quarta-feira, 17 de março de 2021

SEM LIMITES E SEM VERGONHA

A falta de limites no Brasil não nasceu da noite para o dia. É preciso um ambiente de muita perversão política para que se tome discurso de ódio por “liberdade de expressão” e promoção da desordem autoritária por exercício da democracia. É preciso compreender que existe um elemento essencial e fundante para que o ódio à democracia ganhe forma institucional: o olhar complacente do sistema judiciário, um Congresso de costas para o povo e a grande mídia papagaiando sobre as tais benesses do “livre mercado”. São esses mesmos setores que se dizem surpresos e até arrependidos quando a perversidade e o discurso do ódio vai tomando conta em episódios como de um certo deputado defendendo sandices em relação a mais alta corte de justiça do país.

Para não ser compreendido de forma equivocada, importa que sejamos capazes de perceber que, para nós, os brasileiros, se a democracia formal não é usual, o que se deveria dizer sobre as circunstâncias de uma pretensa “cultura democrática”? É certo que vamos convivendo, dia após dia, não apenas com a violência e o autoritarismo, mas, sobretudo, com discursos que tratam de normalizar a violência por parte de políticos lacaios e apresentadores de programas pinga-sangue de televisão que pregam o assassinato, a tortura e a eliminação do outro. Uma espécie de violência purificadora por meio de insultos e muita agressividade.

A crise sanitária, econômica, institucional e política na qual nos encontramos mergulhados até o pescoço, faz com que gestos de violência, intolerância e ódio - uma das características históricas da identidade Brasileira - se tornem, ainda mais letais, do que costumam ser. Se o país vai sendo forjado nesta lógica de buscar meios para matar e desorganizar o seu povo é bastante óbvio que também não venha a cogitar certos limites para tal e, por extensão, o imperativo da necessária vergonha diante de situação tão absurda vai pro brejo.

O Brasil das elites e de seus abjetos privilégios não tem qualquer embaraço ou vergonha de odiar o seus próprios irmãos e irmãs de caminhada. Se o sujeito for pobre, negro ou indígena, pior ainda. O país não perece sentir vergonha ou ter melindres em propor o fechamento de um Congresso a partir de quem, efetivamente, deveria ter o necessário discernimento para legislar. Como compreender que alguém que tenha recebido a confiança da população ao ser eleito, depois, venha com um discurso absurdo de banimento da própria instituição para a qual tenha sido escolhido? Os psiquiatras, no Brasil, definitivamente, não parecem ter vida fácil.

Este país não nunca teve vergonha em perseguir quem pensa diferente ou que ousa questionar a lógica perversa que nos constitui a séculos. Se persegue juízes, mas, não raro, há também aqueles juízes que cumprem a tarefa de perseguir. O país pouco aprende com as suas desventuras e nunca teve a vergonha que deveria sentir acerca da famigerada tortura que fez e faz parte da nossa história.

O Brasil não tem vergonha de ter um presidente que vem entregando o seu povo a própria sorte durante uma pandemia sem precedentes. O mesmo que enquanto parlamentar, por quase três décadas, inúmeras vezes, louvou torturadores dentro da Casa do Povo. O Brasil já perdeu o seu rumo, seus limites e a vergonha, faz tempo!

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