sexta-feira, 12 de maio de 2017

A BANALIZAÇÃO DO MAL



É preciso compreender o momento que vivemos. Buscar uma reflexão que amplie os horizontes diante do crescimento de ideologias totalitárias ou excludentes, apoiadas, em grande medida, pelo anonimato e executadas por multidões ansiosas pela manutenção de uma suposta ordem. Questões de classe, etnia, gênero e sexualidade, rompem a barreira do bom senso e chegam, com facilidade, aos ambientes virtuais e do cotidiano real, servindo de caminho para o futuro, sem levar em conta aquilo que a história, de forma contundente, já soube plenificar.

O povo anestesiado mesmo diante das tenebrosas transações e o esforço gigantesco para blindar uma ninhada de pilantras no poder. Chega a ser desalentador ver e ouvir tantos desaforos, insultos, injustiças, manobras, falta de humanidade de gente que se embruteceu ao adotar o discurso ditado por uma mídia perversa, a serviço do que há de pior na nossa sociedade. É nestas horas que se percebe o quanto ainda somos marcados pelos traços da escravidão, do corporativismo, do poder econômico, da especulação. Não deixa de ser muito preocupante e triste perceber que as pessoas esquecem o que tenham sido os regimes totalitários, como o nazismo, o fascismo e as ditaduras. Basta ver o clamor para a volta de tais regimes, como uma espécie de chamado à “ordem”.
A filósofa Hannah Arendt, ao questionar a banalidade do mal a partir daquilo que pôde presenciar nos julgamentos de líderes nazistas no tribunal de Nürenberg, na Alemanha, ousou compreender o que motivava pessoas aparentemente “esclarecidas” a optar pela defesa intransigente da truculência. Sua preocupação era apresentar um diagnóstico da realidade marcada pela falência da autoridade política e das instituições. Arendt chamou a atenção para o fato de que, nos contextos totalitários, crimes podem ser cometidos sem uma justificativa ideológica e que a banalidade do mal se instala na ausência de pensamento crítico. Num mundo marcado pela imprevisibilidade, o mal tende a ser instrumentalizado pela lógica capitalista, materializado na sociedade de consumo, aniquilando a conexão entre os indivíduos, eliminando a solidariedade.

É preciso observar que os seres humanos não nascem iguais. Tornam-se iguais como resultado da organização humana na medida em que esta é norteada pelo princípio da justiça. Igualdades e direitos não são naturalizados pelo conceito de civilização e desenvolvimento histórico. A igualdade é uma construção que acontece a partir da convivência baseada na pluralidade dos seres humanos que compartilham a terra com outros seres humanos. Por isso, o primeiro direito é o direito a ter direitos. Significa dar a uma pessoa um lugar no mundo por meio do acesso a uma ordem jurídica e política igualitária.

O que para uns significa liberdade de expressão, para outros significa agressão. Faço questão de ressaltar este aspecto por que tenho visto muitas pessoas utilizando, sobretudo a internet, para manifestar seus piores sentimentos, suas opiniões mais bizarras, sem se importar com as palavras ou com os limites e o respeito. Trata-se de não negar a possibilidade de expressão, mas garantir que as pessoas se expressem com responsabilidade e ética.

As garantias legais para todos os cidadãos e cidadãs precisam ser protegidas. Sem o respeito aos parâmetros constitucionais o que existe é a força de um Estado duplo, um visível, e outro, operado nas sombras. Sem uma preocupação com a equidade, o resultado sempre será a completa aniquilação da harmonia entre as pessoas. É preciso reconhecer que o Brasil necessita da aplicação das leis para todos e todas, mas não precisa de movimentos que aniquilem as liberdades individuais. O Brasil precisa de mais transparência, de mais segurança, de mais garantias, mas não de leis cuja aplicação seja feita e concretizada pelo arbítrio da imprensa ou de algum salvador da pátria. Sempre é bom lembrar que a prática da injustiça é o fermento para a revolta geral.

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