O ensino de uma única religião em escolas
públicas é aprovado pela Suprema Corte. Porém, o que choca mesmo é um professor
tratar de racismo, machismo, feminismo, xenofobia, direitos de minorias.
Mortes, assassinatos e rios de sangue inundam os programas da televisão, mas o
fim da picada, abominação mesmo, é um beijo entre pessoas do mesmo sexo em
alguma novela.
Crianças vendem de tudo em semáforos, mas a
grande tragédia é se um menino resolve brincar de boneca. Milhares de mulheres
morrem em abortos feitos por clínicas clandestinas, mas sempre aparece alguém
para dizer que elas ''tiveram o que mereciam'' pois não souberam medir as consequências
de suas atitudes.
A escola pode não ter merenda e, além disso,
os jovens usar folhas do caderno como papel higiênico. Escândalo, porém, é
quando se resolve ocupar o colégio pedindo para que haja comida, salas
adequadas, professores para todas as disciplinas ou as mínimas condições para poder
aprender com dignidade.
Bebida alcoólica e cigarro causam mais mortes
que qualquer outra droga. Produtos industrializados repletos de conservantes
funcionam como uma bomba-relógio no organismo. As gôndolas dos supermercados,
todavia, estão cheias e as propagandas, por sua vez, seduzem para que se
consuma sem receios. Faz-se de conta que é normal. A maioria da população tem
olhos e ouvidos abertos para achar que o mal está apenas na cocaína ou na
maconha.
Há um mundo de fazendas em que se
planta apenas vento. Nas cidades, prédios vazios servem à especulação
imobiliária, acumulando dívidas milionárias em impostos. Mas o povo fica
horrorizado quando descobre alguma ocupação. Uma mulher negra ganhar muito
menos que um homem branco pela mesma função é visto como se fosse trivial. No
entanto, o que gera embates e críticas, é meia dúzia de cotas em Universidades.
Crianças amargam o abandono em orfanatos,
muitas sendo devolvidas porque seus novos pais não se ''adaptaram'' a elas. Ainda
assim, para muitos, melhor o abandono do que ser adotado por um casal homo
afetivo. Sinceramente, se Jesus resolvesse voltar, é possível que Ele sentisse
muita vergonha por causa daqueles que tocam a vida sem se importarem com a dor,
as dificuldades e as desgraças de seus semelhantes. Aqueles que lançam suas
preces aos céus batendo palmas para louvar, mas, logo depois, censuram, ofendem
e cometem atrocidades.
Os mais inocentes, desinformados ou ingênuos,
acreditam que é preciso seguir estas figuras que dizem estar atuando em nome de
Deus ou em defesa das famílias. Os mais espertos, que comandam este espetáculo
deprimente ou que sabem como dele se apropriar, querem promover sua imagem como
''guardiões dos valores'' e serem vistos como capazes para construir significados
e sentidos em meio ao caos.
O discurso de ódio provoca distorções
de entendimentos acerca das palavras que estão na origem da fé das pessoas. O
discurso de intolerância nunca fez parte do vocabulário do homem de Nazaré.
Jesus foi um visionário em sua época, mas se voltasse é bem possível que seria
considerado inferior, marginal, de segunda categoria. Não me admiraria se fosse
humilhado e amarrado a algum poste em nome dos bons costumes e das tradições.
E, ao final, alguém ainda tiraria uma selfie ao lado de seu corpo para postar
nas redes sociais.
O Brasil precisa de uma revisão urgente.
Afinal, o que choca não são as absurdas mazelas sociais, mas o questionamento
de uma pretensa ordem estabelecida a partir de algumas estrábicas moralidades.
A sociedade aceita o cabresto porque parece ter medo de se libertar do próprio
medo. A ignorância, hipocrisia ou indiferença, continuam sendo os lugares
preferidos para uma grande parcela de nossa gente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário