Segundo a ONG
Transparência Internacional, o Brasil aparece como um dos países mais corruptos
do mundo. Dos 91 países analisados, o Brasil ocupa o 69° lugar. Os dados são
estarrecedores. De acordo com a FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo)
anualmente a corrupção representa um montante de 85 bilhões de reais. Se esse
montante fosse aplicado na saúde subiriam em 89% o número de leitos nos
hospitais; se na educação, poderiam ser abertos 16 milhões de novas vagas nas
escolas; se na construção civil, haveria a possibilidade de construir quase 2
milhões de casas.
Só estes
dados denunciam a gravidade do crime contra a sociedade que a corrupção
representa. Se os cidadãos brasileiros vivessem sob a égide de uma legislação a
exemplo da China, certamente muitos corruptos acabariam na forca por crime
contra a economia popular. Todos os dias, inúmeros fatos acabam sendo denunciados
e vão caindo no esquecimento na medida em que a mídia os descarta.
O filósofo alemão
Immanuel Kant fazia uma constatação peculiar ao dizer: “somos um lenho torto do
qual não se podem tirar tábuas retas”. Em outras palavras: há uma força em nós
que nos incita ao desvio que é a corrupção. Ela não é intrínseca à condição
humana. Pode ser controlada e superada. Neste sentido, entendo que a corrupção
no Brasil poderia ser explicada a partir de três razões elementares: a
histórica, a política e a cultural.
Em termos
históricos somos sucessores de uma perversa herança colonial escravocrata que
marcou nossos hábitos. A colonização e a escravidão, como bem sabemos, são
instituições violentas e injustas. Nelas as pessoas no intuito de sobreviver e
guardar minimamente uma premissa de liberdade são induzidas a se corromper. É
desta época que surgem o suborno, a troca de favores, o peculato e o nepotismo.
Essa prática deu origem ao jeitinho
brasileiro, uma forma de sustentação numa sociedade desigual e injusta. Uma
situação que fez prosperar a lei de
Gerson capaz de justificar a vantagem pessoal em tudo que faz parte da
vivência humana.
Um segundo
elemento para explicar a corrupção no Brasil advém de elementos com conotação
política. A corrupção política residiria no patrimonialismo sem limites, numa democracia
sem resquícios de igualdade e no capitalismo sem regras. É importante lembrar
que no patrimonialismo não se distingue mais a esfera pública da privada. As
elites tratam o bem público como se fosse propriedade sua e organizam o Estado
com estruturas e leis que sirvam a seus interesses sem levar em conta o bem comum.
Por outro
lado, o capitalismo global é na sua essência, corrupto, embora seja aceito
socialmente. Ele impõe a dominação do capital sobre o trabalho, criando riqueza
com a exploração do trabalhador e com a devastação da natureza. Gera
desigualdades sociais e origina permanentes conflitos de grupos constituídos.
Isso significa dizer que, na verdade, não temos um Estado de direito
consolidado e muito menos um Estado de bem estar social. Este aspecto redunda
em uma corrupção estruturada e faz com que ações corruptas perseverem de forma livre
e impune.
Um terceiro
elemento capaz de explicar a corrupção no Brasil é de ordem cultural. Os
corruptos são vistos como espertos e não como criminosos. Podemos dizer que quanto
mais desigual e injusto um Estado é capaz de ser através de uma infinidade de
preceitos centralizadores e burocratizados, mais se cria uma compreensão cultural
que permite e tolera a corrupção. Lamentavelmente foi o que ocorreu com a
maioria dos partidos alinhados com as demandas e movimentos sociais. Primeiro
levantando a bandeira da ética e da moral. Depois o caminho mais curto das
alianças e dos acordos com o corrupto poder dominante.
Acredito que
temos, sim, como combater a corrupção. É preciso existir a transparência absoluta.
Uma democracia que seja capaz de controlar a aplicação dos recursos públicos de
forma austera. Um sistema jurídico que saiba ser isento. A legitimação de mais auditores
fiscais confiáveis. E antes de qualquer coisa, cabe-nos juntos lutar por uma democracia
que seja menos desigual e injusta. É fato incontestável que persistindo o atual
modelo, sempre estaremos nas contra mão de uma essência cidadã alicerçada na
justiça e na igualdade. Sempre faremos parte de uma nação corrupta, corruptível
e corruptora.
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