É preciso compreender o momento que vivemos. Buscar
uma reflexão que amplie os horizontes diante do crescimento de ideologias
totalitárias ou excludentes, apoiadas, em grande medida, pelo anonimato e
executadas por multidões ansiosas pela manutenção de uma suposta ordem.
Questões de classe, etnia, gênero e sexualidade, rompem a barreira do bom senso
e chegam, com facilidade, aos ambientes virtuais e do cotidiano real, servindo
de caminho para o futuro, sem levar em conta aquilo que a história, de forma
contundente, já soube plenificar.
O povo anestesiado mesmo diante das
tenebrosas transações e o esforço gigantesco para blindar uma ninhada de pilantras
no poder. Chega a ser desalentador ver e ouvir tantos desaforos, insultos,
injustiças, manobras, falta de humanidade de gente que se embruteceu ao adotar
o discurso ditado por uma mídia perversa, a serviço do que há de pior na nossa
sociedade. É nestas horas que se percebe o quanto ainda somos marcados pelos traços
da escravidão, do corporativismo, do poder econômico, da especulação. Não deixa
de ser muito preocupante e triste perceber que as pessoas esquecem o que tenham
sido os regimes totalitários, como o nazismo, o fascismo e as ditaduras. Basta
ver o clamor para a volta de tais regimes, como uma espécie de chamado à
“ordem”.
A filósofa Hannah Arendt, ao questionar a banalidade
do mal a partir daquilo que pôde presenciar nos julgamentos de líderes nazistas
no tribunal de Nürenberg, na Alemanha, ousou compreender o que motivava pessoas
aparentemente “esclarecidas” a optar pela defesa intransigente da truculência.
Sua preocupação era apresentar um diagnóstico da realidade marcada pela
falência da autoridade política e das instituições. Arendt chamou a atenção
para o fato de que, nos contextos totalitários, crimes podem ser cometidos sem
uma justificativa ideológica e que a banalidade do mal se instala na ausência
de pensamento crítico. Num mundo marcado pela imprevisibilidade, o mal tende a
ser instrumentalizado pela lógica capitalista, materializado na sociedade de
consumo, aniquilando a conexão entre os indivíduos, eliminando a solidariedade.
É preciso observar que os seres humanos não
nascem iguais. Tornam-se iguais como resultado da organização humana na medida
em que esta é norteada pelo princípio da justiça. Igualdades e direitos não são
naturalizados pelo conceito de civilização e desenvolvimento histórico. A
igualdade é uma construção que acontece a partir da convivência baseada na
pluralidade dos seres humanos que compartilham a terra com outros seres
humanos. Por isso, o primeiro direito é o direito a ter direitos. Significa dar
a uma pessoa um lugar no mundo por meio do acesso a uma ordem jurídica e
política igualitária.
O que para uns significa liberdade de
expressão, para outros significa agressão. Faço questão de ressaltar este
aspecto por que tenho visto muitas pessoas utilizando, sobretudo a internet,
para manifestar seus piores sentimentos, suas opiniões mais bizarras, sem se
importar com as palavras ou com os limites e o respeito. Trata-se de não negar
a possibilidade de expressão, mas garantir que as pessoas se expressem com
responsabilidade e ética.
As garantias legais para todos os cidadãos e
cidadãs precisam ser protegidas. Sem o respeito aos parâmetros constitucionais
o que existe é a força de um Estado duplo, um visível, e outro, operado nas
sombras. Sem uma preocupação com a equidade, o resultado sempre será a completa
aniquilação da harmonia entre as pessoas. É preciso reconhecer que o Brasil necessita
da aplicação das leis para todos e todas, mas não precisa de movimentos que
aniquilem as liberdades individuais. O Brasil precisa de mais transparência, de
mais segurança, de mais garantias, mas não de leis cuja aplicação seja feita e concretizada
pelo arbítrio da imprensa ou de algum salvador da pátria. Sempre é bom lembrar
que a prática da injustiça é o fermento para a revolta geral.
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