A poesia é a arte que destrincha palavras.
Desvenda sentimentos e fala ao coração. É essência em forma de linguagem. Para
quem aprecia as palavras, é provável que já tenha se deparado com a obra de Neftali
Ricardo Reyes Barsoalto, ou, seu pseudônimo, Pablo Neruda. Nascido no povoado
de Parral, no sul do Chile, em 12 de julho de 1904, era filho de um ferroviário
e uma professora primária. Órfão de mãe logo ao nascer, foi auxiliado por grandes
mestres. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971.
A vida de Neruda passou por profundas
transformações. Seu maior objetivo era estar a serviço da construção e
organização de uma realidade na qual as pessoas tivessem oportunidades iguais.
Para ele, um novo ser humano deveria ser forjado na liberdade, bondade,
fraternidade e solidariedade. Por isso, jamais abriu mão do engajamento para
modificar as ambiguidades sociais em seu país.
A poesia, para Neruda, era um lugar
privilegiado. Acreditava que com ela conseguia alcançar os seus interlocutores
nas mais diversas situações “entre guerras, revoluções e grandes movimentos”. Sonhava
que seus versos pudessem fazer parte da vida de quem nunca tinha convivido com
as oportunidades para aprender a ler ou escrever. Algo que, entrementes, à
época, era comum para a grande maioria dos trabalhadores chilenos.
Neruda preocupava-se com as questões
desafiantes de sua época. Mostrava que não cabia mais apenas escrever por
escrever. A arte pela arte. Diante dos desafios presentes na sociedade de seu
tempo, era preciso voltar-se às ruas. Uma poesia que fosse engajada na
transformação do mundo. O nome de Neruda, portanto, exprime a solidariedade e a
busca incansável na construção de uma sociedade mais justa.
A produção poética, para ele, era um
instrumento de trabalho. Um meio precioso e necessário para retratar as lutas e
os desafios do seu povo. "Quero
viver em um mundo em que os seres sejam somente humanos, sem outros títulos,
sem serem golpeados na cabeça com uma régua, com uma palavra, com um rótulo. Queria
que a grande maioria pudesse falar, ler, escutar, florescer."
A originalidade da Neruda advém não apenas de
seu estilo, mas, sobretudo, de suas escolhas. Ele soube rejeitar as
trivialidades para falar da vida em suas misérias. Suas palavras ampliavam as
vicissitudes do amor, das agonias, das insanidades em um mundo cada vez mais
frio e indiferente para com a dor do outro.
Sua poesia combativa não se ampliava em
algumas palavras gritadas à multidão. Havia nelas, rara sensibilidade. Foi um
ser humano que soube refletir aquilo que se passava em seu mundo de maneira
profunda e verdadeira. Sabia falar da beleza com a mesma capacidade com que
falava das dificuldades. Sabia exercitar o simples e o perene. O contemplativo
e as vivências.
Pablo Neruda foi o poeta do povo. Por onde
passou, mostrou as alegrias e as dores. Soube conciliar, com rara maestria, a
vocação para as palavras, a carreira diplomática e de senador da república. Faleceu
na capital chilena em 23 de setembro de 1973. Suspeita-se que tenha sido
assassinado. Durante o seu velório, a sua casa foi saqueada e seus livros
incendiados a mando de Augusto Pinochet. Que ele continue a inspirar, através
de seus versos e de sua postura, quem ousa acreditar em um mundo melhor.
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