sexta-feira, 17 de novembro de 2017

PABLO NERUDA – O POETA DO POVO



A poesia é a arte que destrincha palavras. Desvenda sentimentos e fala ao coração. É essência em forma de linguagem. Para quem aprecia as palavras, é provável que já tenha se deparado com a obra de Neftali Ricardo Reyes Barsoalto, ou, seu pseudônimo, Pablo Neruda. Nascido no povoado de Parral, no sul do Chile, em 12 de julho de 1904, era filho de um ferroviário e uma professora primária. Órfão de mãe logo ao nascer, foi auxiliado por grandes mestres. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971.

A vida de Neruda passou por profundas transformações. Seu maior objetivo era estar a serviço da construção e organização de uma realidade na qual as pessoas tivessem oportunidades iguais. Para ele, um novo ser humano deveria ser forjado na liberdade, bondade, fraternidade e solidariedade. Por isso, jamais abriu mão do engajamento para modificar as ambiguidades sociais em seu país.

A poesia, para Neruda, era um lugar privilegiado. Acreditava que com ela conseguia alcançar os seus interlocutores nas mais diversas situações “entre guerras, revoluções e grandes movimentos”. Sonhava que seus versos pudessem fazer parte da vida de quem nunca tinha convivido com as oportunidades para aprender a ler ou escrever. Algo que, entrementes, à época, era comum para a grande maioria dos trabalhadores chilenos.

Neruda preocupava-se com as questões desafiantes de sua época. Mostrava que não cabia mais apenas escrever por escrever. A arte pela arte. Diante dos desafios presentes na sociedade de seu tempo, era preciso voltar-se às ruas. Uma poesia que fosse engajada na transformação do mundo. O nome de Neruda, portanto, exprime a solidariedade e a busca incansável na construção de uma sociedade mais justa.

A produção poética, para ele, era um instrumento de trabalho. Um meio precioso e necessário para retratar as lutas e os desafios do seu povo. "Quero viver em um mundo em que os seres sejam somente humanos, sem outros títulos, sem serem golpeados na cabeça com uma régua, com uma palavra, com um rótulo. Queria que a grande maioria pudesse falar, ler, escutar, florescer."

A originalidade da Neruda advém não apenas de seu estilo, mas, sobretudo, de suas escolhas. Ele soube rejeitar as trivialidades para falar da vida em suas misérias. Suas palavras ampliavam as vicissitudes do amor, das agonias, das insanidades em um mundo cada vez mais frio e indiferente para com a dor do outro.

Sua poesia combativa não se ampliava em algumas palavras gritadas à multidão. Havia nelas, rara sensibilidade. Foi um ser humano que soube refletir aquilo que se passava em seu mundo de maneira profunda e verdadeira. Sabia falar da beleza com a mesma capacidade com que falava das dificuldades. Sabia exercitar o simples e o perene. O contemplativo e as vivências.

Pablo Neruda foi o poeta do povo. Por onde passou, mostrou as alegrias e as dores. Soube conciliar, com rara maestria, a vocação para as palavras, a carreira diplomática e de senador da república. Faleceu na capital chilena em 23 de setembro de 1973. Suspeita-se que tenha sido assassinado. Durante o seu velório, a sua casa foi saqueada e seus livros incendiados a mando de Augusto Pinochet. Que ele continue a inspirar, através de seus versos e de sua postura, quem ousa acreditar em um mundo melhor.

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