sexta-feira, 19 de abril de 2019

Por que Jesus foi Condenado à Morte?

Jesus, o homem de Nazaré, passou a ser cada vez mais contestado na medida em que a sua pregação atingia mais gente. As autoridades políticas e religiosas mostravam-se inquietas com a agitação que o mestre da Galileia suscitava. As elites do poder não se sentiam ambientadas com o discurso da chegada do “Reino de Deus”. O que realmente preocupava era a agitação provocada pelos questionamentos aos padrões estabelecidos, mais do que as questões religiosas.

O testemunho dos Evangelhos não deixa qualquer margem para dúvidas. Jesus morreu porque confrontou quem detinha o poder. Este poder era representado por um sistema de dominação e exploração dos mais pobres. Diz-se que Ele teria morrido pelos nossos pecados. Esta é, em geral, uma resposta que é dada para quem busca compreender como o peregrino de Nazaré terminou a sua trajetória de uma forma tão trágica numa cruz.

Jesus morreu pelos muitos exemplos nefastos presentes na história humana. Não só pelos nossos, mas, igualmente, pelos pecados daquelas pessoas que viveram antes dele e que, portanto, não o conheceram, mas, também, por todos que viveram depois do seu tempo. Por isso, é inevitável que ao olhar para a cruz e o corpo torturado, ferido com os pregos que perfuram a sua carne e os espinhos na cabeça, qualquer um se sinta parte desta realidade. Jesus acabou numa cruz por conta das muitas barbaridades que a humanidade cometeu e ainda continua cometendo!

O peregrino da Galileia foi assassinado pelos interesses mesquinhos dos detentores do poder que, confrontados e com medo de perder o domínio sobre o povo e, sobretudo, de ver desaparecer a riqueza acumulada, não hesitaram em sacrificá-lo. A morte de Jesus não deveria ser compreendida apenas como um dilema teológico, mas, sobretudo, econômico e político. O crime pelo qual Jesus foi julgado mudava os paradigmas impostos pelos líderes de seu tempo. Ao invés da guerra, a paz. Ao invés da força e do ódio, o amor e o perdão.

A próspera economia do templo em Jerusalém havia transformado o culto em uma espécie de banco sustentado pelos impostos, ofertas e rituais para obter, mediante pagamento, o perdão divino. Era todo um comércio de animais, de ofertas em dinheiro, de frutos, para a “honra de Deus” e os bolsos dos sacerdotes e governantes que, assim como descrito pelo profeta Isaías (56:1 e 11), desconheciam a saciedade e, por isso, eram pastores sem entendimento seguindo o seu próprio caminho, cada um procurando vantagem própria.

A indignação com Jesus pode até parecer uma defesa da ortodoxia, mas, na verdade, buscava salvaguardar o modelo que vigorava na época. Para receber o perdão dos pecados, o pecador necessitava ir ao templo e oferecer aquilo que o tributo das culpas prescrevia, de acordo com a categoria do pecado, listando detalhadamente quantas cabras, galinhas, pombos ou outras coisas se deveria oferecer em reparação pela ofensa. O mestre da Galileia, ao contrário, ensinava a perdoar sem impor condições materiais ou financeiras. Para obter o perdão não havia mais a necessidade de ir ao templo levando ofertas e nem de se submeter a ritos de purificação.

Jesus não morreu pelos pecados em uma percepção teológica distante dos fatos e da realidade. Também não morreu por ser esta a vontade de Deus. Ele morreu por conta da mesquinhez e ganância das instituições religiosas e politicas de seu tempo, dispostas a eliminar qualquer um que interferisse em seus interesses. O verdadeiro inimigo de Deus talvez nunca tenha sido o pecado descrito pelos doutores da lei, mas os anseios mesquinhos, as conveniências e, principalmente, a cobiça que tornava as pessoas muito distantes daquilo que o próprio Jesus e os seus discípulos sempre proclamaram.

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