sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A Terra dos Contrastes



O Brasil é uma terra de contrastes. É pouco provável que em outros países haja tantas peculiaridades e ambivalências. Somos a terra da mistura de raças, mas continuamos a vivenciar atitudes preconceituosas todos os dias, seja de forma velada, em alguma atitude corriqueira, seja de forma explícita, em gestos e agressões.


Gostamos tanto de futebol, mas, fazemos de conta como se o nosso maior craque não tivesse sido negro. Somos uma terra que faz retumbar o discurso da tolerância, embora, a cada dia, estejamos mais intolerantes com certas diferenças. É a homofobia, por exemplo, que eclode em situações e comportamentos. Somos o país do futuro, mas continuamos acorrentados aos vícios de um passado pouco glorioso.


Há lugares no Brasil, como o Rio de Janeiro, em que todos estão misturados e separados ao mesmo tempo. Todos na mesma praia, mas, dependendo da classe ou do status, em algum cantinho particular. Nossos grandes empresários falam mal do Estado, mas não dispensam uma licitação para obras ou financiamento públicos. Nossos moralistas, vira e mexe, andam metidos com baixarias. Nossos humoristas não discernem acerca daquilo que é entretenimento ou ofensa gratuita.


Nossas forças armadas comemoram a salvação do país em sua soberania, mas negam mais de duas décadas de ditadura. Nossa elite reclama estar perdendo vagas em universidades públicas demonizando as cotas raciais. Há quem, inclusive, desconhecendo o nosso passado, sustenta que nada têm contra negros ou índios e que ser chamado de branquela, alemão, gringo ou ruivo, também lhe daria direito a “privilégios”.


Somos abertos aos novos tempos, mas mulher de roupa curta e sensual é sem vergonha. Somos o país da criatividade. A terra de todos os ritmos musicais, mas em nosso “bom gosto” funk é chinelagem que só podia ser coisa de favelado. Sertanejo universitário com letras do ensino fundamental é apenas um detalhe fortuito.


Somos o país da impunidade ainda que as cadeias estejam superlotadas de ladrões de galinha e vazias de quem cometeu crimes de colarinho branco. O país em que a maior instância da justiça, o STF, julga conforme a cara do cliente. Somos, enfim, um país hipócrita, mas que gosta de pregar moral aos quatro cantos sem olhar a própria trajetória ou biografia.

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