domingo, 17 de junho de 2018

SOBRE ÓDIO, MENTIRAS E IDIOTAS.

Se a globalização fez com que muitas bobagens pudessem ser disseminadas em larga escala, a internet, por sua vez, maximizou a expressão do ódio e da intolerância, exacerbando os preconceitos e a violência. É claro que as redes sociais não criam estes sentimentos, mas, os tornam mais evidentes. O jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, escreveu, certa vez, que no passado os idiotas se achavam isolados. De repente, foram percebendo que não eram poucos e nem isolados: eles eram a maioria. O mundo, de certa maneira, sempre necessitou conviver com os idiotas. Um racista é um idiota. Um misógino é um idiota. Um indivíduo que dissemina mentiras e vive atacando os outros nas redes virtuais é um idiota também.

A internet não criou os idiotas, mas as redes sociais acabaram dando aos covardes uma energia muito grande. Deu-lhes ainda a proteção das distâncias físicas e geográficas além do anonimato. Qualquer um pode criar dezenas de perfis falsos e utilizá-los para aquilo que achar oportuno. Não importa saber se determinada informação é verdadeira, mas, o que vale mesmo, é a sua eficácia para aquilo que cada qual entende como relevante. O que importa é o efeito daquilo que é alardeado.

Muitos não hesitam em divulgar bobagens sem pé e nem cabeça. Desta maneira vão canalizando o seu ódio em informações que, depois de disseminadas à exaustão, acabam concentrando tanta adesão que aqueles que ousam questionar são considerados farsantes. Há gente sendo paga para espalhar informações falsas. Escritórios cuja função é criar perfis para divulgar notícias fantasiosas. Para muitos, alguma notícia é valida por que reforça a convicção própria e é inválida por que fala algo de que não se gosta. Trata-se, de uma situação que o próprio Freud teria dificuldades em explicar. É um desejo passional, não analítico, não racional, não ligado aos fatos.
A grande maioria das pessoas tem dificuldades em admitir este tipo de atitude. Muitos, inclusive, evitam falar do ódio e dizem sentir horror a aquilo que tem a ver com coisas violentas. No entanto, nas nossas hipocrisias diárias, a gratidão parece ser um peso e a vingança um prazer. O problema das redes sociais é que elas fazem com que as pessoas se tornem adeptas de um estado ideal. As aparências, os sorrisos, as viagens, as festas. Boa parte das realizações acaba sendo importante apenas na medida em que pode ser mostrada para os outros. É como se cada coisa fosse épica e exuberante. Parece que dói ser alguém comum ou levar uma vida corriqueira. Esquecemos que a felicidade necessita sempre dialogar com as dificuldades da jornada.

Para mim, o caráter fugaz da felicidade é o que pode tornar, por exemplo, a flor verdadeira melhor do que a artificial. A flor natural tem o seu tempo, mas é capaz de perpetuar reverências que são únicas. Desconfio que se a flor durasse muito tempo, poucos saberiam admirar a sua beleza. Na efemeridade da flor natural assim como na vida humana, há sentidos e significados que delimitam nossa trajetória neste mundo. A perenidade faz com que tenhamos conosco também a dimensão das perdas. É preciso olhar para a história humana a partir das limitações, dos percalços, das virtudes, para que consigamos compreender a dimensão constitutiva da vida e também aquilo que é essencial.

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