sexta-feira, 22 de junho de 2018

PARADIGMAS EXISTENCIAIS


Sempre ouvi dizer que o ser humano morre mais cedo quando desiste de olhar para o futuro. Hoje, receio que muitos olhos já nem queiram mais observar muita coisa para que não se percam nas agruras suscitadas por situações que engendram angústia, dor e sofrimento. É preciso contemplar horizontes que sejam mais longínquos. Descortinar o porvir para além daquilo que pode ser ordenado pela visão. Viver e sentir o coração pulsar não apenas como um imperativo biológico. Ter a oportunidade de caminhar deixando pegadas que inspirem e acolham os passos daqueles e daquelas que de alguma forma cruzaram os nossos caminhos.

Poucos são os que se permitem concretizar uma jornada acalentada pelo sol a iluminar a sua caminhada. Aos que conseguem, certamente, é permitido antever algumas réstias de eternidade. O grande desafio continua sendo não apenas o de buscar um olhar apurado para enxergar o que é terreno, temporal e provisório, mas, a sensibilidade necessária para saber reverenciar a sublimidade da partilha, do encontro, do sorriso que transmite esperança e renova os percursos da existência.

Em uma era de tecnologia, consumo exacerbado e busca constante por tudo que oferece algum prazer momentâneo, por aquilo que é fácil, confortável, rápido e que exige menos esforço, o vazio, o sofrimento e a falta de sentido tornam-se difíceis de serem vividos e aceitos. A solidão, a dor e a angústia dão as cartas. Durante o nosso caminho, não é raro passarmos pelo desencanto de renunciar a algo que gostamos, às vezes, contra a nossa vontade.

O sociólogo, poeta e fotógrafo francês, Jean Baudrillard, dizia que os seres humanos da contemporaneidade se encontram amarrados a uma vida que se alicerça, em grande medida, pelos contornos do desencanto, mas que busca ser preenchida, equivocadamente, pela hiperatividade, pelas relações sem pertencimento reciproco, pela falta de compaixão e insensibilidade com a dor do outro.

Presumo que haverá de chegar o dia onde o desejado não será mais desejado. As lutas travadas para alcançar determinado propósito perderão o seu valor. Restarão sombras de um caminho sem atalhos, sem explicações. Olharemos desejando apenas um pouquinho daquilo que já tivemos a oportunidade de sentir e sonhar. Saberemos pelo viés mais duro que o vazio e a saudade sempre serão feridas abertas. Os valores e as lembranças ganharão contornos de heroísmo ou desalento.

Persistimos apesar das cicatrizes, das contradições e das precariedades. Mesmo com o imponderável se alongando em nosso horizonte necessitamos aprender a experiência de caminhar movidos por pequenas alegrias e o aprendizado que se encontra nas decepções, nas tristezas e no vazio. A vida somente poderá ser medida no final de nossa existência por aquilo que soubemos realizar de forma especial na experiência daqueles e daquelas que nos foram presenteados no decorrer de nossa jornada. Martha Medeiros lembra que não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande, mas, a sua sensibilidade em compreender que somos todos passageiros neste mundo.

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