O Brasil é uma terra de contrastes. É pouco
provável que em outros países haja tantas peculiaridades e ambivalências. Somos
a terra da mistura de raças, mas continuamos a vivenciar atitudes preconceituosas
todos os dias, seja de forma velada, em alguma atitude corriqueira, seja de
forma explícita, em gestos e agressões.
Gostamos tanto de futebol, mas, fazemos de
conta como se o nosso maior craque não tivesse sido negro. Somos uma terra que
faz retumbar o discurso da tolerância, embora, a cada dia, estejamos mais
intolerantes com certas diferenças. É a homofobia, por exemplo, que eclode em situações
e comportamentos. Somos o país do futuro, mas continuamos acorrentados aos
vícios de um passado pouco glorioso.
Há lugares no Brasil, como o Rio de Janeiro,
em que todos estão misturados e separados ao mesmo tempo. Todos na mesma praia,
mas, dependendo da classe ou do status, em algum cantinho particular. Nossos grandes
empresários falam mal do Estado, mas não dispensam uma licitação para obras ou
financiamento públicos. Nossos moralistas, vira e mexe, andam metidos com
baixarias. Nossos humoristas não discernem acerca daquilo que é entretenimento
ou ofensa gratuita.
Nossas forças armadas comemoram a salvação do
país em sua soberania, mas negam mais de duas décadas de ditadura. Nossa elite
reclama estar perdendo vagas em universidades públicas demonizando as cotas
raciais. Há quem, inclusive, desconhecendo o nosso passado, sustenta que nada
têm contra negros ou índios e que ser chamado de branquela, alemão, gringo ou
ruivo, também lhe daria direito a “privilégios”.
Somos abertos aos novos tempos, mas mulher de
roupa curta e sensual é sem vergonha. Somos o país da criatividade. A terra de
todos os ritmos musicais, mas em nosso “bom gosto” funk é chinelagem que só
podia ser coisa de favelado. Sertanejo universitário com letras do ensino
fundamental é apenas um detalhe fortuito.
Somos o país da impunidade ainda que as
cadeias estejam superlotadas de ladrões de galinha e vazias de quem cometeu crimes
de colarinho branco. O país em que a maior instância da justiça, o STF, julga
conforme a cara do cliente. Somos, enfim, um país hipócrita, mas que gosta de
pregar moral aos quatro cantos sem olhar a própria trajetória ou biografia.
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