espaços
vazios na sua jornada. Aquele que não pisa suas impossibilidades em nome de
seus desejos de onipotência. Valeria muito se jamais esquecêssemos que a compreensão,
a atenção e o carinho nem sempre nos curam, mas sempre nos transformam,
fazem-nos mais humanos.
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