Tenho me perguntado sobre o(s) motivo(s) para
a população não estar tomando as ruas mesmo com a catastrófica realidade
política e moral dos últimos tempos? Talvez não seja novidade, afinal, faz séculos
que o povo é esmagado por oligarquias. A cada dia, há menos gente acreditando
no sistema judiciário em todas as suas instâncias. Absolve-se com provas e
condena-se por convicções. Perdura no país o tráfico de influências, a conivência
e a corrupção nas altas instâncias de nossos tribunais. Polícia atira sem
pestanejar. Bala perdida mata mais gente do que a guerra da Síria. Há
tiroteio em cada canto. Chacinas e execuções sumárias ocorrem sem que a maioria
dos culpados seja punida.
Todo dia os escândalos políticos pautam o
noticiário e nada acontece. A cada novo escândalo, o anterior perde evidência.
Tristemente criou-se uma cultura complacente. A maioria dos caciques do nosso parlamento
soube multiplicar a sua fortuna pessoal para muito além do razoável. Faz-se de
conta de que é normal. Financiamento de partidos com subsídios de grandes
conglomerados empresariais é rotina. São as pontes, as estradas, os
hospitais, que custam sempre mais do que o orçamento. É o preço das obras que
vai sendo acertado em acordos esdrúxulos e em licitações de faz de conta. Somos
nós que ficamos com as estradas esburacadas, um transporte público caótico, uma
saúde pública cada vez mais precária.
O que temos neste país são leis que, bem
sabemos, acabam sendo cumpridas por poucos e muitos impostos, taxas, sobretaxas
que, geralmente, oneram quem menos tem. Parece não ter fim está sanha por mais
tributos. Os privilégios assegurados para algumas categorias, sobretudo
parlamentares, pagaria o salário de milhares de professores e professoras. Ninguém
aguenta mais tamanho cinismo. Quem ontem gritava pelo fim da corrupção, hoje,
ao que parece, é capaz de silenciar sem maiores constrangimentos. Há até quem
tente vender um discursinho de uma suposta conspiração.
No Brasil, os bancos, lucram cifras
astronômicas a cada ano. Por incrível que pareça são eles também os maiores
devedores de nosso sistema previdenciário. Acostumamo-nos com os hospitais
sucateados e não conseguindo tratar os pacientes com um mínimo de dignidade. Idosos
morrem pelos corredores. Crianças agonizam em berçários. Pacientes esperam
meses por uma cirurgia. E há quem defenda, por exemplo, que o problema de nossa
previdência é o trabalhador que lá no final da vida precisa mendigar alguns
míseros trocados.
Sinto-me triste, envergonhado, humilhado, de viver
em um país, que tanto amo, mas onde os seus governantes e autoridades perderam,
por completo, a noção daquilo que seja ético e decente. Diante de tanta bagunça,
não é fácil manter a esperança. Desejo que o povo acorde e faça valer a sua
soberania.
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